Igreja Reformada sempre-se reformando

Autor: Ashbell Simonton Rédua




"Aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos" Habacuque 3:1
Analisando a Igreja de hoje percebi que ela está enfrentando duas grandes crises: Crise doutrinária e crise moral-espiritual. Ela está, como o apóstolo já previa, apostatando da verdadeira fé (I Timóteo 4:1). Vamos ver porque.
Crise Doutrinária: Existem muitas heresias penetrando a Igreja. Muitas dessas heresias vêm da parte dos chamados neo-pentecostais, que são o maior grupo evangélico do país, e têm muitos canais de televisão, onde propagam suas doutrinas estranhas, mais centradas no poder do homem que no poder de Deus. Uma delas é a famosa doutrina da determinação;. Segundo esse ensino, Deus é uma espécie de gênio da lâmpada, que está na Igreja  somente para realizar os nossos pedidos. A maioria dos cristãos; dessas igrejas estão lá para pedirem, e
 pedirem não bens espirituais, mas materiais. A adoração passou para 2º plano, Deus já não é mais adorado em espírito e em verdade; (João 4:24), mas as pessoas somente determinam; que querem tal coisa, e Deus tem que dar de qualquer jeito.
Essas heresias estão invadindo até as igrejas em geral. Quebra de maldição, prosperidade, determinação, são palavras que estão entrando no vocabulário de muitas denominações. O chamado Evangelho de Prosperidade está conquistando muitas pessoas e muitas igrejas. Mas será esse o evangelho de Cristo?
O conhecimento bíblico na Igreja vem abaixando cada vez mais. As pessoas não querem saber mais de Bíblia. Se você pregar para esses cristãos que Maria pode curar também, pode ter certeza que quase toda a cristandade evangélica irá buscar apoio em Maria, pois não tem conhecimento bíblico, só querem milagres e prosperidade. Seu conhecimento é superficial, não tem nenhuma profundidade.
Hoje a Igreja não quer mais pregar a mensagem da cruz. Isso está fora de moda. Não queremos mais Bíblia na Igreja, queremos shows e mais shows. O negócio é a religião show! Bíblia, oração, jejum, adoração, amor ao próximo, evangelismo, tudo isto está ultrapassado. É uma pena, o diabo está conseguindo arrebanhar milhares!
Crise moral-espiritual: Por falta de conhecimento bíblico, a moral e a espiritualidade caiu no descaso dentro da Igreja. Veja as famílias evangélicas, veja se podem ser chamadas de famílias cristãs. Não há mais os cultos familiares, isso é perda de tempo. O negócio é televisão, a novela das sete, o teste de DNA! Os cultos familiares são muito cansativos, e por causa deles podemos perder o novo filme do Mel Gibson não é mesmo? Ou o campeonato brasileiro?
Conversas obscenas, palavrões, coisas desse tipo são muito comum em lares evangélicos. Deus já não ocupa mais o 1º lugar da família. Divertimentos mundanos, desejos carnais, esses são os novos deuses de muitas famílias cristãs. A Bíblia já não é mais O LIVRO, é apenas UM LIVRO.
As visitas foram esquecidas. A Escola Bíblica Dominical foi abandonada. Estudos Bíblicos já não são mais realizados, pois ninguém quer saber mais disso. E evangelizar de casa em casa, será que fazemos isso? Não, não fazemos mais. Temos as Testemunhas de Jeová, que nem são cristãos, mas mesmo assim dão a nós o exemplo. Mas nós ficamos confinados somente ao templo, achando que assim conseguiremos ganhar almas. Não, se a montanha não vem à Igreja, a Igreja vai à montanha!
E a juventude evangélica, como está? Indo de mal a pior. O que a juventude quer é cantar, tocar, louvar. Mas será que querem pregar? Não, isso eles não querem não. Bíblia debaixo do braço não combina com a moda atual. Pregar nas praças? Hum, não, isso é coisa de fanáticos! E falar do amor de Deus para um colega de escola? Também não é legal não, acho que indicar o novo CD do Oficina G3 é melhor! Precisamos mudar, e mudar muito.
Entre os pentecostais é comum achar que falar em línguas é sinônimo de espiritualidade. Ter dons espirituais, é sinônimo de santidade. Mas será isso verdade? Até na igreja de Corinto as pessoas tinham dons espirituais, mas elas eram carnais! O homem espiritual não é o que tem dons espirituais, mas aquele que produz frutos espirituais (Gálatas 5:22-23)! É disso que os cristãos precisam atualmente.

Nova Reforma
A Igreja precisa de uma nova Reforma, de um avivamento. Quando se fala em avivamento as pessoas vão logo pensando numa igreja poderosa, cheia do Espírito, onde acontecem muitos milagres, curas, etc. Tudo bem, o avivamento traz todas essas coisas, mas não começa por elas. O verdadeiro avivamento começa quando a Igreja volta à verdade pregada pelos apóstolos, e que se encontra na Bíblia. O avivamento vem pela Palavra! Quando a Igreja volta à pregação da Palavra, volta ao ensino das Escrituras, então o avivamento acontece. Um exemplo é a Reforma Protestante, que foi um verdadeiro avivamento na Igreja cristã, tendo início quando o monge Martinho Lutero redescobriu as verdades bíblicas. Hoje precisamos de algo parecido, precisamos redescobrir as verdadeiras doutrinas apostólicas, e deixar de lado todo esse besterol trazido pelos neo-pentecostais e outros grupos que se dizem cristãos. Quando fizermos isso, então teremos uma Igreja forte, com cristãos verdadeiros, soldados armados com a Espada do Espírito (Bíblia). Aí sim veremos Deus operar como nos dias apostólicos, teremos uma Igreja cheia do Espírito, pois onde a Palavra de Deus é pregada de verdade, aí também se encontra aquele que é a Verdade (Jesus).

A Reforma que precisamos
Baseados nos princípios reformadores do Sec XVI, reformar é voltar ao passado, aonde erramos, aonde desviamos, e retornar ao caminho original. Portanto hoje, mais do que nunca, necessitamos de reforma. “Aquele discernimento profundo, aquela penetração vasta, característica da Reforma, está desdenhada em quase todas as denominações maiores. Lutero, Calvino, Knox e Cranmer, dificilmente reconheceriam hoje as igrejas que a atividade reformadora deles devem sua existência”.[1]
1.1 Sola gratia (somente pela graça) – este princípio é à “absoluta supremacia da graça de Cristo. Pôr este princípio se afirma a justificação pela fé somente. O que salva o homem é Cristo ao qual o crente está unido pela fé. As boas obras vem como conseqüência lógica da união com Cristo pela fé”.[2]
1.2 Solus Chistus (Cristo somente) – pôr este princípio afirma a supremacia de Cristo. Ele é o único mediador entre Deus e os homens. Não outro ser, tanto no céu como na terra que possa fazer essa mediação a não ser Jesus Cristo. Ele é o único, Senhor e Deus de toda a existência, criador dos céus e da terra, ao qual dobrará perante Ele todos os povos, raças e línguas. Com este princípio, toda a e qualquer confissão é dirigida a Deus pôr meio de Jesus Cristo.
1.3 Sola Scriptura (a Escritura somente) –  “princípio formal ou subjetivo, a absoluta supremacia da Palavra de Cristo. Pôr este princípio se afirma que as Escrituras Sagradas, os 6 livros canônicos, são a ÚNICA regra de fé e prática”.[3]
1.4 Sola fide (somente pela fé) – pôr este princípio a justificação é somente pela fé. A salvação do homem é pela fé no filho de Deus, Jesus Cristo, as boas obras serão conseqüências desse relacionamento salvívico. Com este princípio todo o movimento de obras meritórias deixa de existir. Não são as boas obras de salvam, mas Cristo, e somente Ele tem o poder de Salvar.
Ao analisarmos todas as confissões surgidas na época da reforma, poderemos observar que cada uma delas apresentam estes princípios: a Confissão de Augsburgo, A Confissão de Westminster, o Catecismo de Heldelberg, a Confissão Galicana, a Confissão Belga, a Confissão Escocesa e os Cânones de Dort. O importante é observamos que cada uma sentia liberdade para sustentar as opiniões que quisesse, em torno dos assuntos doutrinários, contudo sem fugir dos princípios da Reforma.
A partir de 1970, tornou-se comum  o espírito de indiferença a todas as doutrinas em torno da religião. Cada um levantando sua bandeira, e colocando-se superior a todos. “Uma onda de daltonismo teológico parece varrer o país. A mente de  muitos parece completamente incapaz de distinguir qualquer diferença entre uma fé e outra, entre um credo e outro, entre um dogma e outro, entre uma opinião e outra, entre um pensamento e outro pensamento, ainda que sejam vários e discordantes, heterogêneos, opostos entre si e reciprocamente destrutivos. Tudo sem dúvida, é verídico, e nada é falso; tudo é certo e nada é errado, tudo é bom e nada é ruim, se nos aparece debaixo da roupagem da religião e em seu nome. A ninguém se permite indagar, onde em tudo isso fica a divina verdade? Mas…, é liberal, generoso, afável?”[4]
Para Calvino, a igreja é uma realidade espiritual, que só pode ser vista pela fé. A igreja é o corpo místico de Cristo. Apesar da igreja apresentar-se a nós sob dois aspectos de todo distintos, um dos quais é objeto de fé e o outro, objeto de experiência ou, se o quiserem, um deles representando a Igreja como Deus a vê, e o outro como aparece a nós, daí não se segue que existem duas igrejas, Calvino conhece apenas uma, destacada pelo fato de ter a Jesus Cristo como seu Cabeça e estar a Seu serviço. Calvino, em particular, sempre dava muita ênfase ao aspecto visível da igreja. Para ele a Igreja “real” não era alguma realidade platônica a flutuar algures acima da igreja como nós a vemos aqui na terra. No seu pensamento, a Igreja invisível quanto à natureza espiritual, é ao mesmo tempo visível na comunidade terrena em que a Palavra de Deus é pregada e os sacramentos são ministrados.[5]
Estamos perdendo a nossa herança. Lamentavelmente esta é uma verdade. Os crentes não estudam mais a Bíblia como deveria estudar, não buscam as soluções de suas vidas, na nossa única regra de fé e prática. Geralmente quando estamos com qualquer problema, mergulhamos em vários livros psicológicos ou outros que nos auto-ajuda, e nunca nas Escrituras Sacradas. Existe também falta de conhecimento dos dogmas da igreja, a razão porque somos presbiterianos. Infelizmente muitas falam mal da Igreja, sem conhecimento de causa. Pôr não conhecerem a igreja, sua história, leis, doutrinas, não podem amar a igreja e trabalhar a favor dela. O meu sonho é ver cada vez mais esta igreja firmada na doutrina bíblica, conhecedora de sua história, e não sair pôr aí, sendo influenciado pôr qualquer vento de doutrina.
“Precisamos descobrir a indispensabilidade do dogma sobre a igreja…os Reformadores sempre deram prioridade à verdade. Tinham uma crença apaixonada na verdade e estavam prontos a sacrificar agradáveis ilusões e preconceitos tradicionais pôr amor a ela. Estavam determinados a deixar que a verdade se lhes declarasse, a verdade toda e nada senão a verdade, mesmo que ela a eles mesmo condenasse. Esta redescoberta da verdade, como vem proclamada na Escritura e formulada no dogma sobre a igreja envolverá muito estudo e esforço. Mas certamente valerá a pena! Aliás, é uma necessidade da qual não se pode fugir. Somente se tivermos um conhecimento seguro da verdade de Deus (note-se bem, de Deus, e não nossa versão dela!). Podemos conseguir uma verdadeira reforma na igreja.”[6]
A Igreja precisa de reforma, para que reformando-se continue a ser o que é: fiel a Jesus Cristo.
De tudo o que até  agora escrevemos, conclui-se que a reforma da igreja não é um elemento excepcional, ou transitório, ou acessório ao governo da igreja, mas sim, um programa a ser efetivado nos mais variados setores, que se aprofunda no espírito conciliar diante das exigências e das necessidades do mundo contemporâneo.

1 REFORMA NA PREGAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS 
Diante de um mundo necessitado e da ordem de Jesus Cristo para a grande colheita, precisamos reconhecer que é tempo de crescer, de melhorar e de progredir no que diz respeito, principalmente ao ministério da pregação.
O ministério da pregação é a mais elevada e mais gloriosa vocação para o qual somos chamados. Mas pregar o evangelho não é fácil, pois isto exige de cada um de nós, tempo, nervos, paciência, pesquisa, seriedade, compromisso e vida exemplar. É pôr isso que carecemos na atualidade de uma reforma na nossa maneira de pregar, isto é, de uma reforma na pregação da Palavra de Deus.
A pregação contextualizada não é inovação ou animação de púlpito, mas sim, a transposição da Palavra de Deus, na solução dos problemas atuais, levando o homem de hoje ao arrependimento e a crença em Jesus Cristo.
A pregação da Palavra de Deus é o ponto crucial para o crescimento da Igreja. Jesus veio ao mundo pregando, e os apóstolos deram prioridade à oração e a pregação da Palavra. Paulo exortou a Timóteo que pregasse a Palavra de Deus em qualquer tempo (II Tm 4:2).
Hoje mais do que nunca, precisamos voltar também aos princípios da Reforma, na exposição da Palavra de Deus. Infelizmente os organogramas, os trabalhos conciliares, os trabalhos seculares, as comissões eclesiásticas, tem desviado dos púlpitos das igrejas, as mensagens poderosas que enaman de Deus, da Sua própria liberdade e do Seu poder transformador, pois é pela pregação que vem a fé (Rm 10:17).
Unidade: A Igreja mais do que nunca tem que buscar a unidade. Não digo unidade dentro de uma denominação somente, mas unidade entre as denominações. A Igreja evangélica tem que ser mais unida, não só em espírito como dizem, mas também em doutrinas, pois; andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo? (Amós 3:3).
Estudos Bíblicos : A Igreja tem que promover mais estudos bíblicos, incentivar os membros a lerem e estudar a Bíblia constantemente, tudo de uma forma sistemática.
Culto Familiar: A Igreja tem que incentivar a prática do culto familiar. Ele tem que voltar a ser um elemento fundamental nas famílias cristãs, o que deixou de ser há muito tempo!
Evangelismo de casa em casa: A Igreja tem que criar vergonha na cara e seguir o exemplo e  pregar o evangelho de casa em casa, como faziam os apóstolos. Se queremos crescimento na Igreja, não só em quantidade mas também em qualidade, temos que promover evangelismos todas as semanas.
Abandono das inovações: A Igreja tem que tomar cuidado com as inovações promovidas por muitas denominações, e abandonar as práticas anti-bíblicas. Isso não quer dizer que tudo o que é novo seja anti-bíblico, mas todas as inovações devem ser vistas com olhos críticos, para não acontecer de termos na Igreja coisas estranhas à Bíblia.
Irmãos, vamos juntos promover uma nova Reforma na Igreja, um grande avivamento. Voltemos à pregação da Palavra, voltemos à mensagem da cruz. Deixemos as inovações, deixemos o outro evangelho; (Gálatas 1:8,9) que é o Evangelho de Prosperidade, e voltemos à pregação do evangelho de Cristo (Marcos 16:15). Voltemos à doutrina dos apóstolos (Atos 2:42) e deixemos os falsos profetas com seus falsos ensinos.
Vamos reformar a Igreja!

[1 Runia, op., cit., pp. 12.
[2] Braga, Ludgero – MANUAL DOS CATECÚMENOS (Esboço de Teologia Cristã), 5ª edição, Casa Editora Presbiteriana, São Paulo, 1983, pg. 29.
[3] Braga, op. cit., pp. 29.
[4]Runia, op. cit, pp. 14.
[5]Runia, utiliza aqui, o comentário de François Wendel sobre o pensamento de Calvino em relação a Igreja, este assunto está bem debatido na sua obra, portanto é bom lembrarmos que na Institutas da Religião Cristã, de Calvino, está registrado o seu pensamento: “Onde quer que a Palavra de Deus for pregada em sua pureza e for ouvida, e os sacramentos ministrados de acordo com a instituição de Cristo, aí, não se deve duvidar, existe uma igreja de Deus (cf Ef.2:20). Porque a promessa não pode falhar: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estou no meio deles (Mat 18:20) (Institutas IV,i,9). Assim de acordo com este ponto de vista, ele emprega o termo “mãe”com referência à igreja. “Porque não há outro meio de entrar na vida se esta mãe não nos conceber em seu ventre, não nos der à luz, não nos alimentar nos seus seios e, pôr fim, se ela não nos guardar sob seu cuidado e direção até que, despojando-nos da carne mortal, tornemo-nos como os anjos (Mat 22:30) (Institutas IV, I. 4). Runia, op. cit., pp. 38-39.
[6]Runia, op. cit., pp. 43.


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