Autor: Claudionor Bezerra
Os dias que antecederam o último final de semana de maio de 2002 foram de profunda expectativa. Estava diante de mim um acontecimento que, segundo muitos, iria marcar radicalmente a minha vida. Tendo ouvido que depois de Cristo nada de melhor poderia me acontecer, estava com a impressão de que aquele final de semana seria inesquecível! E realmente foi.
Eu era um dos felizardos, na verdade, um “privilegiado” entre os demais homens, visto que possuía uma ficha que garantia a minha participação num Encontro de Jovens com Cristo promovido por uma igreja evangélica da capital paraibana.
Apesar da minha aguçada curiosidade, cuidaram de secretar tudo o que ali iria acontecer. O que fez com que as minhas impressões daqueles momentos fossem ainda mais impactantes. Talvez um outro fator que colaborou com isso tenha sido a minha atual insatisfação com alguns recentes acontecimentos no meio evangélico: a ascensão do movimento G12; o pragma-tismo arminiano e o ecumenismo nas fileiras evangélicas.
Tudo isso colaborou para as impressões angustiantes de um jovem seminarista que passo agora a narra-las:
Tive a impressão de que o cristianismo tinha se tornado simplesmente numa excelente opção atrativa. Logo ao chegar parecia que estava entrando num desses parques temáticos e recepcionado por personagens da Disney. Sem perceber já tinha começa-do o espetáculo. E lá estava eu esperando a oração inicial ou a leitura bíblica. Foi ai que me dei conta que o auditório e não a mensagem é soberana. Que os anseios do público era a “Reli-gião-Show”. Confesso que naquela hora gostaria de ter a impressão que os ouvintes de Martin Loyd Jones tinham ao entrarem na Capela de Westminster minutos antes do culto.
Tive a impressão de que a real necessidade dos homens não é espiritual, e sim social. As palestras quase me convenceram a crer na Teoria da Influência Mo-ral de Abelardo (1079-1142), ou no Evangelho Social do séc. XIX. Isso porque encontrar-se com Cristo parecia um sinônimo de ser um bom filho, dizer não aos narcóticos, ser contido na vida sexual e crer que Deus existe e que Ele é amor. Não percebi nenhuma alusão que há necessidade avassaladora que trás conseqüências a todas as áreas da vida do homem é o novo nascimento. É crer no filho para livrar-se da ira vindoura. É dizer em alto e bom som: “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna, mas aquele que não crê no Filho não verá a vida; mas a ira de Deus permanece sobre ele.” (Jo.3.36)
Tive a impressão de que arrependimento não significa confessar e abandonar o “pecado”. Aliás, não lembro de ter ouvido essa palavra. Mas, afinal de contas, ninguém gostaria de estragar a festa! Arrependimento implica em tristeza, lágrimas e me-ditação profunda. Mas, pra isso existe a bandinha, as músicas e outras parafernalhas, para que ninguém fique triste, no máximo, algumas lágrimas com um ou outro testemunho, dessas histórias que fazem a gente chorar. Mas a alegria deve dominar o ambiente, até porque “a alegria está no coração de quem já conhece Jesus”. Como isso torna banal o tempo gasto por homens piedosos no passado em longas orações confessionais. Ora, bastava alguns momentos de “deserto”, uma fogueira para queimar o papeizinhos com pecados escritos e… pimba! Já estamos perdoados! Talvez tenha sido por causa de sua profunda experiência espiritual que o mon-ge alemão Martinho Lutero pregou contra a venda de perdão de pecados de João Tetzel, ele sabia que “o justo viverá pela fé”.
Tive a impressão de que eu não sou tão ruim assim, lá no fundo há um homem bom dentro de mim. E ai o que eu precisava fazer era deixar esse homem bom se manifestar. E que o propósito da evangelização e simplesmente “igrejar” os “desigrejados”. Foi quando percebi a injustiça da Igreja Antiga em punir o bispo Pelágio dando ouvidos as doutrinas agostinianas, ou ainda, como Finney e não Jonathan Edwards estava com a razão em dizer que os homens precisam ter seus sentimentos religiosos despertados. Essa impres-são também me angustiou, porque não confirmam as palavras do Cristo que eu haveria de encontrar: “Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfemas”.
Tive a impressão que a aplicação da obra da redenção no coração do homem era um ato da ‘toda-poderosa’ vontade humana. Quando pensava que já tinha acabado ouvi alguém dizer: “Vocês ainda não viram nada”. Suspirei e me preparei, aquele seria o golpe de misericórdia, e lá estava eu num corredor de velas indo ao encontro desse momento fantástico. O cenário estava pronto, as pessoas aguardavam de pé ansiosas, só espe-rando ela, a “toda-poderosa” vontade humana dizer: sim, eu aceito Jesus! Já não pude me conter, as palmas enchiam a cerimônia de coroação do arminianismo. Pensei comigo: “E a Re-forma Protestante na Alemanha onde foi alardeada a “escravidão da vontade humama”? Será que ninguém nunca ouviu falar no reformador João Calvino e a ênfase na soberania de Deus? E a seriedade na evangelização das denominações históricas que surgiram dos pais puritanos na Inglaterra…? Foi nesse momento que me recordei do 13º apóstolo instruindo a um jovem como eu: “Nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos”. (2Tm.3.1)
Por fim, antes de ir embora desse inesquecível final de semana, tive uma grata surpresa, uma feliz impressão. Tudo aquilo não passava de uma grande brincadeira ecumênica. Visto que entre os figurantes estavam católicos, espíritas, cristãos nominais, e … pasmen! Até um ateu. Entendi então que aquele não poderia ter sido um encontro com Cristo, mas as minhas impressões atestam que eu me encontrei com a realidade nua e crua do evangelicalismo brasileiro que delineia um evangelho onde “Deus pesa pouca demais sobre a igreja… onde sua verdade está distante demais, sua graça comum demais, seu juízo manso de-mais, seu evangelho fácil demais e seu Cristo simples demais.”( WELLS, David F).
O autor é Pastor auxiliar da 1ª Igreja Evangélica Congrega-cional em Santa Cruz do Capibaribe – PE
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