Autor: Bispo José Ildo Swartele de Mello
O fundamento do casamento
A mentalidade utilitarista tem tomado conta da sociedade moderna, onde cada um busca o que é seu. É a mentalidade egoísta da auto-satisfação e do proveito próprio (cada um quer levar vantagem em tudo). É aquele patrão que suga do empregado e depois o dispensa quando este já não lhe interessa mais. A mesma mentalidade descartável se observa no casamento, quando as pessoas parecem mais perguntar: “que vantagem que eu levo?” Do que “o que é que eu estou trazendo para o casamento?”. Os votos e os compromissos do casamento, tais como: “na felicidade ou na desventura, em riqueza ou na pobreza, com saúde ou enfermo(a)… até que a morte nos separe”, são quebrados com a maior facilidade. Assim, quase tudo se torna desculpa para a separação e o divórcio. Infantilidade e leviandade são uma constante em nossa sociedade. Os casais não se esforçam mais como antigamente para enfrentar e superar os obstáculos que surgem ao casamento. Não unem mais suas forças para remover o obstáculo ou superá-lo com criatividade e disposição. Mas, afinal, o que é o casamento? Seria meramente um contrato social entre duas pessoas? O que deve sustentar um casamento? A falta de amor seria desculpa legítima para se dissolver um casamento? Dietrich Bonhoeffer escreveu um sermão para o casamento de uma sobrinha sua. Disse ele: “O casamento é maior do que o amor que vocês têm um pelo outro. Ele tem em si grande dignidade e força por ser a ordenança santa através da qual Deus planejou a perpetuação da raça humana, até o fim dos tempos. No amor que os une, vocês vêem apenas a si mesmos no mundo, mas ao se casarem tornam-se um elo na cadeia das gerações que Deus faz aparecer e partir para sua glória, chamando-as para o seu reino. Em seu amor, vocês vêem apenas o sétimo céu da sua felicidade, mas no casamento recebem uma posição de responsabilidade perante o mundo e a raça humana. Seu amor é propriedade particular, mas o casamento não pertence a vocês; é um símbolo social, uma função de responsabilidade.”
Nossa sociedade tem perdido o senso da importância da aliança. Cada dia que passa, as pessoas estão levando menos a sério os votos e os compromissos de fidelidade. O número de divórcios tem aumentado em ritmo muito acelerado e preocupante. Parece que as pessoas em geral não estão nem aí para o fato de Deus odiar o repúdio (Malaquias 2.10-16). Pensam que o divórcio é a solução para os problemas de relacionamento. Perderam o temor do Senhor que é base de sustentação dos relacionamentos humanos como ensinou o Apóstolo Paulo (Ef 5.21, 22 e 25; Cl 3.18). Paulo ressalta as expressões “no temor do Senhor”, “como ao Senhor” e “como convém no Senhor”, mostrando que, respeitando a Deus e buscando agradá-lo, encontraremos uma maneira de nos entendermos bem com a outra pessoa. Temos aí um bom fundamento para a solução das diferenças, crises e problemas do casamento. Então, o casal, no temor do Senhor, deve levar a sério sua aliança e compromisso; ambos devem procurar nutrir o amor e o afeto. Cada um deve se esforçar por preservar a unidade, a harmonia, promovendo, assim, a felicidade do lar. É possível quando se tem vontade, quando se tem fé e quando se busca amar.
Enfrentando crises e dificuldades no casamento:
Algumas áreas de atrito: 1) Comportamento: Temperamento – reagimos de modo diferente, etc. 2) Psicológicos: traumas e feridas na alma (necessário ser sensível ao cônjuge, conhecer seus dilemas interiores, seus traumas familiares: maneira como foi criada, etc.); 3) Criação: hábitos fortíssimos e arraigados (toalhas e roupas jogadas; limpeza e higiene; etc.) 4) gostos diferentes 5) supervalorização do irrisório, se faz uma tempestade num copo d’água (ronco, por exemplo) 6) Decisões e escolhas; decisões pessoais e profissionais (o marido, por exemplo, que vive trocando de emprego e comunica depois a esposa; mudança, compras, etc – o ideal seria uma profunda participação nas decisões mútuas) 7) Finanças 8) Intromissões de familiares e amigos; como deve ser o relacionamento com os sogros? Quem deve estabelecer os limites? Como evitar problemas nesta área? Como solucionar os já existentes? 9) Sexo e afeto 10) Quando o cônjuge é negligente para com as suas responsabilidades; 11) Vícios; 12) Falta de Comunicação; palavras duras e cruéis; carência de palavras amigas e cheias de afeto; falta de elogios em particular e em público; 13) Ciúmes; 14) infidelidade, mentiras.
O que fazer quando brigamos? Somos humildes para reconhecer os nossos erros ou sempre nos justificamos? Sabemos pedir perdão? Somos maduros o suficiente para perdoar e buscar a reconciliação? Tomamos a iniciativa para a reaproximação ou ficamos esperando que o outro o faça? Estamos dispostos a renunciar aquilo que estorva nosso relacionamento conjugal e familiar, abandonando uma atitude egoísta e buscando o bem comum a todos? O que cada cônjuge pode fazer para melhorar o seu casamento?
O que fazer quando o amor esfria ou acaba? A falta de amor não deve ser usada como desculpa para a separação. Vimos acima que o amor não é a base para o casamento, mas que é o compromisso do casamento levado a sério que deve servir de base para a edificação e resistência do amor. O amor não é opção é mandamento. É dever de um cônjuge amar o outro. Amor é verbo, é ação. O amor não é algo externo a nós, como um raio que cai sobre nós, a respeito do qual não podemos fazer nada. Somos responsáveis pelo amor. Não podemos dizer: “não amo mais, acabou. O que me resta fazer agora senão desistir? Ou, o que posso fazer já que não amo mais?”. Pois, na verdade, você pode fazer muito. Você pode amar! Você pode investir no amor, plantar, regar, cultivar, fazer crescer. O amor é arma poderosa que pode transformar toda e qualquer situação. Plante o amor e colherá o fruto da felicidade. Devemos amar assim como Deus nos amou, de maneira incondicional. Mas, muitos dizem: “Eu amarei se ele(a) fizer isso e aquilo.” O imediatismo e o utilitarismo presentes em nossa sociedade faz com que a maioria não esteja disposta a suportar as frustrações geradas pelas relações humanas, o que gera ruptura prematura das relações de amor e amizade, não concedendo a elas o tempo necessário e a chance de sobreviver e de se solidificar. Maturidade é saber se impor frustração em curto prazo para colher satisfação a médio e longo prazo. Você está disposto a investir amor no seu casamento?
Igreja Metodista Livre do Brasil
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