Enter ou amém?

Autor: Elvis Kleiber

A tecnologia informatizada tornou-se uma realidade tão presente em nosso dia-a-dia que passamos a depender constantemente de sua automação. São tantos os benefícios que desfrutamos da precisão e rapidez com que obtemos informações e serviços por meio de computadores que às vezes chego a me assustar com o que o futuro nos reserva.
Mas o mundo tecnológico e globalizado não trouxe apenas benesses, pois há muitos aspectos de sua influência que precisamos reavaliar. A rapidez com que cresce a população urbana em nosso país não parece aproximar as pessoas e aprofundar os relacionamentos. De 1940 a 1970, a população da cidade multiplicou-se por quatro e passou de 31% para 56% da população total, numa expansão equivalente a 40 milhões de pessoas”. Hoje, mais de 2/3 da população brasileira vive nas cidades. Nunca tantas pessoas estiveram morando tão próximas umas das outras. Esta explosão demográfica leva o indivíduo residente nos grandes centros a uma diversificação de atividades, passando a se comunicar com os demais, por meio de múltiplas relações funcionais.
Somos desafiados diariamente a produzirmos resultados por meio dos mais variados instrumentos de massificação das camadas sociais. Esta selva de pedra produz uma sociedade individualista e que enfrenta problemas de toda espécie, como depressão, insônia, suicídio e solidão.
Estamos sempre tão próximos de alguém mas ao mesmo tempo nos sentimos tão sozinhos, impotentes e temerosos. A maldade e a violência criaram uma barreira que nos impede de nos aproximarmos de estranhos, que algumas vezes querem apenas uma ajuda. As relações no ambiente de trabalho são, antes de qualquer coisa, produção e competitividade.
Observo esta realidade com a preocupação de quem vê a influência desta era informatizada nas orações que hoje são feitas. Muitos irmãos agem como se orar fosse algo semelhante a dar um “Enter” para introduzir as “informações ou petições” aos céus.
São tantas as “ordens” que hoje são dadas para que Deus execute, que chego a pensar que muitos já passaram de servos a senhores. Expressões como “eu não aceito Senhor!” ou “eu determino” soam tão distante do conhecido exemplo de Jesus, que disse orando ao Pai: “Contudo, seja feita a sua vontade”.
Outro aspecto preocupante surge quanto ao imediatismo com que se espera ser atendido. A rapidez com que os computadores respondem, transformou muitos cristãos em pessoas ansiosas e portadoras de uma síndrome que, segundo o psiquiatra e pesquisador Augusto Cury, denomina-se SPA (síndrome do
pensamento acelerado).
As pessoas estão cada vez mais sujeitas ao estresse por não conseguirem esperar respostas demoradas diante de situações complexas. Por outro lado, há quem em meio a uma e outra afirmação use o amém como pergunta. A palavra amém significa: “assim seja” ou “eu concordo”. Portanto, não podemos usar um ponto de interrogação. Na Bíblia não observamos seu uso seguido de interrogação, pois seria uma evidente contradição. Que possamos diariamente dizer como os discípulos: “Pai, ensina-nos a orar”.

e-mail: elviskleiber@ig.com.br <mailto:elviskleiber@ig.com.br>

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