Esta insuportável verdade!

Autor: Luiz Vanderley V. de Lima
Há muito tempo não ouço uma boa e dura verdade sobre mim. Por que será? Não tenho dado motivos para ouvir nada? Não, creio que meus amigos não me dizem algumas verdades pela mesma razão que faz com que eu não lhes diga tantas outras. Que desastre ocorreria se começasse a dizer todas as verdades que penso! Mesmo dizendo da melhor forma, com amor, com jeitinho e tal… Há verdades bombásticas por si mesmas. Veja se não é verdade isto.

Imagine você se tivesse amigos narcisistas… Sim, aqueles tipos extremamente vaidosos que pensam que todo o universo gira em torno de seus umbigos. Se você lhes dissesse sobre sua “umbiguidade”, creio eu, teriam dificuldade em continuar seus amigos. Se alguém me dissesse isso, eu acharia que é um recalcado qualquer.

E se tivesse amigos mentirosos? Dentre estes, há os que acreditam em suas próprias mentiras e os que mentem pra manterem uma boa imagem ou uma boa política de relacionamento. Seria mais próprio chamar-lhes de falsos. Sim, é possível ter amigos falsos. Já pensou se lhes disséssemos: “Cara: você é muito falso. Este seu abraço é falso. Seu sorriso é falso. Sua amizade é falsa”. Eu, se ouvisse isso, me viraria e nunca mais olharia pra este sujeitinho arrogante.

Você tem amigos burros, amigos imbecis, idiotas? É melhor que jamais saibam disso por seu intermédio. Espero que jamais me digam isto: não tenho esta maturidade também. Deixem-me com minhas burrices, imbecilidades e idiotices, mas, acima de tudo, deixem-me continuar sendo seus amigos.

Amigos políticos: estes são amigos, não? Não discuto políticos.

Se os amigos forem do tipo legalista, religiosos ao extremo e que pensam que são santos e tão somente fiéis, mas não passam de fariseus? Não lhes falemos isso, pois, além de nada adiantar, será chato às pampas o que eles vão falar da gente por aí.

Como se diz para os amigos feios, desajeitados, esquisitos que eles são feios, desajeitados e esquisitos? Se lhes dissermos isso, pulam da ponte. Se bem que isso eu já ouvi. Não pulei da ponte, mas agarrei no pescoço do sujeito e quase o matei.

E os amigos que roncam, que roncam muito, mas muito alto mesmo? Ou que têm mau hálito ou ainda não usam desodorante? Como dizer essas coisas a um amigo, sem lhe ofender ou magoar? Conquanto eu ache desonesto ver um amigo com feijão no dente ou com meleca no nariz e não lhe dizer nada… Mas, como reagirão a tal revelação?

Tenho amigos traíras, que não são amigos, mas é melhor que pensem que são.

Viram? A verdade pode, sim, ser desastrosamente insuportável. Não é toda verdade que liberta. É por isso que não podemos dizer tudo o que sentimos e pensamos. Isto seria uma transparência perigosa e talvez até homicida. Mas devo ter a certeza de que tudo o que eu disser seja verdade. O verdadeiro não diz tudo o que pensa, mas o que diz é verdade. O transparente diz tudo o que pensa, mas nem sempre é a verdade.

Talvez não sejamos bons amigos – entenda-se: profunda, real e incondicional amizade. Sim, a verdade: quem a pode suportar? É por essa razão que Jesus disse para primeiro tirarmos a trave que está no nosso olho – reconhecermos as verdades sobre nós – para depois tirarmos o argueiro que está no outro – ajudarmos ao outro a reconhecer as verdades sobre si mesmo. No próximo, eu falo mais sobre isso. De verdade!

Deixemos de coisa e cuidemos da vida.

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