Autor: Frei Betto
Feliz Ano Novo aos que tiveram perdas no ano velho e ainda assim recolhem pedras em suas aljavas. Aos colecionadores de afetos que jamais permitem que suas lagartas se transmutem em borboletas.
Feliz Ano Novo aos que asfixiam a criança dentro de si e aos que se fantasiam de palhaço para camuflar tristezas. Aos que gastam a vida contando dinheiro, sempre em débito com a amor. Aos que acumulam bens e desperdiçam virtudes, juntam poder e semeiam mágoas, galgam a fama e pisam em sentimentos.
Feliz Ano Novo aos sonegadores de esperanças e aos que crêem apenas nos valores da Bolsa. Aos mancos de bondade, cegos de utopias, ébrios de ambições e medrosos perante a ousadia de viver. Aos que têm asas e não sabem voar, são águias e ciscam como galinhas, guardam em si um tigre e miam como gatos.
Feliz Ano Novo aos que exibem no pedestal de sua mente o próprio corpo, jejuam por razões estéticas e mendigam aos olhos alheios a moeda falsa da admiração convencional. Aos que ficam inebriados diante da paisagem televisiva e, como Carolina, vêem o mundo passar na janela eletrônica.
Feliz Ano Novo aos cercam suas almas com arame farpado, abrem com foices seus caminhos na vida e, ainda assim, não sabem que rumo tomar. Aos que traçam labirintos em seus mapas imaginários, enfeitam a vida com buquês de impropérios e rasgam o ventre da água com os seixos adormecidos no leito de seus pesadelos.
Feliz Ano Novo a todos os infelizes que fazem de suas vidas Luas minguantes e se vestem com o escafandro de seus temores, afogados no sal de um oceano ressecado. Novos lhes sejam o ano, a vida e o espírito, revertidos e revestidos de ensolaradas esperanças.
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