Autor: Jose Miguel
Os dados quanto `a expansão do cristianismo nos primeiros séculos são precários. As vezes tem que ser deduzidos de outros. Por exemplo, deduz-se o tamanho da igreja em determinada localidade do número de bispos (ou viuvas) que ali estavam. Há uma série de razões que explicam esta falta de dados. Vejamos algumas: A igreja primitiva se interessava em ganhar pessoas para Cristo, não em contá-las. Embora Atos fale de 3.000 e de 5.000 (2:41; 4:4), em geral fala de “grande número”, “multidão”ou outros termos indefinidos. Também como era considerada uma “religião illícita”os crentes de então procuravam não aparecer e assim chamar atenção a si mesmos. Além do mais, o historiador Lucas, como cronista da expansão da Igreja, tem seu interesse limitado pela visão da chegada do Evangelho em Roma. Assim abandonou a historia de Pedro em 12:17 e a de Paulo logo que este chegou lá. Dos demais movimentos de crescimento só relata no que tocam a este objectivo (e.g.8:4; 11:19). Ainda temos o fator de perda de quaisquer documentos que porventura existiram devido a precariedade da vida desta comunidade primitiva.
1.Primeira Expansão da Igreja
Devido à natureza fragmentária dos dados, é possível darmos peso demais às viagens missionárias de Paulo e da expansão que as acompanhou (Ásia Menor, Grécia, etc.). Não temos, por exemplo, conhecimento de como ou por quem o evangelho chegou a Alexandria ou a Roma. Também vemos um congregação em Damasco antes da conversão de Paulo (At:9:1-19), que certo historiador batista, sugere ter surgido apartir de contatos com os discípulos na Galileia. Alguns pensam que a missão paulina tenha desabado logo após da sua morte.
Os primeiros agentes da expansão missionária provavelmente foram os convertidos do dia de Pentecostes (At:2:9-11) que levaram o evangelho consigo quando voltaram para casa. AS regiões alistadas no texto já indicam a larga gama de países do mundo de então.
Uma segunda leva de “missionários” foram aqueles que foram espalhados por toda parte na perseguição que seguiu o martírio de Estevão At:8:4. Estes foram pregando na Fenícia, no Chipre e na Antioquia, mas sempre aos helenistas. Um dos convertidos de Chipre e de Cirene (Líbia) pregaram aos helenos (gregos) em Antioquia.
Como resultado da evangelização do eunuco por Filipe surgiu a Igreja na Etiópia: At:8:26-39.
Parece ser evidente que Paulo não foi o único missionário trabalhando fora da palestina. Além das viagens de Barnabé e Marcos (At:15:39), há referência a outros em Rm:15:19-20.
No período apostólico de expansão do evangelho, o NT relata a presença de crentes nos seguintes lugares sem nos indicar quem o levou ou como ouviram: Roma, Bitínia, Mísia, Pontus, Capadócia (1aPe1:1), Tiro, Sidom, Puteoli (perto de Nápoles). Tudo isso parte da obra missionária paulina.
2.Expansão no Império Romano Leste
Nos dados fragmentários que temos podem ser observado algumas regiões. Na Fenícia a fé cedo parece ter sido mais forte do que na própria Palestina. Entretanto é provável que aqui, como em quase todo o império, o cristianismo era um fenômeno urbano, desenvolvendo-se especialmente nas cidades costeiras. Tiro possuia uma igreja muito forte.
Na Síria se desenvolveu duas comunidades cristãs: a de fala grega que teve seu início em Antioquia e que se expandiu nas comerciais às cidades de fala grega na Síria. Embora a igreja de Antioquia possa ter sido bilíngue desde cedo, a comunidade de fala siríaca teve seu núcleo principal ao leste na cidade de Edessa. Foi de aqui que expandiu o cristianismo siríaco. A força da igreja na Síria pode ser constatada pela presença de 20 bispos seus no Concílio de Nicéia em 325.
Na Ásia Menor, foi área de trabalho de pelo menos dois apóstolos, Paulo e João, o cristianismo tinha sido adotado mais largamente do que qualquer outra região grande do Império até o fim do III século. Seu crescimento maior parece ter sido nas cidades onde a cultura local estava desintegrando-se diante do impacto da cultura que chegava a greco-romana. Nas cidades helênicas era menor e nas cidades onde a educação helenista era desconhecida era quase inexistente.. A carta de Plínio ao imperador Trajano na segunda década do II século atesta a larga expansão do cristianismo nas cidades e até no quadro rural de Bitinia.
Apesar da obra missionária de Paulo o número de cristãos na Grécia e nas Balcãs parece ter permanecido minoria até a ascensão de Constantino Os dados da época apostólica até o período de Marco Aurélio os dados são extremamente.
3.Expansão no Império Romano Africano
Quanto ao Egito a tradição faz de Marcos o missionário que lá plantou o evangelho. Sabemos que Apolo era de Alexandria, mas não sabemos se converteu-se lá ou se voltou para lá após sua conversão. Até o fim do segundo século a igreja já estava forte. Já incluia várias linhas teológicas, das quais uma das mais fortes foi o gnosticismo. Em Alexandria se desenvolveu mui cedo a famosa escola catequética em que teve entre seus professores Clemente e Orígenes. Já neste período traduções de porções das Escrituras foram feitas em línguas indígenas dando condições para o desenvolvimento da Igreja Copta.
A costa do norte da África o cristianismo se alastrou cedo especialmente nas regiões da Líbia, Tunísia, e Algeria. O progresso do cristianismo nesta região parece ter sido muito rápido, especialmente no III século. É de aqui que surgiu Tertuliano, Cipriano e, mais tarde, Agostinho. A igreja parece ter sido mais forte nas cidades e entre a população que falava latin.
4.Expansão no Império Romano Europeu
Na Itália. O evangelho chegou a Roma antes de Paulo, mas talvez não muito antes da agitação que resultou na expulsão dos judeus sob Cláudio (41-54) por causa dum certo “Chrestus. Cf. At:18:1-3. Até 250 a igreja em Roma cresceu sobremaneira. Uns calculam 30.000 membros; outros acham que foram muito mais. Até meados do III século na Itália havia cerca de 100 bispos. Com a expansão rápida do cristianismo que ocorreu nas últimas décadas daquele século, calcula-se que quase toda a cidade no centro-sul e na Sicília tinham um núcleo de cristãos. A penetração do norte da Itália foi bem mais lenta e veio da Dalmacia e regiões ao leste.
A Espanha, embora romanizada antes da África, foi muito mais lenta em receber o Evangelho. Cedo no III século o cristianismo parece firmemente estabelecido no sul, nas cidades costeiras.
5. Avanço do Cristianismo ao Leste Além dos Límites do Império Romano
A tradição indica que Tomé foi aos Partos e a Índia; Mateus a Etiopia; Bartolomeu a Índia e André aos citos.
Edessa estava localizada nas grandes rotas comerciais que corriam entre as montanhas da Armênia ao norte e os desertos da Síria ao sul. Até o fim do II século estava fora do império romano e dentro da esfera da influência dos Partos. A sucessão de bispos remonta a fins do II século. Embora centro de cultura grega, o cristianismo de Edessa era siríaco. No início do III século poucas cidades continham mais crentes que Edessa. Até o fim do século parece que ela estava predominantemente cristã. Edessa parece ter sido o ponto donde o evangelho penetrou mais na Mesopotâmia e até os limites da Pérsia.
As antigas religiões da Babilónia e da Assíria estavam em desintegração e não ofereceram muita oposição ao cristianismo. A oposição surgiu principalmente do zoroastrismo que mais tarde se tornou a religião do Estado persa (meados do III século). Os primeiros convertidos aparecem cerca de 100 a.D. Até o fim do primeiro quartel do III século havia mais de 20 dioceses na Mesopotâmia.
No leste o cristianismo não só não teve os mesmos êxitos que conseguiu no império, como também eventualmente quase desapareceu. Isto possivelmente se deva a três razões: A política religiosa dos Sassanidas (dinastia persa) que favoreceu o zoroastrismo. A forte hierarquia de este com o apoio da monarquia levantou uma forte resistência ao cristianismo. Também o próprio êxito do cristianismo no império, após sua adoção por Constantino, o tornou a religião do inimigo principal dos persas. E por último, a forma herética em que o cristianismo foi pregado
Recomendamos a leitura de: Gonzáles, Justo; A Era dos Mártires p.31-47 e Cairns, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos p.45-56
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