Autor: Autor Desconhecido
Introdução:
A Comissão de Missões da Aliança Evangélica Mundial (WEF) reuniu 160 líderes de missões e de igrejas, representando tanto a prática missionária como a reflexão missiológica, de 53 países diferentes, durante os dias 10 a 15 de outubro de 1999, para:
Refletir juntos sobre os desafios e as oportunidades que as missões mundiais enfrentam no amanhecer de um novo milênio;
Rever as diferentes correntes da missiologia evangélica e da prática missionária do Século XX, especialmente desde o Congresso de Lausanne em 1974;
Continuar a desenvolver e a utilizar uma missiologia relevante que reflete a diversidade cultural do povo de Deus.
Nós, presentes à consulta, proclamamos o Cristo vivo num mundo dilacerado por conflitos étnicos, maciça disparidade econômica, catástrofes naturais e crises ecológicas. A tarefa missionária é tanto assessorada como impedida pelo desenvolvimento tecnológico que agora alcança os mais remotos rincões da terra. A diversidade das aspirações religiosas das pessoas, expressada na experiência religiosa e espiritual multiforme, desafia a verdade última do Evangelho.
No Século XX, a missiologia testemunhou um desenvolvimento sem precedentes. Nos últimos anos, a reflexão de muitas partes da Igreja tem ajudado as missões a continuar abandonando as tendências paternalistas. Hoje continuamos a explorar a relação entre o Evangelho e a cultura, entre a evangelização e a responsabilidade social e entre os mandatos bíblicos e as ciências sociais. Vemos algumas organizações internacionais – entre elas a Aliança Evangélica Mundial (WEF), a Comissão de Lausanne para a Evangelização Mundial, e o Movimento AD 2000 – iniciando um processo promissor de cooperação e unidade.
Esforços crescentes de cooperação têm sido catalisados através de uma ênfase em metodologias que envolvem alvos mensuráveis e crescimento numérico. Fluindo de um compromisso urgente de evangelização, estas metodologias têm mostrado como a nossa tarefa poderia ser cumprida. Porém, estes métodos precisam ser avaliados à luz de princípios bíblicos e de um crescimento que nos leva a uma semelhança cada vez maior de Cristo.
Nos alegramos com a diversidade das vozes missiológicas ao redor do mundo, mas confessamos que não temos dado a devida consideração a todas elas em nossa teoria e prática. Velhos paradigmas ainda prevalecem. A participação e a conscientização da Igreja global, assim como missões de todas as nações para todas as nações, são necessários para o desenvolvimento de uma missiologia válida em nossos dias.
Nossas discussões nos convidaram a uma contínua dependência da poderosa presença do Espírito Santo em nossas vidas e ministérios, enquanto esperamos ansiosamente pelo retorno glorioso de nosso Senhor Jesus Cristo.
À luz destas realidades, fazemos as seguintes declarações:
Declarações:
A nossa fé baseia-se na autoridade absoluta das Escrituras inspiradas por Deus. Somos herdeiros das grandes confissões cristãs que nos foram entregues. Todas as três pessoas da Divindade são ativas na missão redentora de Deus. Nossa missiologia está centralizada no tema bíblico básico da criação do mundo por Deus, o amor redentor do Pai pela humanidade caída revelada na incarnação, na morte vicária e na ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, e finalmente, na redenção e na renovação de toda a criação. O Espírito Santo, prometido pelo nosso Senhor, é o nosso consolador, mestre e fonte de poder. É o Espírito que nos convoca à santidade e à integridade. O Espírito dirige a Igreja para toda a verdade. O Espírito é o agente da missão, convencendo do pecado, da justiça e do juízo. Nós somos servos de Cristo que recebemos o poder e a direção do Espírito, cujo objetivo é glorificar a Deus.
Confessamos os seguintes temas como verdades de especial importância na presente era. Estes temas são claramente afirmados em toda a Escritura e falam do desejo de Deus em providenciar salvação para todos os povos.
Jesus Cristo é Senhor da Igreja e Senhor do Universo. Por fim todo o joelho se dobrará e toda a língua confessará que Jesus é Senhor. O senhorio de Cristo deve ser proclamado por todo o mundo, convidando todos a serem libertos da escravidão do pecado e do domínio do mal, para poderem servir ao Senhor para a Sua glória.
O Senhor Jesus Cristo é a revelação singular de Deus e o único Salvador do mundo. Salvação somente é encontrada em Cristo. Deus dá testemunho de si mesmo na criação e na consciência humana, mas este testemunho não é completo sem a revelação de Deus em Cristo. Diante das reivindicações competidoras da verdade, proclamamos, com humildade, que Cristo é o único Salvador, conscientes de que o pecado, assim como as barreiras culturais, muitas vezes cegam aqueles pelos quais Ele morreu.
As boas novas de salvação, possibilitadas pela obra de Jesus Cristo, precisam ser expressas em todos os idiomas e em todas as culturas do mundo. Fomos comissionados para sermos mensageiros do Evangelho para toda a criatura, a fim de que todos possam ter a oportunidade de confessar a fé em Cristo. A mensagem precisa chegar a eles numa linguagem que podem entender e numa forma que é apropriada para a sua situação. Crentes, dirigidos pelo Espírito Santo, são encorajados a criar formas culturalmente apropriadas de adoração e de apresentar as verdades bíblicas que glorifiquem a Deus para o benefício de toda a Igreja.
O Evangelho é boa nova e responde a todas as necessidades humanas. Enfatizamos a natureza integral do Evangelho de Jesus Cristo. Tanto o Antigo como o Novo Testamento demonstram a preocupação de Deus com o ser humano integral, na sociedade como um todo. Reconhecemos que as bençãos materiais vêm de Deus, mas que a prosperidade não deve ser confundida com piedade.
A oposição à divulgação do Evangelho é principalmente um conflito espiritual que envolve o pecado humano e os principados e as potestades que se opõe ao Deus vivo. Este conflito é manifesto em diferentes formas, por exemplo, no temor a espíritos e na indiferença para com Deus. Reconhecemos que a defesa da verdade do Evangelho também é uma batalha espiritual. Como testemunhas do Evangelho, anunciamos que Jesus Cristo tem poder sobre todos os poderes e é capaz de libertar a todos que se voltam para Ele em fé. Afirmamos que na cruz Deus ganhou a vitória.
O sofrimento, a perseguição e o martírio são realidades presentes para muitos cristãos. Somos conscientes de que a nossa obediência missionária envolve sofrimento e reconhecemos que a Igreja está experimentando esta realidade. Afirmamos o nosso privilégio e a nossa responsabilidade em orar pela igreja perseguida. Fomos chamados para participar de sua dor, fazer o que podemos para aliviar o seu sofrimento, e trabalhar a favor dos direitos humanos e da liberdade religiosa.
Os sistemas econômicos e políticos afetam profundamente a expansão do Reino de Deus. O governo humano foi instituído por Deus, mas toda a atuação das instituições humanas está marcada pela queda. As Escrituras exortam os cristãos a orarem pelas autoridades e a trabalharem a favor da verdade e da justiça. A resposta cristã apropriada para os sistemas políticos e econômicos exige a direção do Espírito Santo.
Deus trabalha numa variedade de tradições e organizações cristãs, para a Sua glória e para a salvação do mundo. Por demasiado tempo, crentes, divididos por questões de organização eclesiástica, liturgia e doutrina – como a doutrina dos dons e do ministério do Espírito Santo – têm falhado em reconhecer o trabalho uns dos outros. Afirmamos, abençoamos e oramos por um testemunho cristão autêntico aonde quer que esteja.
Para sermos testemunhas eficazes acerca do Deus santo, necessitamos demonstrar santidade, amor e justiça pessoal e corporativa. Nos arrependemos da hipocrisia e da conformidade com o mundo, e conclamamos a Igreja para um compromisso renovado de vida em santidade. Santidade requer abandono do pecado, treinamento em justiça e crescimento que nos leva a sermos cada vez mais semelhantes a Cristo.
Compromissos:
Nós nos comprometemos a continuar e a aprofundar a nossa reflexão sobre os seguintes temas, ajudando uns aos outros a enriquecer o entendimento e a prática compartilhando as contribuições das diferentes regiões do mundo. O desejo de nosso coração é de discipular as nações com uma comunicação eficiente e fiel de Cristo, a toda a cultura e a todo o povo.
O fundamento Trinitariano das Missões
Nos comprometemos a uma renovada ênfase na missiologia teocêntrica. Isto nos convida a um novo estudo da operação da Trindade na redenção da raça humana e de toda a criação, assim como de entender as papéis específicos do Pai, do Filho e do Espírito Santo na missão a favor do mundo perdido.
Reflexão Bíblica e Teológica
Confessamos que a nossa reflexão bíblica e teológica tem, às vezes, sido superficial e inadequada. Confessamos, igualmente, que freqüentemente temos sido seletivos em nosso uso de textos ao invés de sermos fiéis à revelação bíblica como um todo. Nos comprometemos a nos engajar num renovado estudo bíblico e teológico norteado pela missão, e de perseguir uma missiologia e uma prática moldadas pela Palavra de Deus, vivificada e iluminada pelo Espírito Santo.
Igreja e Missão
A Igreja em missão é central no plano de Deus para o mundo. Nos comprometemos a fortalecer nossa eclesiologia de missão, e a encorajar a Igreja a nível mundial a ser uma verdadeira comunidade missionária, na qual todos os cristãos estão envolvidos em missão. Diante da crescente resistência e oposição dos poderes políticos, do fundamentalismo religioso e do secularismo, nos comprometemos a encorajar e a desafiar as igrejas a responderem com um nível mais profundo de unidade e de participação nas missões.
Evangelho e Cultura
O Evangelho sempre é apresentado e recebido dentro de um contexto cultural. Por isso, é essencial que se torne clara a relação entre o Evangelho e a Cultura, tanto na teoria como na prática, reconhecendo que existem tanto aspectos bons como maus em todas as culturas. Nos comprometemos a continuar a demonstrar a relevância da mensagem cristã em todas as culturas e a assegurar que os missionários aprendam a batalhar biblicamente com a questão da relação entre o Evangelho e a cultura. Nos comprometemos a um estudo sério sobre como as diferentes perspectivas culturais podem enriquecer a nossa compreensão do Evangelho, e como as diferentes cosmovisões devem ser criticadas e transformadas pela Palavra de Deus.
Pluralismo
O pluralismo religioso nos desafia a nos mantermos fiéis à singularidade de Cristo Jesus como Salvador, ao mesmo tempo que trabalhamos a favor de uma crescente tolerância e compreensão entre as comunidades religiosas. Não podemos buscar harmonia tornando relativa a reivindicação da verdade pelas religiões. Urbanização e mudanças políticas radicais têm aumentado a violência e a hostilidade entre as religiões e os grupos étnicos. Nos comprometemos a ser agentes de reconciliação. Também nos comprometemos a proclamar o Evangelho de Jesus Cristo com fidelidade e com humildade, em amor.
Conflito Espiritual
Damos as boas-vindas à renovada atenção nas últimas décadas do tema bíblico do conflito espiritual. Nos regozijamos com o fato de que o poder e a autoridade não são nossos mas de Deus. Ao mesmo tempo, necessitamos assegurar que o interesse pela batalha espiritual não se torne um substituto ao tratamento das questões primárias de pecado, salvação, conversão e luta pela verdade. Nos comprometemos a aprofundar nossa compreensão bíblica e nossa prática de conflitos espirituais, ao mesmo tempo que zelamos contra elementos não bíblicos e sincretistas.
Estratégia em Missões
Somos gratos pelos muitos elementos úteis recebidos da ciências sociais. Estamos preocupados com a necessária submissão destes à autoridade das Escrituras. Portanto, recomendamos uma crítica saudável das teorias missionárias que dependem fortemente de conceitos de “marketing” e de missiologia em função de objetivos.
Missiologia Globalizada
É necessária a contribuição específica de cada parte da Igreja assim como é preciso responder aos desafios enfrentados em cada nação. Somente assim a nossa missiologia pode desenvolver a riqueza e a textura refletida nas Escrituras e necessária para uma obediência completa ao nosso ressurreto Senhor. Nos comprometemos a ser vozes de todos os segmentos de toda a Igreja a nível global no desenvolvimento e na implementação de nossa missiologia.
Caráter Piedoso
Santidade bíblica é essencial para a credibilidade do testemunho cristão. Nos comprometemos a uma renovada ênfase de um viver piedoso e numa atitude de servos, e recomendamos com insistência as instituições de treinamento, tanto missionárias como ministeriais, a enfatizarem a formação do caráter cristão através de uma orientação bíblica e do treinamento prático.
A Cruz e o Sofrimento
Assim como o Senhor nos chamou a tomarmos nossa cruz, lembramos à Igreja do ensino de Cristo de que o sofrimento faz parte da autêntica vida cristã. Num mundo cada vez mais violento e injusto, com opressão política e econômica, nós nos comprometemos a capacitar a nós mesmos e a outros para o sofrimento no serviço missionário e a servir à igreja sofredora. Nos empenharemos em articular uma teologia bíblica de martírio.
A Responsabilidade Cristã e a Ordem Econômica Mundial
Num mundo cada vez mais controlado pela forças econômicas globais, os cristãos necessitam estar conscientes dos efeitos corrosivos da afluência e dos efeitos destrutivos da pobreza. Necessitamos estar cônscios do etnocentrismo em nossa visão das forças econômicas. Nos comprometemos a responder às realidades da pobreza mundial e a nos opor às políticas que servem ao poderoso e não ao fraco. É responsabilidade da Igreja em cada lugar afirmar o significado e o valor de um povo, especialmente quando culturas indígenas enfrentam o perigo de extinção. Conclamamos todos os cristãos a refletirem sobre a preocupação de Deus a favor da justiça e do bem-estar de todos os povos.
Responsabilidade Cristã e a Crise Ecológica
A terra pertence ao Senhor e o Evangelho é boa nova para toda a criação. Cristãos compartilham a responsabilidade de cuidar da terra, dada por Deus à toda a humanidade. Convidamos todos os cristãos a fazerem um compromisso a favor da integridade ecológica, praticando uma mordomia responsável pela criação, e encorajamos os cristãos a se envolverem no cuidado do meio ambiente e nas iniciativas de proteção ao ecossistema.
Cooperação
Como cidadãos do Reino de Deus e membros do Corpo de Cristo, nos comprometemos a renovar os esforços a favor da cooperação porque é a vontade do Senhor que sejamos um e que trabalhemos em harmonia no Seu serviço, para que o mundo creia. Reconhecemos que nossas tentativas nem sempre se basearam num reconhecimento de igualdade. Uma Teologia inadequada, especialmente referindo-se à doutrina da igreja, e o desequilíbrio de recursos, têm dificultado o trabalho em conjunto. Prometemos buscar meios para solucionar este desequilíbrio e para demonstrar ao mundo que os crentes são verdadeiramente um no serviço a Cristo.
Cuidado Pastoral
O serviço ao Senhor em ambientes transculturais expõe os missionários a muitos fatores de estresse e de criticismo. Embora reconheçamos que os missionários possuem as mesmas limitações da nossa humanidade em comum, e têm cometido erros, afirmamos que eles merecem amor, respeito e gratidão. Com demasiada freqüência, agências, igrejas e irmãos em Cristo deixaram de seguir as orientações bíblicas no tratamento dos obreiros transculturais. Nos comprometemos a apoiar e a cuidar dos nossos missionários por causa deles e pelo testemunho do Evangelho.
Compromisso Geral:
Nós, os participantes da Consulta Missiológica de Foz de Iguaçu, missionários, missiológos e líderes de igrejas, declaramos nossa paixão pela urgente evangelização do mundo todo e pelo discipulado das nações para a glória do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Em todos os nossos compromissos dependemos do Senhor que nos dá força pelo Espírito Santo para cumprirmos com a Sua missão. Como evangélicos, nós nos comprometemos a guardar nossa herança bíblica neste mundo em constante mutação. Nos comprometemos a participar ativamente na formulação e na prática da missiologia evangélica. Capacitados pelo Espírito, desejamos levar as boas novas radicais acerca do Reino de Deus para todo o mundo. Afirmamos nosso compromisso de amor uns pelos outros e de oração uns pelos outros, ao batalharmos para fazer a vontade de Deus.
Nos regozijamos no privilégio de fazer parte da missão de Deus em proclamar o Evangelho de reconciliação e de esperança. Alegremente esperamos a volta do Senhor, e apaixonadamente ansiamos ver a realização da visão escatológica quando pessoas de toda a nação, tribo e língua estarão adorando o Cordeiro.
Para este fim, sejam glorificados o Pai, o Filho e o Espírito Santo! Aleluia!
Amém!
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