Finéias: a memória do justo é abençoada

Autor: Dennis Allan

Provérbios 10:6-7 diz: “Sobre a cabeça do justo há bênçãos, mas na boca dos perversos mora a violência. A memória do justo é abençoada, mas o nome dos perversos cai em podridão.” Encontramos muitas ilustrações destes princípios, tanto na Bíblia como na experiência da nossa própria vida. Uma família que mostra bem a veracidade desta afirmação é a de Arão, o primeiro sumo sacerdote de Israel. Êxodo 6:23 diz que Arão teve quatro filhos: Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar. Nadabe é mencionado 12 vezes nas Escrituras, quase a metade delas em termos negativos. Abiú, também, aparece 12 vezes. Itamar é citado 20 vezes. Mas Eleazar aparece 63 vezes na Bíblia. Por que um dos irmãos é destacado tanto, enquanto outros são quase esquecidos? A história da família responde a pergunta e ilustra os princípios acima citados.
Nadabe e Abiú: “O nome dos perversos cai em podridão”
Arão e seus quatro filhos foram consagrados para serem os primeiros sacerdotes em Israel (Levítico 8). Como sumo sacerdote, Arão fez sacrifícios para purificar estes servos antes de começarem a representar o povo diante de Deus (Levítico 9). Depois do processo de consagração, chegou o grande dia. Arão, Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar se prepararam para entrar no tabernáculo como sacerdotes, intermediários entre o povo de Israel e o Criador do mundo. Estava tudo perfeito. Eles estudaram as seqüências dos ritos a serem realizados, vestiram-se todas as roupas certas e pegaram seus incensários e colocaram incenso especial para Deus. Mas, quando entraram na presença de Deus, ele matou os dois primeiros filhos de Arão. Nadabe e Abiú caíram no chão do tabernáculo. Foi a primeira vez que eles entraram para servir no tabernáculo, e Deus os rejeitou. Por quê? Eles cometeram um erro que mostrou falta de respeito pela palavra e a santidade de Deus. Apesar de serem os dois filhos mais velhos de Arão (Números 3:2), não ocupam lugares de proeminência na história do povo de Israel. Depois desse erro fatal, são lembrados por causa do pecado (Números 3:4; 26:61). Morreram sem filhos e sumiram da linhagem aarônica (1 Crônicas 24:1-2). “O nome dos perversos cai em podridão.”

Finéias: “A memória do justo é abençoada”
Para entender a diferença entre as linhagens dos primeiros dois filhos de Arão e a de Eleazar, consideraremos a vida do filho de Eleazar, Finéias. Três episódios na vida deste homem ilustram bem as qualidades de um homem justo.
Justo para castigar os malfeitores (Números 25). Quando Moisés conduziu o povo para a terra prometida, eles enfrentaram vários inimigos. Reis de vários povos, até o gigante Ogue, rei de Basã, caíram diante dos israelitas. Balaque, o rei dos moabitas e midianitas, usou táticas diferentes para se proteger contra Israel. Ele chamou um profeta, Balaão, e pediu que ele amaldiçoasse o povo de Deus (leia o relato em Números 22-24). Cada vez que Balaão tentou amaldiçoar Israel, bênçãos saíram da boca dele. Não conseguindo vencer o povo de Deus com suas palavras, o falso profeta deu outra sugestão. Seguindo a palavra de Balaão, os moabitas fizeram uma festa e convidaram o povo de Israel. Nessa festa, eles praticaram idolatria e imoralidade, e alguns israelitas tropeçaram e participaram dessas impurezas.
Deus se irou contra Israel. Através de Moisés, ele mandou que os líderes responsáveis por tais atos de rebeldia fossem mortos. Ele também mandou uma praga, e os israelitas começaram a morrer. Apesar da reprovação por Deus, Zinri, filho de um dos príncipes de Simeão, entrou no acampamento, na presença de todos, com uma midianita. A mulher, Cosbi, era filha de um líder dos midianitas. Zinri a levou para sua tenda e ousadamente entrou nela com a mulher idólatra.
Finéias, filho de Eleazar, reagiu. Ele pegou uma lança e entrou na tenda atrás do casal e matou os dois. Deus ficou tão contente com a justiça de Finéias que a praga cessou. Já tinham morrido 24.000 pessoas por causa da imoralidade e idolatria do povo.
Assim, Finéias salvou a nação e validou a posição de sua família no sacerdócio. Centenas de anos depois, ele foi lembrado como um homem justo (Salmo 106:30-31). Podemos achar a reação de Finéias extrema, mas Deus a aceitou. Embora não cabe a nós matar ninguém hoje (Romanos 12:19), não devemos deixar de nos opor e até castigar os pecadores. Finéias não se preocupou com a posição de Zinri ou a de Cosbi. Eram pecadores se rebelando contra a vontade de Deus, e ele os castigou. De semelhante modo, o evangelho pode causar divisões de famílias (Mateus 10:34-38). Os servos de Deus terão que rejeitar os irmãos que voltam ao pecado (1 Coríntios 5:3-7,11-13). Homens justos, como Finéias, têm coragem de pelejar contra o pecado, usando as armas espirituais que Deus nos dá (2 Coríntios 10:3-6; Efésios 6:11-17).
Justo para ouvir antes de agir (Josué 22). Alguns anos passaram. Durante esse tempo, Moisés morreu e Josué conduziu o povo na conquista da terra prometida. Quando as guerras terminaram, Josué dividiu a terra entre as tribos. Duas tribos e meia já tinham pedido a terra da Transjordânia (além do Jordão), e Josué as deixou voltar para sua herança. Quando estas tribos (Rúben, Gade e a meia tribo de Manassés) atravessaram o rio Jordão, eles erigiram um altar igual ao altar de holocaustos usado pelos sacerdotes. O povo de Israel ficou muito perturbado e se preparou para a guerra contra esses irmãos.
O problema foi simples. Deus autorizou sacrifícios (holocaustos e ofertas) em um lugar só. Se essas tribos começassem a fazer sacrifícios em outro lugar, Deus não aprovaria. Antes de entrar no campo de batalha, Israel enviou onze homens para falar com as tribos da Transjordânia. Finéias foi com os dez príncipes das tribos do lado ocidente do rio Jordão.
Finéias expressou bem as preocupações das tribos do oeste. Ele citou o erro na festa dos moabitas e falou do pecado de Acã na batalha de Jericó. Ofereceu lugar para as tribos de Rúben, Gade e Manasssés entre as outras tribos. Implorou que eles não cometessem pecado contra Deus. Depois de falar, Finéias mostrou uma qualidade essencial do justo: ele parou para ouvir a resposta. Muitas contendas poderiam ser evitadas se todos nós tivéssemos a mesma paciência e justiça que Finéias demonstrou. Infelizmente, muitos fazem acusações contra outros e não se preocupam em ouvir suas respostas.
Justo para procurar a palavra de Deus (Juízes 20). Os últimos capítulos do livro de Juízes contam duas histórias mostrando a iniqüidade típica da época. A segunda dessas histórias (capítulos 19-21) aconteceu logo no início do período dos juízes, durante o sacerdócio de Finéias. Num ambiente de desrespeito à palavra de Deus, um crime horrendo foi cometido na cidade benjamita de Gibeá. Uma mulher foi estuprada por um grupo de homens e morta nas ruas da cidade. O povo de Israel ficou revoltado, e 400.000 soldados se reuniram para castigar os criminosos.
Quando o exército chegou à cidade de Gibeá, eles pediram que os culpados fossem entregues para serem executados. Neste momento, os benjamitas erraram. Ao invés de condenar o pecado de alguns irmãos da tribo deles, eles decidiram apoiar os malfeitores. Nisso, os benjamitas mostraram uma tendência comum mas perigosa. Naturalmente, sentimos a vontade de apoiar e defender familiares, parentes e amigos. Quando fazem o bem, devemos apoiá-los. Mas, quando pecam contra Deus, devemos ser justos para proclamar e aplicar a palavra dele. Os benjamitas se tornaram cúmplices dos pecadores, e, logo depois, sofreram a conseqüência deste erro.
A guerra começou. Os israelitas (todas as tribos menos Benjamim) perguntaram para Deus e atacaram Gibeá. No primeiro dia, 22.000 soldados israelitas morreram. Voltaram para o acampamento confusos. Se os benjamitas pecaram, por que tantos mortos entre os israelitas? Perguntaram para Deus de novo, e saíram a pelejar no segundo dia. Mais 18.000 israelitas morreram. Em dois dias, 10% do exército de Israel foi destruído. Por quê? Quando estudamos o contexto, percebemos que Deus estava irado com a nação inteira. Sim, o crime maior foi cometido em Benjamim, mas as outras tribos, também, tinham se corrompido com séculos de iniqüidade.
Depois do segundo dia Finéias apareceu na história. Servindo como sumo sacerdote, ele perguntou para Deus sobre o dia seguinte. Deveriam subir de novo à batalha, ou não? Deus falou que sim, e disse que os benjamitas seriam entregues nas mãos dos israelitas no terceiro dia (20:27-28). Aqui, observamos mais uma qualidade importante do homem justo: ele procura conhecer a palavra de Deus antes de agir.

Aplicações: A justiça em nossas vidas
Finéias, e outros homens e mulheres justos, servem de exemplos para nós. Nossas situações não são exatamente as mesmas, mas os desafios do nosso dia-a-dia envolvem as mesmas questões de justiça. Devemos refletir bem nos ensinamentos de Deus, e nos exemplos de tais pessoas, para sabermos como agir. Considere algumas aplicações:
Temos que obedecer a Deus antes de tudo. Deus é mais importante do que amizades, relações familiares, etc. (Mateus 10:34-39).
Quando o povo de Deus se envolve no pecado, o pecado se infiltra na própria igreja (1 Coríntios 15:33).
Enquanto não se resolve o problema de pecado no meio da igreja, ela vai morrendo aos poucos (1 Coríntios 5:6-8).
Deus quer homens de coragem, que se levantarão para tirar o pecado do meio dos cristãos (1 Coríntios 5:2-5).
Deus quer, também, homens de sabedoria que ouvirão antes de agir (Tiago 1:19).
‘Para sermos pessoas justas, temos que nos equipar com a palavra de Deus antes de agir (Efésios 6:10-18; 2 Timóteo 2:15; 1 Pedro 3:15).

E seu nome?
Os nomes de Nadabe e Abiu caíram em podridão, mas a memória de Finéias foi abençoada. E seu nome? Fama mundana não tem importância, mas há um livro onde importa encontrar os nossos nomes (veja Filipenses 4:3; Apocalipse 3:5). Vamos nos esforçar para sermos pessoas justas, cujos nomes serão encontrados no livro da vida!

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