Autor: Edival José Vieira
E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres (doutores), querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério (Ef. 4.11,12).
Para edificar a sua igreja o Senhor Jesus usa o trabalho dos salvos. Antes de Deus ter formado o seu povo, ele agiu só, como Deus Triúno, sem a nossa participação, na sua obra redentora. Isso é o que nos mostra a carta aos Efésios. O verso 3, capítulo 1º, diz-nos que Deus nos abençoou com toda sorte de bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo Jesus. Dentre essas bênçãos da maravilhosa graça de Deus, Paulo relaciona como obra do Pai, a eleição para a salvação e a predestinação para filhos (Ef. 1.4-5); como obra do Filho, a redenção dos eleitos, através do seu sangue (1.7); e, como obra do Espírito, a posse dos redimidos por Cristo, habitando neles, selando-os e garantindo-os para o dia da redenção final (1.13-14). Essa obra do Deus Triúno é chamada de uma nova criação; fomos “criados em Cristo Jesus” (Ef. 2.10), porque todos nós “estávamos mortos em ofensas e pecados” (2.1,5). Fomos vivificados por Cristo, uma vez que o nosso estado era de morte espiritual. O restante do capítulo 2 e o capítulo 3 de Efésios nos mostram o que Deus formou com essas pessoas que ele vivificou. De judeus e gentios, criados de novo, vivificados, ele formou um novo homem para o seu louvor e glória(2.15). A palavra “homem” aqui pode ser traduzida por “humanidade” ou “raça humana”. Deus formou uma nova humanidade, vivificada e salva, tirando-a do meio de uma raça humana caída e morta em pecados. Deus formou dessas pessoas salvas uma família: “… Já não sois estrangeiros e forasteiros, mas concidadãos dos santos e da família de Deus” (2.19). Ele formou dessas “pedras vivas” um edifício espiritual para a sua própria habitação (2.20-22). Ele formou um só “corpo”, composto de muitos membros (3.6;4.4); ele formou a sua igreja, como o povo agente da sua aliança (3.10). Esse é um resumo das bênçãos espirituais com as quais Deus nos abençoou. Depois de tudo isso, ele requer que nós sejamos uma bênção para o seu nome e que o glorifiquemos com nossas obras. Em Efésios, capítulo 2, verso 10, Paulo diz-nos que fomos criados em Cristo para as boas obras. Deus agora tem cooperadores na formação do seu reino, na edificação da sua igreja, até ao dia do retorno do Senhor Jesus Cristo. Nos capítulos 1 a 3 de Efésios, toda a ação é de Deus; a partir do capítulo 4, a igreja é conclamada a agir, cooperando com Deus na proclamação de sua obra restauradora. O “rogo-vos, portanto”, do início do capítulo 4, mostra-nos que chegou a nossa vez de agir. Efésios, capítulo 4, verso 6, diz-nos que Deus age por meio de todos. Ele confiou um ministério à sua igreja e esse ministério é feito com crentes aperfeiçoados e equipados (Ef. 4.12). E para aperfeiçoar, ou equipar os membros da igreja para realizar esse ministério, o Senhor concedeu uma relação de dons especiais que podem ser chamados de dons de aperfeiçoamento, como aparecem em Efésios 4.11: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres (doutores)”. O exercício desses cinco dons torna a igreja apta para as “boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” ( Ef. 2.10). O propósito de Deus, ao conceder essa relação de dons, foi o de equipar cada membro para exercitar o seu dom e ajudar na edificação da igreja. Como veremos, cada um desses dons tem a ver com a Palavra de Deus, que é o instrumento por excelência para aperfeiçoar o povo de Deus.
Identificando os cinco dons – Apóstolos e profetas: Podemos dizer que os dois primeiros dons, o de “apóstolo” e de “profeta” não estão em vigência hoje; foram dons para a época da revelação de Deus em forma de palavra escrita. Como resultado desses dons, nós temos hoje as Escrituras Sagradas. É através dessas Escrituras que a igreja é aperfeiçoada. Jesus disse em João 15:3: “vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado”; e em Efésios 5.26 está dito que Jesus purifica a sua igreja pela Palavra. Para ministrar a Palavra registrada nas Escrituras, o Senhor concede três outros dons, os quais estão em evidência hoje e, certamente estarão até o término do ministério terreno da igreja. Na sua essência esses três dons servem para edificar a igreja tanto qualitativa“até que todos cheguemos a… varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” (Ef. 4.13), quanto quantitativamente “… faz o aumento do corpo…”(Ef.4.16). Quando se fala na edificação da igreja, esses dois aspectos são óbvios, ou seja, seu crescimento espiritual e seu crescimento numérico, até completar o número dos eleitos de Deus.
Evangelistas: Esse dom é concedido visando o crescimento numérico da igreja. Um evangelista é aquele que tem o dom de evangelizar. Algumas versões até traduzem a palavra por “missionários”. É alguém que tem o dom de levar as boas novas a quem ainda não as conhece; é aquele que reúne as ovelhas. Um exemplo bíblico desse caso é Filipe, que tinha, além do dom do diaconato, (At. 6.5), o de evangelizar (At 8.26-39). Filipe é chamado de “o evangelista” (At. 21.8). Paulo certamente possuía esse dom em medida maior, como pode se depreender do trabalho evangelístico e missionário que fez. Ele, que foi um preparador de pastores, exortou Timóteo a fazer, além do trabalho pastoral, o trabalho de um evangelista ( 2ª Tm. 4.5). Esse dom é dado até hoje e tem sido responsável pelo avanço do cristianismo, que continua se espalhando até chegar aos confins da terra. Nossa igreja reconhece esse dom e tem ordenado evangelistas para atuar dentro do campo missionário; e como não podia deixar de ser, tem contribuído para a nossa expansão. Uma ênfase tem sido dada no sentido de que nós, os pastores, também façamos a obra de um evangelista, quer seja por dom, quer por necessidade ou ainda para cumprir o “ide… e pregai” de Jesus. Só assim teremos, além de igrejas bem doutrinadas, igrejas maiores e mais fortes numericamente falando.
Pastores: Se o dom de evangelista é o de reunir ovelhas, o dom do pastorado é o de aperfeiçoar as tais ovelhas. O pastor é aquele que fica com o rebanho, que convive com as ovelhas e, portanto, cabe a ele aperfeiçoar esses crentes para a obra do ministério. Tornar os crentes idôneos, capazes e bem equipados para o serviço é tarefa do pastor; esse trabalho muitas vezes é feito individualmente, no sentido de que cada um desenvolva o seu próprio dom. Paulo se esforçou para ensinar individualmente a Timóteo e torná-lo equipado para o ministério, e ordenou que Timóteo fizesse o mesmo com outros homens fiéis, para também equipá-los (2ª Tm. 2.2). Se os crentes não forem capacitados e treinados, eles serão infrutíferos. Jesus aperfeiçoou os seus discípulos dando-lhes aulas teóricas e praticas por mais ou menos três anos. É um trabalho difícil e leva tempo, mas é de grande recompensa. Jesus iniciou seu ministério sozinho; mais tarde ele já pôde enviar os doze e depois mais setenta; assim os trabalhadores do reino foram aumentando e o Evangelho do reino foi se espalhando por toda a terra.
Considerando que o aperfeiçoamento da igreja não tem limites, o pastor precisa estar sempre se aperfeiçoando. À medida que for o aperfeiçoamento do pastor, assim será o aperfeiçoamento da igreja. Paulo, na qualidade de pastor, disse com respeito à igreja dos colossenses: “a quem anunciamos, admoestando a todo homem, ensinando a todo o homem em toda a sabedoria; para que apresentemos a todo o homem perfeito em Jesus Cristo” (Cl. 1.28). Com respeito aos crentes da Galácia, Paulo disse: “meus filhinhos, por quem de novo sofro dores de parto, até que Cristo seja for
mado em vós” (Gl. 4.19). Por isso se vê que é um trabalho difícil o de aperfeiçoar uma igreja e torná-la equipada para o ministério. Contudo, o pastor foi aperfeiçoado para aperfeiçoar; ele foi equipado para equipar. Somos uns quarenta pastores conservadores para aperfeiçoar (equipar) uns três mil e duzentos membros, o que dá uma média de oitenta membros para cada um. Vamos encarar esse desafio e fazer o melhor que pudermos para que tenhamos uma igreja bem equipada para um grande e dinâmico ministério.
Mestres (doutores): O último dom com vistas ao aperfeiçoamento da igreja, conforme está relacionado em Efésios 4.11, é o dom de “mestre”. Embora alguns estudiosos da Bíblia defendam que esse dom é associado ao do pastorado, ou seja, que todo pastor deve ser também um mestre da Palavra, que deve ter o dom do ensino; outros, contudo, defendem que são dois dons distintos. Entre os que defendem esse ponto de vista encontra-se João Calvino. Para ele, esse é o dom que serve à preparação de pastores e outros líderes. São os que vivem do ensino e para o ensino. Assim Calvino expôs sobre esse dom: “Pastores, ao meu ver, são aqueles a quem é confiada a responsabilidade de um rebanho particular. Não faço objeção a que recebam o título de mestres (doutores), desde que compreendamos que existe outra classe de doutores que superintendem tanto a educação de pastores como a instrução de toda a igreja. É possível que um homem seja ao mesmo tempo pastor e doutor, mas os deveres são diferentes … sem pastores e sem doutores, porém, não pode haver nenhum governo da igreja” ( João Calvino, Comentário da Carta aos Efésios, pp. 122 e 123). Certamente que ele próprio recebeu esse dom da parte de Deus para saber ensinar o que ensinou e direcionar a igreja como direcionou, a ponto de sermos reconhecidos hoje como calvinistas. O apóstolo Paulo diz ter recebido da parte de Deus, entre outros dons, o de “doutor (mestre) dos gentios” (1ª Tm. 2.7). Deus pode capacitar seus servos com vários dons, como fez com Paulo. Ele era apóstolo, evangelista, pastor e mestre dos gentios. Assim ele foi um instrumento nas mãos de Deus para a edificação da igreja, tanto na qualidade de vida cristã, quanto na quantidade de novas almas acrescentadas ao povo de Cristo. O dom de mestre está relacionado na lista de dons da Primeira Carta aos Coríntios, capítulo 12. No verso 28, Paulo diz: “A uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro mestres (doutores) … porventura são todos mestres”? Como já vimos acima, apóstolos e profetas não existem hoje, contudo, existem os doutores, os quais se aprofundam no conhecimento do texto bíblico deixado pelos profetas e pelos apóstolos. Sem eles, disse Calvino, a igreja estaria sem rumo e sem governo. A igreja de Antioquia se tornou forte e bem estruturada e veio a ser sede das missões estrangeiras, conforme o relato de Atos 13.1. Parece-me lícito deduzir que isso devia-se ao fato de que “na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e mestres (doutores)”.
Esses três dons são indispensáveis para o equipamento da igreja. Roguemos a Deus para que eles sempre existam, e se alguns deles estão em falta no nosso meio, devemos buscá-los em oração, até que tenhamos evangelistas, pastores e mestres, todos cumprindo o seu dom e assim, aperfeiçoando a nossa igreja para um ministério cada vez mais abençoado.
Para atingir as metas, que todos nós conservadores almejamos, necessitamos da atuação eficaz destes dons de aperfeiçoamento. Precisamos ser uma igreja cada vez mais equipada e estruturada para a construção de um grande edifício espiritual. Lembremo-nos de que quando Deus nos concede dons, ele quer que os exerçamos com muita responsabilidade e com muito amor, como foi ensinado por Paulo (1ª Co. 12 e 13). Sem o amor, o exercício de qualquer dom é vão. “Se não tiver amor, nada seria,… nada disso me aproveitaria” (1ª Co. 13.2-3).
Amemos e trabalhemos na edificação da igreja do Senhor Jesus Cristo!
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