Eu sou a porta

Autor: José Antônio Corrêa
João 10.7-9

INTRODUÇÃO:

1. Hoje, estaremos falando sobre a metáfora da porta, também usada por Jesus para falar de mais uma de suas qualificações pessoais acerca de si mesmo, usando a expressão “Eu sou”. Sabemos da grande utilidade da porta como instrumento de acesso a lugares fechados. A palavra “porta”, na língua grega é “yura – thura”, cujo significado é: “uma entrada”, “lugar de passagem”, “abertura de acesso”.

2. Pense numa casa sem portas! Haveria sentido? Ou mentalize um curral de ovelhas totalmente fechado, sem qualquer abertura por onde os animais pudessem entrar e sair. Somente alguém fora de si construiria locais fechados, sem portas. Ao declarar-se a “porta”, Jesus fornece acesso, liberdade, abrigo, entre outras coisas. Vejamos alguns pontos relacionados a Jesus como sendo a porta:

I. SENDO A “PORTA”, JESUS SE COLOCA COMO ÚNICO RECURSO DE SALVAÇÃO ETERNA PARA O HOMEM

1. Veja a expressão de Jesus: “Se alguém entrar por mim, será salvo…”, v. 9. A palavra “salvo” dentro do texto, vem do termo grego “swzw – sozo”, cujo sentido é: “salvar do perigo ou da destruição”, “curar”, “restabelecer a saúde”, “libertar”, “salvação da alma”. É no sentido de “salvar a alma”, que estaremos empregando esta palavra.

2. Ao buscarmos Jesus como sendo a “porta”, ao entrarmos por Ele, alcançamos a salvação e a libertação do poder do diabo. Sabemos que o homem sem Deus está perdido pela sua condição de pecador e injusto perante o Criador: “…como está escrito: Não há justo, nem sequer um…”, Rm 3.10. Em Rm 3.23 temos: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. Nesta condição, o homem caminha para a perdição eterna, uma vez que o “salário do pecado (injustiça) é a morte…”, Rm 6.23.

3. A única solução para a questão do pecado na vida do homem perdido, é Jesus. Ele é a porta de acesso! Quando deixou o seu lar na glória para habitar entre os homens, Jesus tinha como objetivo principal “buscar e salvar os perdidos”. “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido”, Lc 19.10. É o pecado que nos tornou “perdidos”, distantes de Deus. Jesus veio para nos “achar” e nos levar de novo ao encontro de Deus, condição esta, perdida em razão do pecado adâmico.

– Uma parábola importante para ilustrar a presente verdade, é a Parábola da Ovelha Perdida, Lc 15.4-7, “4 Qual de vós é o homem que, possuindo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto, e não vai após a perdida até que a encontre? 5 E achando-a, põe-na sobre os ombros, cheio de júbilo; 6 e chegando a casa, reúne os amigos e vizinhos e lhes diz: Alegrai-vos comigo, porque achei a minha ovelha que se havia perdido. 7 Digo-vos que assim haverá maior alegria no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento”. Observe a “festa” ocasionada pelo encontro da ovelha extraviada! Assim também, há uma grande festa nos céus quando um pecador reconhece o seu estado de miserabilidade perante Deus, se arrepende e volta ao aprisco divino.

4. Outras passagens bíblicas nos esclarecem ainda mais sobre esta verdade:

a) Sobre Jesus:

– Veio não para julgar, mas sim salvar, Jo 3.17, “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele”. Ver ainda Jo 12.47, “E, se alguém ouvir as minhas palavras, e não as guardar, eu não o julgo; pois eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo”.

– É o único meio de salvação, At 4.12, “E em nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, em que devamos ser salvos”. Ver ainda 1 Tm 2.5, “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem”.

b) Sobre a salvação:

c) É concedida mediante a graça de Deus, At 15.11, “Mas cremos que somos salvos pela graça do Senhor Jesus, do mesmo modo que eles também”. Ver também Ef 2.8, “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus”.

d) É através da fé, At 16.30-31, “30 e, tirando-os para fora, disse: Senhores, que me é necessário fazer para me salvar? 31 Responderam eles: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa.”.

e) Exige arrependimento e conversão do homem, Lc 24.47, “…e que em seu nome se pregasse o arrependimento para remissão dos pecados, a todas as nações, começando por Jerusalém”. Ver ainda At 3.19, “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério, da presença do Senhor.

5. Muitos outros textos poderíamos citar para falar sobre a doutrina da salvação. Porém, julgamos que os apresentados são suficientes para mostrar o plano de Deus em buscar e salvar perdido. Quem entra pela porta do aprisco, Jesus, é salvo!

II. SENDO A ” PORTA”, JESUS CONCEDE A LIBERDADE DE IR E VIR PARA O HOMEM

1. Perante o Criador, o homem tem livre-arbítrio. Olhando com atenção para a frase “Se alguém entrar por mim … entrará, e sairá…”, v. 9, nos deparamos com as palavras “entrará e sairá”, o que nos sugere que temos liberdade para receber a salvação de Deus, como também de recusá-la. Deus não criou o homem como um “robô” movido a controle remoto, mas com liberdade de escolha! Porém, assim como temos liberdade para escolher entre aceitar ou recusar a vida de Deus, temos também responsabilidade para arcar com nossos atos contrários à vontade soberana do Deus Eterno, bem como com suas conseqüências!

2. Este conceito de livre-arbítrio já é visto no Velho Testamento, onde Deus dá liberdade de escolha ao homem em questões cruciais:

a) Escolha entre a vida e o bem, a morte e o mal, “Vê que hoje te pus diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal”, Dt 30.15. O povo deveriam optar pela vida e o bem para receber o melhor de Deus. Poderia também fazer opção pelo mal e a morte, e amargar o desastre da escolha.

b) Escolha entre a vida e a morte, a bênção e a maldição, “O céu e a terra tomo hoje por testemunhas contra ti de que te pus diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência”, Dt 30.19. Como no versículo acima, a morte e a vida são colocadas num paralelo entre a bênção e a maldição, alvos de escolha pelo povo. Dependendo do rumo que tomassem, poderiam ser abençoados, ou amaldiçoados.

c) Escolha entre Deus e os deuses falsos, “Mas, se vos parece mal o servirdes ao Senhor, escolhei hoje a quem haveis de servir; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do Rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor”, Js 24.15. O povo havia tomado posse da terra, e Josué sabia da preferência de alguns deles pela adoração de deuses cananitas. A opção para escolha fica a critério do povo. Porém Josué é claro em sua tomada de posição: “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor”.

d) A opção de Moisés, “24 Pela fé Moisés, sendo já homem, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, 25 escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus do que ter por algum tempo o gozo do pecado, 26 tendo por maiores riquezas o opróbrio de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa”, Hb 11.24-26. Observe que, embora Deus tivesse preparado Moisés desde o seu nascimento para ser o libertador de seu povo da escravidão egípcia, ele não foi forçado a deixar Egito e suas riquezas para servir a Deus. Pelo contrário, ele o fez de livre e expontânea vontade!

3. Deixando um pouco o conceito de livre-arbítrio do Velho Testamento, onde o povo podia escolher entre vida e morte, entre bênção e maldição, entre o Deus-Poderoso e outros deuses, voltemos ao Novo Testamento, onde a idéia da liberdade de escolha pelo homem é mais abrangente, senão vejamos:

a) Perder ou salvar a vida, “…pois, quem quiser salvar a sua vida por amor de mim perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á”, Mt 16.25. A liberdade de escolha entre salvar ou perder a vida está em nossas mãos! É evidente que aqui Jesus está falando, não de perder a vida física no sentido de morte física, mas perder a vida mundana, para ter a vida de Deus!

b) Crer ou não crer, “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado”, Mc 16.16. É pela fé que recebemos a salvação! Mas, é pela falta de fé no Filho de Deus que podemos receber a condenação. O ter fé, ou não ter fé, é do homem! Ou cremos, ou não cremos!

c) Receber ou rejeitar, “11 Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. 12 Mas, a todos quantos o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus”, Jo 1.11-12. A expressão “os seus”, tem a ver com os judeus que optaram pela rejeição de Jesus e foram rejeitados por Deus; já, “os que crêem no seu nome”, são aqueles que, embora não sendo judeus, aceitaram a graça de Deus e se tornaram participantes da vida eterna.

d) Luz e trevas, “E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes as trevas que a luz, porque as suas obras eram más”, Jo 3.19. Observe que o contexto deste versículo nos fala de fé, ou descrença em Jesus (Jo 3.17-18). Quem crer não é julgado, mas quem não crer recebe condenação, juízo! Qual é a razão de muitos não crerem? É porque amam intensivamente o mundo (trevas) em detrimento da vida em Deus (luz).

4. Certamente, como homens, está em nossas mãos, o aceitar ou rejeitar o plano divino de salvação!

III. SENDO A “PORTA”, JESUS FORNECE ACESSO DE ALIMENTO ESPIRITUAL AO HOMEM

1. “Se alguém entrar por mim … achará pastagem”, v. 9. A expressão “achará pastagem”, tem a ver com o alimento das ovelhas. Sabemos que uma das funções do pastor de ovelhas nos tempos bíblicos era providenciar alimento ao rebanho, o que se tornava uma tarefa árdua, em virtude do clima desértico da Palestina. Os pastos verdes eram raros, escassos, e muitas vezes para procurá-los, o pastor empreendia juntamente com o rebanho, longas viagens.

2. Jesus é o pastor por excelência! Nada descreve melhor o seu amor e cuidado pelas suas ovelhas do que o Salmo 23, que nos versos 1-2, trata de sua provisão de alimentos ao rebanho, “1 O Senhor é o meu pastor; nada me faltará. 2 Deitar-me faz em pastos verdejantes; guia-me mansamente a águas tranqüilas”. Observe que o salmista não somente fala da garantia de comida – “pastos verdejantes”, como também faz alusão à bebida – “águas tranqüilas”. Debaixo do cuidado do Senhor nossa fome e sede são saciadas! “Nada nos faltará”!

3. Não podemos deixar de mencionar um detalhe significativo a nós mostrado no Evangelho de João, onde o nosso alimento espiritual é o próprio Senhor, Jo 6.57, “Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim”.

– Veja no texto a expressão: “…quem de mim se alimenta, também viverá por mim”. Assim como ao comermos, os alimentos se transformam em sangue, cabelo, unhas, etc., mantendo a vida do nosso corpo, ao nos alimentarmos de Jesus, sua vida será produzida em nós e nos manterá espiritualmente vivos!

– Daí, a importância da Ceia do Senhor, que deve ser realizada periodicamente pela Igreja, não somente para lembrar a morte e o sofrimento do Senhor – seu objetivo principal (1 Co 11.24-25), mas também – como objetivo secundário, para ativar nossa memória sobre o fato de que diariamente precisamos nos alimentar de Jesus, mantendo desta maneira nossa vida espiritual em dia!

4. Outro meio de alimentação espiritual é a própria palavra de Deus, que gera em nós crescimento:

a) Ela é “o puro leite espiritual”, 1 Pe 2.2, “…desejai como meninos recém-nascidos, o puro leite espiritual, a fim de por ele crescerdes para a salvação”. Ao recebermos a salvação de Deus, não podemos ficar estáticos, bebês eternos! Urge que cresçamos! A ração necessária para o nosso crescimento, não é outra a não ser a própria Palavra de Deus, lida e absorvida por nós. No dizer de Jeremias a Palavra precisa ser “comida”, “Acharam-se as tuas palavras, e eu as comi; e as tuas palavras eram para mim o gozo e alegria do meu coração; pois levo o teu nome, ó Senhor Deus dos exércitos”, Jr 15.16.

b) Ela deve ser praticada, Hb 5.12-14, “12 Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, necessitais de que se vos torne a ensinar os princípios elementares dos oráculos de Deus, e vos haveis feito tais que precisais de leite, e não de alimento sólido. 13 Ora, qualquer que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, pois é criança; 14 mas o alimento sólido é para os adultos, os quais têm, pela prática, as faculdades exercitadas para discernir tanto o bem como o mal”.

– Fica claro, que no início de nossa vida em Deus, precisamos buscar o conhecimento de sua Palavra para crescermos espiritualmente. O nosso crescimento espiritual será proporcional ao tempo que nos dedicarmos à leitura, oração e meditação nas Escrituras. Quem não agir assim, não crescerá na sua vida em Deus!

– Porém, no dizer do escritor da Carta aos Hebreus, não podemos ficar apenas nos “…princípios elementares dos oráculos de Deus”. Na verdade, ele nos exorta a praticar o que estamos aprendendo através da meditação e leitura da Palavra. “E sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes…”, Tg 1.22. A palavra “cumpridores”, vem do grego “poihthv – poietes” que em algumas versões é traduzida por “praticantes”, o que nos sugere que a leitura bíblica sem a devida prática, não produz vida, não gera crescimento! No dizer de Tiago estaremos apenas “…enganando-nos a nós mesmos”, Tg 1.22.

5. Se quisermos crescer em nossa vida espiritual, não podemos negligenciar a comunhão como o Senhor e a leitura meditativa em sua Palavra!

CONCLUSÃO:

1. Hoje pudemos ver Jesus declarando ser a “Porta”. Ao ser a “Porta”, Ele nos oferece: salvação para a alma; liberdade de escolha; e alimentação espiritual.

2. Outras idéias poderiam ainda ser discutidas, como por exemplo: a segurança de estar em seu abrigo, seu amor acolhedor, etc. Porém, cremos que os princípios aqui discutidos serão úteis para aqueles que desejam aprofundar-se no estudo das Escrituras, objetivando o melhor proveito. Que Deus os abençoe ricamente!

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