Autor: Thiago André Monteiro
Muita gente me pergunta sobre o Apocalipse
. Imagino que seja uma curiosidade da grande maioria das pessoas, sejam elas cristãs ou não. Quem não se empolga quando o assunto é o Armagedom, ou a destruição do planeta, ou qualquer tipo de história que fala sobre o fim de mundo? Ainda mais quando se trata de algo que está escrito na Bíblia que, quer acreditemos nela ou não, é objeto de, no mínimo, grande respeito.
Certo! Mas o que o título deste artigo tem a ver com o Apocalipse? Calma! Chegaremos lá. Tudo no seu devido tempo.
Como um amigo meu costuma dizer, não é a toa que o livro de Apocalipse é o último da Bíblia. Ou seja, ele deve ser lido por último. A chance de você pegar um livro qualquer, ler o último capítulo e entendê-lo é um tanto quanto pequena. Mais do que isto, é muito grande a chance de você entender as coisas de forma completamente errada e, conseqüentemente, concluir coisas igualmente erradas. Vale a mesma regra para o Apocalipse. Aliás, é por isso que vemos tanto discurso absurdo por aí. As pessoas têm a mania de tirar suas conclusões sem interpretar o todo, mas isso é um outro assunto que não pretendo discorrer agora.
Voltando ao tema original, como sei que o homem é um ser curioso, ansioso e preguiçoso, pretendo, mesmo que de forma bem enxuta, explicar um pouco acerca do Apocalipse. Obviamente este assunto não se limitará a este artigo, e sim a alguns que estou planejando para um futuro não muito distante.
Para entender o Apocalipse precisamos primeiro conhecer as personagens desta história. As principais são: o povo de Israel, mais conhecido como judeus, e a Igreja de Cristo, mais conhecida como todos os salvos desde a morte de Cristo (na verdade a Igreja passou a existir no dia de Pentecostes, que aconteceu poucos dias depois, mas como é grande a chance de você nunca ter ouvido falar disso, pense que foi depois da morte de Cristo. Se quiser saber o que foi esse tal Pentecostes leia os dois primeiros capítulos do livro de Atos).
Um mínimo de história será necessário. Todo mundo sabe que o povo escolhido de Deus é o judeu. A Bíblia realmente fala disso, e fala muito! Este povo foi gerado por Deus através da descendência de Abraão (a história está lá no livro de Gênesis) e foi com ele que Deus fez aliança. Ele prometeu muita coisa para o povo judeu, mas muita mesmo. O Antigo Testamento, todo escrito para o povo judeu, está recheado de promessas. O fato é que algumas se cumpriram, outras não. Agora é a hora de você pensar: mas se foi Deus quem prometeu, ele não tem que cumprir? A resposta é um enorme: SIM!
Deus nunca escondeu que Israel era o seu povo escolhido. Uma das promessas dadas ao povo é que viria um grande rei que reinaria sobre toda a nação israelita. Ele livraria o povo das perseguições e os salvaria. Israel governaria o mundo com este líder a frente. Você conhece alguma época da história em que isto aconteceu? Eu não.
O fato é que tal rei veio mesmo! Porém (sempre tem um porém), os judeus não o aceitaram. Não acreditaram que este homem era de fato o prometido. Mais do que não aceitá-lo, eles o mataram. Penduraram ele numa cruz e o sangraram até a morte. Acho que você já sabe de quem eu estou falando!
Note que até agora não se ouviu falar em Igreja (lembre-se que não estou falando da instituição igreja, nem de religião, mas do conjunto de pessoas salvas depois da morte de Cristo). Se você vasculhar o Antigo Testamento inteiro não encontrará qualquer menção à existência de algo como a Igreja. Ela era um mistério para a época, ou seja, os judeus não tinham a menor idéia de que isto seria um dia realidade. Para eles o povo escolhido de Deus era Israel e pronto.
O fato é que os judeus negaram o rei que lhes foi apresentado. O que foi então que Deus fez? Deixou Israel de lado e escolheu (montou desde o início) outro povo: a Igreja!
Opa! Espera aí! E as promessas todas ao povo judeu? Deus pode mudar assim de idéia e fingir que não prometeu nada?
Mas quem foi que disse que ele mudou de idéia? Quem foi que disse que Deus não sabia que os judeus negariam o rei que foi enviado? É claro que ele sabia. Mais do que isto, este era o plano. E é claro que ele não esqueceu a sua promessa com os judeus. Se Deus não sabia que os judeus o negariam, como teríamos no Antigo Testamento (escrito para os judeus, antes da vinda e Cristo) qualquer menção à crucificação de Cristo, e ainda colocando a responsabilidade sobre os ombros do próprio povo judeu?
Isaías 53.3-12 (isto é uma profecia que fala sobre alguém que viria. Em profecias é comum usar o tempo no passado, como se os fatos já tivessem acontecido. Ao ler isto, pense que você é um judeu vivendo na época antes de Cristo)
Foi desprezado e rejeitado pelos homens, um homem de dores e experimentado no sofrimento. Como alguém de quem os homens escondem o rosto, foi desprezado, e nós não o tínhamos em estima.
Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças; contudo nós o consideramos castigado por Deus, por Deus atingido e afligido. Mas ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniqüidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados. Todos nós, tal qual ovelhas, nos desviamos, cada um de nós se voltou para o seu próprio caminho; e o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós.
Ele foi oprimido e afligido; e, contudo, não abriu a sua boca; como um cordei
ro foi levado para o matadouro, e como uma ovelha que diante de seus tosquiadores fica calada, ele não abriu a sua boca. Com julgamento opressivo ele foi levado. E quem pode falar dos seus descendentes? Pois ele foi eliminado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo ele foi golpeado. Foi-lhe dado um túmulo com os ímpios, e com os ricos em sua morte, embora não tivesse cometido nenhuma violência nem houvesse nenhuma mentira em sua boca.
Contudo, foi da vontade do Senhor esmagá-lo e fazê-lo sofrer, e, embora o Senhor tenha feito da vida dele uma oferta pela culpa, ele verá sua prole e prolongará seus dias, e a vontade do Senhor prosperará em sua mão. Depois do sofrimento de sua alma, ele verá a luz e ficará satisfeito; pelo seu conhecimento meu servo justo justificará a muitos, e levará a iniqüidade deles. Por isso eu lhe darei uma porção entre os grandes, e ele dividirá os despojos com os fortes, porquanto ele derramou sua vida até a morte, e foi contado entre os transgressores. Pois ele levou o pecado de muitos, e pelos transgressores intercedeu.
O fato é que os judeus o negaram e isto não passou em branco para Deus. Como disse acima, o próprio Deus criou então a Igreja (depois da morte de Cristo) e começou a se relacionar com ela. Agora o povo de Deus é a Igreja (mesmo que no sentido espiritual).
Você poderia então me perguntar: e os judeus? Foram descartados e desconsiderados? Por que Deus fez isto? Para quê criar um novo povo (a Igreja) ao invés de dar seqüência com o seu próprio povo escolhido? Acredito que agora você está pronto para ler o que o apóstolo Paulo escreveu em sua carta aos romanos (gentios participantes da Igreja) quando estes tiveram a mesma dúvida. Você tem total condições de encontrar você mesmo as respostas:
Romanos 11 (algumas partes do capítulo foram omitidas)
Pergunto, pois: Acaso Deus rejeitou o seu povo? De maneira nenhuma! Eu mesmo [Paulo] sou israelita, descendente de Abraão, da tribo de Benjamim. Deus não rejeitou o seu povo, o qual de antemão conheceu. […] como está escrito: “Deus lhes deu um espírito de atordoamento, olhos para não ver e ouvidos para não ouvir, até o dia de hoje”. […]
Novamente pergunto: Acaso tropeçaram para que ficassem caídos? De maneira nenhuma! Ao contrário, por causa da transgressão deles, veio salvação para os gentios, para provocar ciúme em Israel. Mas se a transgressão deles significa riqueza para o mundo, e o seu fracasso, riqueza para os gentios, quanto mais significará a sua plenitude! […] Pois se a rejeição deles é a reconciliação do mundo, o que será a sua aceitação, senão vida dentre os mortos? […]
Irmãos, não quero que ignorem este mistério, para que não se tornem presunçosos: Israel experimentou um endurecimento em parte, até que chegue a plenitude dos gentios. E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: “Virá de Sião o redentor que desviará de Jacó a impiedade. E esta é a minha aliança com eles quando eu remover os seus pecados”. Quanto ao evangelho, eles são inimigos por causa de vocês; mas quanto à eleição, são amados por causa dos patriarcas, pois os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis. Assim como vocês, que antes eram desobedientes a Deus mas agora receberam misericórdia, graças à desobediência deles, assim também agora eles se tornaram desobedientes, a fim de que também recebam agora misericórdia, graças à misericórdia de Deus para com vocês. Pois Deus colocou todos sob a desobediência, para exercer misericórdia para com todos.
Como vimos, no fim o povo judeu será salvo. Por enquanto eles estão enciumados na geladeira, mas Deus voltará a se relacionar de maneira especial com Israel, contudo isso só acontecerá quando a Igreja chegar à sua plenitude (e ainda não chegou). Depois desta época Deus cumprirá todas as promessas feitas a Israel que ainda não foram cumpridas. É verdade que, após a plenitude da Igreja, ainda teremos alguns acontecimentos importantes antes da plenitude de Israel, mas isso é um assunto para outro artigo, onde realmente começaremos a entender o que é o Apocalipse.