Experimentando a presença de Deus

Autor: Stephen Eyre
Uma pergunta que faço com freqüência aos estudantes que estou aconselhando ou discipulando é; como é teu tempo a sós com Deus?

Geralmente, depois de uma pausa respondem, “o estou tendo regularmente” ou “tenho estudado diligentemente as Escrituras”. Ambas as respostas são boas, porém não é o que estou querendo saber.

O que quero saber é, estás te encontrando com Deus? Que se passa durante teus encontros pessoais com Ele? Estão tuas devocionais marcadas por um sentido de louvor ou de vazio? A sua mente está tão preocupada com tantas atividades que não podes concentra-se com profundidade nas Escrituras e na oração? Ao perguntar com profundidade aos estudantes sobre o seu tempo devocional com Deus, me dou conta de que a maioria de nós não experimentamos a presença de Deus. Quando estamos cegos à presença de Deus, os tempos a sós se convertem em uma formalidade vazia, a Escritura se converte num livro de regras que devem ser aplicadas mecanicamente, a oração se converte em uma lista de obrigações que Deus deve realizar para nós, e as dificuldades na vida se convertem em problemas que supostamente Deus deve resolver para nós (em vez de oportunidades para que Ele nos ensine e nos molde). Nós nunca consideramos que Deus quer em primeiro lugar que nós o escutemos na oração, em vez de falarmos sem parar. E em nossa busca de regras fixas na bíblia, nos esquecemos que Deus quer mesmo é nos falar através das Escrituras.

A presença de Deus

Buscar a presença de Deus – um direito de todo novo nascido – deveria ser o desejo do coração de todo o nosso tempo a sós com Ele. Antes do nascimento, Jesus se chamava Emanuel, “Deus conosco”. Jesus, então prometeu que nunca nos deixaria órfãos, senão que rogaria por outro consolador (Jo. 14:15ss).

Sem dúvida, quando falamos da presença de Deus, muitos de nós esbarramos numa parede. A experiência de encontrar-se com Deus requer muita sensibilidade espiritual – uma “pedra de tropeço”, é isso que significa essa presença para aqueles que estão daltônicos (cegueira de cores) espiritualmente pelos efeitos da cultura moderna, com suas atrações fascinantes, materialistas e por nossa própria falta de cuidado com nossa espiritualidade, nossa preguiça em manter uma disciplina devocional vital. Como as pessoas daltônicas que conhecem as palavras roxo e verde, porém nunca experimentou visualmente estas cores, nós podemos está espiritualmente cegos à presença de Deus. Temos conhecimento acerca de Deus, porém não o experimentamos de uma maneira vibrante. E como aquelas pessoas que são daltônicas de nascimento e não valorizam as cores, pois não as distinguem, da mesma maneira nós valorizamos menos o que não experimentamos.

Devido ao fato de que essa cegueira, muitas vezes, pode ser muito sutil, necessitamos deter-nos e consideramos se está acontecendo conosco isso. Deter-nos por um instante e perguntar-nos: será que tenho visto e escutado bem o Senhor?

Utilizando nossas emoções

Para poder experimentar de uma maneira plena a Deus, necessitamos de nossas emoções. Deus é uma pessoa. E como em qualquer relação pessoal, nossas emoções têm seu papel. Com minhas emoções posso perceber seu carinho para comigo, posso abraçar sua palavra e atender a seus mandamentos.

Tenha descoberto que falar de emoções entre cristãos pode ser, pois, emocional. Alguns se orgulham de poderem controlar sua emoções. Todavia, tanto nas Escrituras como na História, vemos pessoas piedosas cujas emoções estavam no centro de seus encontros com Deus. Davi, como testemunham os Salmos, experimentou grande alegria e enormes depressões ao longo de sua vida e, a despeito disso, foi “o homem segundo o coração de Deus”. Na sua escolha como Rei de Israel, em substituição a Saul, Deus revela um interesse primordial pelas emoções das pessoas; “Porém o SENHOR disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei; porque o SENHOR não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o SENHOR, o coração”.(1SM 16:7). O coração para Deus é que importa, Não o meu comportamento externo, meu controle absoluto, mas o que se passa no meu coração, o que eu sou realmente e isso, na é a minha mente que fornece, mas, sim, “o coração”. Elias, Jeremias, Jonas e Habacuque, para mencionar alguns, também tiveram seus altos e baixos.

O ponto que quero ressaltar é simples: que nossas emoções podem sem mais que simples reações. Significa algo. O autor do Salmo 42 começa dizendo: “Como suspira a corsa pelas correntes das águas, assim por ti, ó Deus, suspira a minha alma”. Continua dizendo, “por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro em mim?” (vv.1,5). Um cristão moderno que sentisse o que sentiu o salmista provavelmente só se considera deprimido. Todavia, o salmista sabia que sua alma estava “abatida” por alguma razão; estava sedenta por um novo encontro com Deus.

Uma palavra de advertência: emoções fortes não garantem que o Espírito de Deus está trabalhando. Satanás pode duplicar quase qualquer coisa. A emoção deveria fundamentalmente manifestar-se como um sinal de nosso amor a Deus. Quando estamos felizes, estamos crescendo em amor assim como em seu poder, majestade e beleza? Estamos buscando o consolo em Deus?

As fases dos tempos a sós

Para poder entender o que está envolvido no conhecimento de Deus de uma maneira íntima, devemos conhecer as várias fases pelas quais passamos em nossa relação com Ele. O tempo a sós nunca permanece igual no decorrer dos meses, nem sequer com o passar das semanas. São dinâmicos – mudam, variam e se movem ao decorrer de nossa peregrinação até o céu.

Tenho descoberto cinco diferentes fases em nossos tempos a sós: tempo a sós ocasional, tempo a sós comprometido, tempo a sós de estudo, tempo a sós de deserto e tempo a sós de devocional. Cada tipo de tempo a sós reflete mudanças espirituais em nossa vida com Deus. Cada fase tem suas características e seus sentimentos, perigos e vitórias.

Os tempos a sós ocasionais geralmente ocorrem quando não nos encontramos regularmente com o Senhor. A leitura das Escrituras tende a ter um método de “pinçar daqui e dali”. Pegamos a Bíblia quando sentimos uma necessidade e lemos onde a abrimos, como no lance de sorte (eu tendo a ler os Salmos quando entro nessa fase). A oração geralmente acontece de forma irregular, esporádica e orientada para o trabalho – geralmente se transforma numa versão de “Senhor ajuda-me a fazer isto…”. A maior parte do tempo, quando separamos um tempo para estar com o Senhor, desfrutamos pouco de momentos louvor e exaltação. Geralmente estamos demasiados inquietos interiormente, para ouvi-los e nos unirmos ao Espírito que clama “Abba Pai” dentro de nós.

Ainda que a maioria de nós experimentamos ocasionalmente essa fase, não é um bom lugar para estarmos por muito tempo. Deus existe na margem da vida, em vez de estar no centro dela. Se você tem passado tempo de mais no tempo a sós ocasional, necessitas encaminhar o seu coração para encontrar-se com Deus de uma maneira regular.

Os tempos a sós comprometidos são o contrário do tempo a sós ocasional. Acontecem todos os dias, independente de como nos sintamos. Temos um plano formal de leitura Bíblica em um ano, ou utilizamos um guia de leitura devocional. A oração também tende a seguir padrões predeterminados de uma maneira diária.

Os tempo a sós predeterminados é uma fase necessária em nossa caminhada espiritual. Necessitamos desenvolver uma disciplina de encontrar-nos com o Senhor de uma maneira regular, devido ao corre-corre do mundo moderno que faça oposição espiritual a esse ritmo secular. Ao determinar um tempo para o Senhor, ler às Escrituras e seguir um padrão regular de oração, estamos fortalecendo-nos espiritualmente para enfrentarmos o secularismo contemporâneo. E as pessoas e situações pelas quais oramos durante esta fase recebem o benefício de fiel (ainda que nem sempre dinâmica) oração.

Porém, ao ficarmos demasiado tempo nessa fase podemos transformá-la numa armadilha. Podemos começar a ter sentimentos de culpa se deixamos de faze-la algum dia por medo de que Deus se revolte contra mim, ou adquirimos uma atitude de auto-satisfação por realizar nossa obrigação religiosa diária. Quando isso acontece, é preciso refletir sobre o objetivo central que nos levou a essa fase: um encontro profundo com Deus.

Os tempos a sós de estudos se distinguem dos outro dois pela seriedade do estudo Bíblico. Quando me encontro nessa fase, eu gosto de ter uma boa compreensão de algum livro ou porção das Escrituras, em vez de ler toda a Bíblia em um ano, por exemplo. Crescemos muito durante estes tempos a sós estudiosos ao mergulhar profundamente nossas raízes nas Escrituras e ao descobrir um grande número de verdades espirituais as quais podemos utilizar ao longo de nossas vidas. Ao lermos como Deus tem agido na história, aprendemos a reconhecer sua ação também em nossas vidas em situações difíceis e nos com as pessoas ao longo dos anos que têm respondido ao chamado Dele.

Todavia, ao estudar tento tempo a Bíblia, freqüentemente resta-nos pouco tempo para dedicar-se à oração, que termina por ser curta, às pressas, orientada basicamente ao trabalho – uma lista de atividades que Deus deve realizar –. Corremos ainda o risco de que nosso estudo das Escrituras se transforme em um simples exercício intelectual. Tenho descoberto, nessa fase, que embora esteja aprendendo de Deus, não estou encontrando-me com Ele. Quando estou nessa fase experimento uma sensação de que Deus está chamando-me a sair de meu estudo profundo para sentar-me e simplesmente louvá-lo.

Os tempos a sós de deserto ao passarmos para o tempo a sós de deserto, normalmente a única coisa que pensamos é que fizemos algo mau contra o Senhor. Pelo contrário, a causa pode ser um grande crescimento espiritual experimentado em antigos tempos a sós que foram bons como decorrência de um período de deserto. O crescimento profundo surge como conseqüência de um período inesperado de sequidão.

Quando nos encontramos com Deus durante tempo a sós de deserto, Ele parece está ausente. Percebemos somente um sentimento de desolação interior. Davi expressou esse desejo de Deus no Salmo 63: “Ó Deus, tu és o meu Deus forte, eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, numa terra árida, exausta, sem água” (v.1).

Nessa fase de deserto, nada do que fazemos em nosso tempo a sós (nem em qualquer outra área de nossa vida) parece dar certo. O prazer do estudo Bíblico que temos conhecido evaporou-se, e nossas orações não parecem passar do teto.

Não obstante, em tempos de deserto, pode ser que nos apeguemos mais a Deus, e entronizemos a Sua obra de uma maneira mais profunda em nossos corações. Pode ser que Ele esteja nos treinando a deixar nossos ídolos e nossas amarras terrenas, para aprender que além do Deus verdadeiro nada pode satisfazer nossos desejos internos. Em tempos de abundância material e distrações recreativas, como necessitamos do mistério do deserto! Lembremos sempre que foi no deserto que Israel conheceu o verdadeiro caráter libertador e sustentador de Deus, foi no deserto que Paulo preparou-se para o seu grande desafio missionário, e foi ao deserto que o nosso Senhor foi levado, pelo Espírito Santo, para se tornar o Salvador do mundo. Não desprezemos o deserto!

Os tempos a sós em devocional, em contraste com a fase desértica, o tempo a sós devocional nos permite experimentar com prazer o estar na presença de Deus.

No tempo a sós devocional, manejamos as Escrituras de uma forma diferente. Em vez de buscar informação nova ou detalhes significativos nas passagens, nosso tempo com as Escrituras tem sentido de reverência e de adoração. Pode ser que estudemos passagens que já tenhamos lido antes, permitindo que nossa alma absorva a passagem até que, como Paulo em Éfesios, nos maravilhemos das bênçãos espirituais que nos tem sido dadas através de Jesus Cristo, ou como Pedro, experimentamos o gozo inefável da salvação de nossas vidas.

Às vezes nós podemos ver-nos dentro da passagem, usando nossa imaginação para sentir isso, ver e ouvir o que está se passando. Freqüentemente nos sentimos movidos a intercalar uma oração em nossa meditação das Escrituras. Eu, por exemplo, experimento um “silêncio completo” nesse tempo devocional, muito parecido ao que se dá quando estou com um amigo com o qual não necessito de palavras. Minhas orações são dominadas por uma atitude profunda de escutar silenciosamente a Deus. Estou menos orientado na direção do trabalho, intercedo por outros sem recitar mecanicamente uma lista de coisas que Deus deve realizar. Dispormo-nos para escutar o Senhor é demasiado fácil nessa fase.

Eu tenho descoberto que os guias devocionais e livros sobre espiritualidade são de muita ajuda, incluindo os clássicos La Imitación de Cristo por Thomas Kempis, Religious Affections por Jonathan Edwards, Celebração da Disciplina, e A Verdadeira Espiritualidade por Richard Foster.

Uma palavra de advertência acerca do tempo a sós devocional. Apesar de ser o tempo a sós que com mais freqüência nos encontramos ao longo da vida cristã, pode não ser o mais adequado para nós estarmos perpetuamente! Como os discípulos no Monte da Transfiguração, não podemos ficar no Monte para sempre. Os discípulos tinham que descer do monte com Jesus e enfrentar as necessidades da multidão; ir à Jerusalém e enfrentar a Cruz. Tenho descoberto que não posso só esperar, o prazer divino em cada tempo a sós. Deus não se apresenta ao estalar de nossos dedos. Ele sabe quais são nossas necessidades, e vem a nós de maneira que possamos recebê-lo. A realidade permanente desse prazer de louvar não vai chegar em nós até que nos encontremos com Deus no Céu.

Não importa a etapa na qual estamos espiritualmente: temos que ter como meta o nosso tempo a sós, o viver com o sentimento da presença de Deus. Em vista de nossa cultura acelerada e orientada para o “fazer”, temo que, levados por essa cultura, mergulhemos no ativismo religioso e raramente experimentemos em nosso tempo a sós, a presença sobrenatural de Deus. Somos seduzidos a estar contentes com somente ler de Deus nas Escrituras ou em livros escritos por outros cristãos, e realizar nosso dever cristão.

O Senhor está presente; toda a criação declara sua glória. Em nosso trabalho, em nossa família, em nossa recreação e em qualquer coisa que façamos, podemos perceber sua presença. Todavia, se não praticarmos a disciplina do tempo a sós, provavelmente nos privaremos da glória de Deus que está ao nosso redor. O tempo a sós com expectativa de encontro, nos permite estar sempre em Sua presença de uma maneira que aumenta o sentido dessa presença em tudo o que fazemos na vida.

* Traduzido com algumas adaptações por Jeriel Silva Santos do texto espanhol de Stephen Eyre: “Experimentando la presencia de Dios” tirado da revista “Student Leadership” al Inter-Varsite Cristian Fellowship – USA (ABU Americana).

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