Autor: Antonio Carlos Barro
O ser humano tem uma capacidade extraordinária de promover-se à custa de outros seres humanos. A promoção através do método comum e árduo do trabalho de todos os dias é facilmente substituída pela esperteza e pelo jeitinho. Para se aparecer ou mostrar-se benevolente a pessoa não se faz de rogada, principalmente nos dias atuais quando as necessidades são muitas. São tantos projetos que solicitam a nossa ajuda que ficamos apalermados diante do enorme desafio de melhorarmos a nossa sociedade. Fazemos o que podemos e fazemos com os poucos recursos que temos.
O que não pode acontecer é a caridade com chapéu alheio. Além de ser de tremendo mau gosto, é uma clara demonstração de falta de caráter cristão. Se o chapéu é alheio, ele não deveria ser utilizado de maneira alguma, e se é utilizado alguma coisa está sendo defraudada do proprietário do chapéu. Segundo o psicanalista Mario Quilici essa prática é característica do narcísico. Narcisista é aquela pessoa que vê o mundo através de si mesmo. Ela é a referência para todas as coisas. Os narcisistas são especialistas em roubar créditos alheios, afirma ainda o mesmo psicanalista. Uma boa norma para desmascarar o fazedor de caridade com o chapéu alheio é a lembrança do velho ditado: “Esmola, quando é muita, o santo desconfia”.
O problema em aplicar esse ditado é que vivemos num país miserável e assim que surge um tão bom e grande benfeitor, apanha-se logo o que está dentro do chapéu e nenhuma pergunta é feita. Isso é ruim. Instituições deveriam ser mais criteriosas no recebimento de donativos. Deveriam aplicar os princípios do reino de Deus todas as vezes em que a esmola for grande.
Outra característica do amigo do chapéu alheio é o incontrolável desejo de tornar-se populista. Cair no agrado do povo, que, normalmente é ignorante das verdadeiras motivações desse “amigo”. Invariavelmente, com o chapéu vem também o chicote. A nossa cultura é pródiga em promover e amar caudilhos.
O “amigo” do chapéu alheio me faz lembrar da estória da sociedade entre o porco e a galinha. Para matar a fome do mundo, a galinha propôs ao porco uma joint venture. Para fazer uma boa omelete, a galinha forneceria os ovos e o porco forneceria o bacon. Foi ai que o porco percebeu que essa sociedade não era tão boa assim e reclama com a galinha: “Que tipo de sociedade é essa? Você tem mais facilidade em participar pois está acostumada a botar ovos, mas eu terei que entregar o bacon, meu próprio corpo”. A galinha respondeu com tranqüilidade: “Sociedade é assim mesmo. Uns fazem mais sacrifícios do que os outros”.
Assim, o amigo do chapéu alheio envolve-se apenas superficialmente, pois nada do que oferece lhe custa muito; enquanto os outros se comprometem com a causa, muitas vezes dando suas próprias vidas por elas. Mas ao fim e ao cabo a glória vai toda para o usuário do chapéu alheio. Envolvimento e comprometimento são coisas diferentes.
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