Fariseus da adoração!

Autor: Ramon Tessmann

Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim. Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homem. (Mateus 15.8,9
 
Os fariseus de hoje
 
Os fariseus não são uma lenda da Antigüidade ou personagens fictícios da cultura hebréia. Atualmente, nossas igrejas, templos e círculos cristãos estão cheios “deles”. São homens e mulheres com um profundo conhecimento sobre as Escrituras Sagradas, são pessoas cheias de explanações teológicas, teorias, possuem um belíssimo e formal linguajar, no entanto, não conhecem o glorioso Deus intimamente e não conseguem prestar a ele uma adoração verdadeira.
 
No tempo de Jesus, os fariseus exerciam enorme e espantosa influência sobre o povo judeu. Eles insistiam no cumprimento rigoroso da lei e das tradições hebréias. Também costumavam executar práticas minuciosas e cheias de detalhes, mas não compreendiam a essência da lei. Uma certa feita, João Batista os chamou de raça de víboras (vide Mateus 3.7). Também foram denunciados abertamente por Cristo (Mateus 5.20). Foi aos fariseus a quem Jesus se dirigiu no versículo citado no início deste capítulo. Não obstante seus lábios estarem cheios de louvor e honras, seus corações estavam distantes de Deus.
 
O amado leitor deve estar se questionando porque eu iniciei este estudo falando a respeito dos fariseus, ou deve estar querendo entender a relação existente entre os fariseus e a verdadeira adoração, o tema central deste estudo. A resposta para tais dúvidas é evidente: se anelamos realmente trilhar o árduo caminho da verdadeira adoração, devemos deixar de ser os “fariseus” de nossos dias! Se ansiamos alçar a Deus um louvor que o agrada, devemos deixar de perpetrar as mesmas falhas que a classe farisaica cometia, e dar maior valor às exortações e condenações de Jesus, expostas nos livros de Mateus, Marcos e Lucas.
 
A respeito da expressão “… em vão me adoram”, proferida pelo Senhor Jesus em Mt 15.8,9, o estudioso R.N. Champlin tece interessantes comentários:
 
Essas palavras têm recebido diversas interpretações: 1. Não tinha fruto a adoração daqueles homens, isto é, não havia resultado nem fundamento legítimo. 2. Sua adoração era vazia, pois, embora fosse aprovada pelos homens, não gozava da aprovação de Deus. Por isso é que jamais produziu fruto verdadeiro.
 
Nos tempos de Cristo, os fariseus apresentavam uma adoração que não agradava a Deus simplesmente porque era falsa, cínica e hipócrita. Ao invés de oferecer sinceramente um coração contrito, humilde e sincero a Deus, eles conseguiam se esconder perfeitamente sob a máscara da adoração. Através dos relatos bíblicos podemos perceber facilmente que os fariseus estavam muito distantes dos ensinamentos de Jesus a respeito da adoração verdadeira. Os escritores dos livros de Mateus, Marcos e Lucas tornam esta verdade bastante evidente.
 
Querido leitor, neste momento preciso perguntar-lhe algo: Você deseja realmente ser um verdadeiro adorador? Você está realmente em busca do louvor que agrada a Deus? Creio que você respondeu positivamente! Então te digo que o caminho já começou, não é hora do olhar para trás. É necessário pagar um preço e sei que você estará disposto a pagar. Tenho certeza que você sofrerá um pouco ao ler os próximos artigos que vou escrever, mas continue firme e atente para cada verdade ensinada! Deus procura por verdadeiros adoradores, lute arduamente para se tornar um deles!
 
Se há uma terrível transgressão que fazia parte da vida de um fariseu esta era o orgulho. A vida de um fariseu normal era caracterizada pela altivez e soberba, principalmente no que tangia à religião. Estudiosos acreditam que os rabinos se instruíam a agradecer a Deus por não terem sido criados como um gentio, um plebeu ou uma mulher. Eles eram gratos a Deus por pertencerem à uma classe “superior” de pessoas. Uma das parábolas do livro de Lucas torna esta idéia mais evidente:
 
O fariseu, de pé, assim orava consigo mesmo: ó Deus, graças te dou que não sou como os demais homens, roubadores, injustos, adúlteros, nem ainda com este publicano. (Lucas 18.11)
 
Indubitavelmente, a falta de modéstia ou insuficiência de coragem dos fariseus para assumir seus pecados publicamente, fazia deles falsos adoradores. No texto acima vimos que o fariseu simulou qualidades de personalidade, julgando a si mesmo alguém de elevado nível espiritual. É muito provável que os fariseus se autodenominavam seres quase perfeitos, intocáveis e superiores aos demais.
 
Os cristãos de hoje devem cuidar para não perpetrar tal transgressão. Confesso que em muitas ocasiões já senti orgulho e vergonha de declarar diante das pessoas que sou pecador e de reconhecer que também erro. Ser dirigente de louvor e servir em cima de uma plataforma por alguns anos me fez esquecer que sou imperfeito, cheio de falhas. Em quase todas as igrejas, existem pastores e líderes que têm caído com freqüência nesta armadilha. Eles não querem ferir sua reputação e passam a imagem de homens perfeitos aos seus discípulos, com o medo de que suas fachadas espirituais sejam desgastadas. Chegam ao cúmulo de não reconhecer perante o povo que são totalmente dependentes de Deus, devido ao seu horrendo orgulho e soberba.
 
Segundo os nossos dicionários bíblicos, a hipocrisia consiste em fingir alguém ser aquilo que não é como se estivesse representando ser melhor do que, na realidade, o é. Essa é a base do falso orgulho. Alguém gostaria de ser algo significativo. Não sendo isso, o indivíduo apresenta ao público uma fachada de bondade que é falsa ou exagerada. Os sinônimos são a dissimulação, o farisaísmo, o fingimento e a falsa pretensão. O ludíbrio sempre faz parte da vida ou dos atos hipócritas[1].
 
Como vimos acima, o orgulho está sutilmente ligado à hipocrisia. Os “fariseus” de hoje se acham superiores aos outros e não querem ser humilhados, devido a sua altivez. A propósito, o vocábulo fariseus significa separados. Na época de Cristo, eles não somente se separavam dos outros povos, como também dos outros israelitas, afinal de contas, eles tinham uma imagem a zelar. Mas mesmo sustentando aquela imagem de santos e sábios não conseguiram enganar a Jesus. Como já esclareci anteriormente, não há possibilidade alguma de conseguirmos enganar a Deus. Ele sonda os nossos corações e conhece o nosso íntimo. Não há como se esquivar de Deus. Nenhum tipo de orgulho, hipocrisia e engano, prevalecerão em sua presença.
 
O publicano é um personagem que precisa ser lembrado quando se discute a questão da verdadeira adoração. Na parábola de Lucas 18.9-14 percebemos com certa facilidade um intenso contraste entre a adoração do fariseu e a adoração do publicano. Enquanto o fariseu gabava-se por não ser um “pecador” como os demais, o publicano dizia com tristeza:
 
Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! (Lucas 18.13)
 
A diferença de espiritualidade é bastante visível neste texto. Numa mesma parábola encontram-se face a face a falsa e a verdadeira adoração. O fariseu se considerava justo e santo aos seus próprios olhos. Por causa dos destacados atos de compaixão e da sua bondade exterior, ele achava que não necessitava da graça de Deus, e agradecia por não ser “pecador” como os demais. O publicano, por outro lado, estava consciente do seu pecado, e com sincero arrependimento, voltou-se para Deus e pediu misericórdia. Nesta parábola a atitude do publicano simboliza a verdadeira adoração, e nos mostra como devemos nos portar diante da santidade de Deus…
 
Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. (Lucas 12.1)
 
O diretor musical e escritor Rory Noland comentou com sabedoria à respeito da hipocrisia do cristão. Ele diz que é muito ruim sermos acusados de não praticar o que pregamos. Isso é hipocrisia – quando aparentamos estar bem por fora em nome de uma boa imagem, quando não é, na verdade, como estamos por dentro. Sabemos as palavras certas para soarmos “cristãos”, mas estamos encobrindo a verdade sobre nós mesmos. É meramente uma “forma de piedade” (2Tm 3.5), mas não é que realmente somos. Parece espiritual, mas não há profundidade ou poder. Isso acontece quando cantamos o hino “Tudo entregarei”, mas nossas vidas sequer estão perto disto. Deus não aprova a hipocrisia. Em Amós 5.23, o Senhor está farto da hipocrisia de Seu povo, e especialmente de sua música:
 
Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias das tuas liras.
 
Em Amós 5 podemos observar que os israelitas da época do profeta Amós eram hipócritas e cínicos. Eles celebravam muito bem as festas religiosas e ofereciam sacrifícios regularmente, mas o seu amor pelo Senhor havia se esfriado há muito tempo. Freqüentavam os cultos para mostrar que eram pessoas decentes e santas, mas seus corações estavam vazios e longe de Deus. Sua religião era enganosa e não possuía substância. Evidentemente, não havia nada de espiritual e verdadeiro na adoração deles. No versículo 23 Deus revela que as músicas dos israelitas haviam se tornado para Ele apenas mero ruído. O vocábulo estrépito significa barulho forte, agitação, tumulto, ostentação. Era exatamente isso que a adoração dos israelitas havia se tornado para Deus: apenas barulho, ostentação e hipocrisia. É por isso que Ele diz que não ouviria as melodias executadas pelos seus músicos.
 
O que podemos aprender com os relatos do profeta Amós? Deus não irá ouvir canções de louvor e adoração vazias, não importa o quão criativas ou formosas sejam, se nossos corações não estiverem sinceros e retos diante Dele. A Bíblia descreve o rei Amazias como um homem que “fez o que era reto perante o Senhor, não porém com inteireza de coração” (2Cr 25.2). Em outras palavras, suas ações eram boas, mas sua atitude era má. Ele aparentava ser bom por fora, mas seu coração estava longe de Deus[2]. A verdadeira adoração requer um novo nascimento, requer uma mudança interior. É por esta razão que aqueles que não são filhos de Deus, não podem ser considerados adoradores. Somente aqueles que receberam a Cristo e crêem em seu nome estão aptos para prestar uma adoração em espírito e em verdade (João 1.12).
 
Quando os cristãos não vivem aquilo que declaram, pregam ou cantam, estão utilizando a máscara da adoração, vivendo na hipocrisia, como os fariseus e os israelitas da época de Amós. Aparentemente são pessoas profundamente espirituais, no entanto os seus corações não estão ligados com Deus. Devemos estar constantemente nos vigiando para não cair nesta armadilha.
 
É realmente muito triste observarmos alguns irmãos falando sobre Jesus como se fossem amicíssimos dele, contudo não o conhecem e não põem em prática os seus ensinamentos. Alguns chegam até a envergonha-lo quando escolhem viver uma vida pecaminosa, apesar de declararem que são filhos de Deus e de sustentarem uma bela aparência de santos. Estes não podem ser considerados discípulos verdadeiros de Cristo! Vivem totalmente independentes de Deus e suas vidas espirituais são completamente vazias.
 
Aqueles que usufruem da máscara de adoração têm um vazio no coração que só Deus pode preencher. São bons crentes e ótimos estudiosos da Bíblia, praticam boas obras, mas ainda não nasceram de novo e não entendem das coisas espirituais (1 Co 2.14-16). Se não mudarem de vida, nunca chegarão à verdadeira adoração. Se não aceitarem estar no processo da santificação, não poderão alçar um louvor que agrada a Deus.
 
Por falar em “nascer de novo”, você se lembra da história de Nicodemos? Ele era fariseu e principal entre os judeus (membro do sinédrio), e provavelmente um homem zeloso. Evidentemente tinha um ótimo conhecimento das Escrituras, mas era incapaz de entender as palavras de Jesus! Você sabe porque? Ele ainda não havia nascido de novo! Nicodemos era um ótimo crente, um ótimo religioso, no entanto ainda não podia ser um verdadeiro adorador! Ele ainda não entendia as coisas espirituais (vide João 3.1-21). A verdadeira adoração requer novo nascimento! No versículo 10 Jesus fala com Nicodemos em tom de repreensão:
 
Tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas?
 
Querido irmão, as máscaras de adoração precisam ser exterminadas de nosso meio urgentemente. Aqueles que, dentre nós, ainda não nasceram de novo, busquem arrepender-se sinceramente diante de Deus, e voltem seus corações para ele. Quanto a nós, filhos de Deus, precisamos nos arrepender de toda deslealdade, mentira e transgressão que cometemos contra o nosso Amado Pai. Todo tipo de falsidade e simulação deve ser confessado diante Dele com sinceridade e contrição.
 
É nosso dever como cristãos cultivar uma vida com Deus dentro e fora do templo, mantendo comunhão com Ele em todos os momentos de nossa vida. Caro leitor, desejo que entendas uma coisa: antes de se preocupar com a tua imagem e reputação perante os homens, olhe para o teu coração e veja se ele está agradando a Deus. Pare por um segundo e faça a Ele os seguintes questionamentos:
 
Pai… o que o Senhor está achando da minha adoração? Você está se agradando da minha vida cristã? Onde tenho falhado? Tenho sido hipócrita em alguma área de minha vida?
 
Chega de falsidade e hipocrisia dentro de nossas igrejas, não sejamos os “fariseus” de nossos dias! Busquemos a Deus incessante e sinceramente, não importando o número de pessoas que se encontram ao nosso redor. Lembre-se que Deus está constantemente procurando por corações sinceros e contritos que realmente O buscam em humildade!
 

[1] CHAMPLIN, R.N. O Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Editora Hagnos. São Paulo, SP. 2001.

 

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