Autor: Autor Desconhecido
Vivemos, diz-se, na Pós-Modernidade, uma expressão ambígua, sujeita às mais diferentes e contraditórias definições. Sua articulação quer significar, fundamentalmente, dentre outras coisas, que os pressupostos epistemológicos e científico-metodológicos que caracterizaram até aqui a Modernidade, parecem ter chegado ao ponto máximo de saturação e esgotamento e que, por isso, o começo de um novo período histórico já se avizinha no horizonte da experiência humana. Já com certa desenvoltura falamos em economia global e vemos o mundo como uma “aldeia global”. Caminhamos para a constituição de uma cultura transnacionalizada graças aos “milagres” da cibernética, da mídia, do marketing e sobre as bases de uma sociedade de consumo altamente sofisticada.
O que significa falar de missão cristã num contexto complexo e diverso como este? Na medida em que os símbolos religiosos são pervertidos, transformando-se em produtos de consumo à disposição de todos, que sentido tem e que tarefas são exigidas dos seguidores da contracultura inaugurada por Jesus?
Pautas para uma nova missão
As Igrejas, com suas variadas agências de autopropagação, autopreservação e de serviços à sociedade, que se constituem e se expressam nas comunidades cúlticas locais, nos diferentes organismos ecumênicos, nas entidades ecumênicas de serviço e nas multiplas agências de cooperação, estão sendo desafiadas a assumir, com humildade e perseverança, a implementação de um novo modelo de discipulado, de modo a tornar seu testemunho do Reino pertinente às novas condições históricas que atravessamos. Os tempos são confusos e as visões que nos suscitam são na maioria das vezes, difusas.
Repensar a missão dos seguidores de Jesus, nestes tempos de pós-Cristandade, isto é, de fim da vigência hegemônica do Cristianismo, e de transição para um novo período civilizacional ainda não claramente definido, implica que levemos em consideração, com urgência e seriedade, alguns dilemas cruciais:
• Como reconhecer e manter as riquezas humanizadoras de nossa tradição cristã?
• Como celebrar a diversidade, se fomos treinados a considerar o diferente como ameaça e perigo?
• Como resistir à dominação se as estruturas de sentido, nossos símbolos mais fundamentais, são articulados para a projeção de (contra) valores antilibertários?
Fazer frente a tais questões exige de nós um esforço coletivo para a elaboração de novos parâmetros para a missão a partir do modelo ético-existencial plasmado pelo Jesus dos evangelhos. Podemos perceber algumas linhas de força que, já explicitadas em alguns colóquios ecumênicos e, de modo especial, na “Conferência sobre Justiça, Paz e Integridade da Criação”, patrocinada pelo Conselho Mundial de Igrejas, em Seul, Coréia em l992, podem dar corpo a uma nova proposta de ação missionária:
• A busca da justiça do Reino é o fundamento primeiro da missão dos seguidores de Jesus. As flagrantes e escandalosas expressões de injustiça que permeiam e sustentam as relações entre os humanos, de forma alguma, podem ser aceitas e muito menos toleradas pela comunidade cristã.
• A missão, para ser fiel ao Espírito de Jesus, deve basear-se no diálogo com as outras manifestações religiosas, partindo da dura realidade dos que sofrem as consequências das estruturas históricas de dominação.
• Se a missão é entendida como serviço aos outros e não como conquista e dominação, deve acolher o diferente com admiração e respeito, pois nele o Deus de Jesus se faz presente.
• A mensagem do Reino, que Jesus apregoa, comporta uma dimensão cósmica, não se destina apenas aos humanos, mas à totalidade da criação que está sempre sob os cuidados do Pai. Assim é missão dos seguidores de Jesus cuidar da terra como o lar comum da humanidade.
• Se na perspectiva cristã Deus se ocupa dos humanos com compaixão e com amor, é parte essencial da missão a atenção e o cuidado com as necessidades físicas de todos, especialmente as dos famintos.
• A não-violência e a promoção da paz, do shalom de Deus, assim como o perdão, a reconciliação e o amor aos inimigos, constituem elementos decisivos da agenda ética de Jesus. A missão de seus seguidores, em sua tríplice dimensão – testemunho, serviço e proclamação – implica o exercício pleno destes valores éticos. Ou seja, a missão ao dissentir, como Jesus, das normas desumanizadoras que organizam as sociedades, a partir do poder de alguns sobre os demais, assume uma dimensão cruciforme, ou então, deixa de ser a missão do Filho do Homem.
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