Autor: Juarez Marcondes Filho
Eis finda a longa semana que culminou com a jornada rumo ao Calvário. Inaugura-se nova semana. É manhã do primeiro dia da semana. É manhã do primeiro dia de um novo tempo. A vida triunfou sobre a morte. A luz prevaleceu sobre as trevas. O pecado foi coberto pelo perdão divinal. As potestades infernais foram derrotadas pelo sopro da boca do Cordeiro.
A manhã da ressurreição é o marco primordial da fé cristã. É neste evento que toda a obra da salvação ganha sentido. Do contrário, é vã tanto a fé como a pregação (I Coríntios 15.14). Não crer na ressurreição não se constitui em mera discordância doutrinal, mas, sim, em ruir as bases do edifício da teologia cristã.
Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos. Não estamos lidando com uma imagem, ou uma estória ilustrativa, mas com um fato histórico, cujo conteúdo é inegável. Todas as tentativas para negar a historicidade da ressurreição tornaram-se motivo de riso. A começar das autoridades religiosas daqueles dias, que resolveram montar uma severa guarda para evitar qualquer tentativa de roubar o corpo de Jesus. É de se imaginar a admiração da escolta ao não encontrarem o que fora sepultado. Por longo tempo devem ter ouvido a indagação: “por que buscais entre os mortos ao que vive? “ (Lucas 24.5).
Mesmo não sendo novidade, a negação da ressurreição tem ganho nuances diferenciadas ao longo da história, inclusive combinando outras recusas. Há quem afirme que seria impossível Cristo ter ressuscitado, pois ele nem mesmo existiu do ponto de vista terreno. Se ele não existiu, não poderia ter morrido, logo, não necessitava ressurgir. São as variadas formas de docetismo (do verbo grego “dokéo”, que significa aparentar), heresia que se instalou desde cedo no cristianismo, afirmando que Cristo não se encarnou; para o docetismo, Cristo teve apenas uma aparência humana, por assim dizer, foi uma aparição.
Com a mesma convicção que professamos a crença na encarnação do verbo, declaramos nossa fé na vitória de Cristo sobre a morte, por meio da ressurreição. “Onde está, ó morte, a tua vitória?” (I Coríntios 15.55). A vitória foi da vida, pelo poder de Deus.
Professamos a fé na ressurreição de Cristo, abrindo espaço para a plena esperança cristã. Porque “se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” ( I Coríntios 15.19). Não pode haver cristianismo autêntico quando ele se esgota em virtudes morais, em obras assistenciais, em amor ao próximo ou, mesmo, em fervor religioso. A genuína fé cristã lança suas estacas para além da vida presente. Ela se arroja ao porvir.
A esperança cristã, de um lado, aguarda a manifestação plena da glória de Deus (Romanos 5.2), de uma terra inundada pela presença maravilhosa do Senhor, de outro lado, espera a oportunidade de participar de tal realidade experimentando a ressurreição dos que dormem no Senhor. Afinal, “Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem” (I Coríntios 15.20). Ou seja, a ressurreição de Cristo foi o primeiro fruto, de muitos entre os quais esperamos nos encontrar, também.
Assim, afirmamos que Cristo vive. E porque ele vive podemos crer no amanhã.
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