Autor: Pedro Lima Vasconcellos e Rafael Rodrigues da Silva
A cada ano nos juntamos para celebrar, festejar e vivenciar o Natal. Um dia inesquecível em nossas vidas desde crianças, no aguardar dos presentes e no vislumbrar as luzes e os enfeites. Mas o que significa de fato o Natal? Quais os significados que atribuímos a esta festa a cada ano? São inquietações que a cada 25 de dezembro dançam e giram ao redor dos desejos e desafios.
Nos desejos do Natal nos deparamos com um tempo de espera e de novidades. “Nasceu um menino!”, eis a profecia de Isaías 9,5. Surpresa do novo! Espera de novidades/natividades em meio às crises e dificuldades que cercam nossas vidas e teimam na geração da anti-vida. Pensar nos desejos do Natal nos faz ler, com toda a esperança de dias melhores, as profecias dos discípulos e discípulas de Isaías no fim do cativeiro. “Vejam! Eu vou criar um novo céu e uma nova terra. As coisas antigas nunca mais serão lembradas, nunca mais voltarão ao pensamento. Por isso fiquem para sempre alegres e contentes, por causa do que vou criar. Farei de Jerusalém uma alegria, e de seu povo um regozijo. Exultarei com Jerusalém e me alegrarei com o meu povo. E nela nunca mais se ouvirá choro ou clamor. Aí não haverá mais crianças que vivam alguns dias apenas, nem velhos que não cheguem a completar seus dias, pois será ainda jovem quem morrer com cem anos, e quem não chegar aos cem anos será tido por amaldiçoado. Construirão casas e nelas habitarão, plantarão vinhas e comerão seus frutos. Ninguém construirá para outro morar, ninguém plantará para outro comer, porque a vida do meu povo será longa como das árvores, meus escolhidos poderão gastar o que suas mãos fabricarem. Ninguém trabalhará inutilmente, ninguém gerará filhos para morrerem antes do tempo, porque todos serão a descendência dos abençoados de Javé, juntamente com seus filhos…” (Is 65,17-23). Esta profecia de esperança, de utopia e de sonhos nos apresenta um grande projeto de recriação da vida humana em seus traços fundamentais e inalienáveis: a alegria, o viver muito (ter longa vida), morar, plantar, comer, trabalhar e gerar filhos para a vida. Estes desejos, ao mesmo tempo que nos revelam um projeto político de reconstrução, denunciam as marcas de uma situação de perdas e de extrema opressão. Este projeto de esperança escrito pelos discípulos de Isaías nasce no ambiente de expectativas e buscas alimentadas pelos profetas e líderes populares. Também alicerçou e fomentou muitos projetos de líderes messiânicos e profético-populares, tais como Ezequias, Judas, Simão, João Batista, Jesus e tantos seguidores de um projeto de vida digna para todos. Assim, ao refletirmos sobre o Natal temos que necessariamente nos revestir das esperanças e expectativas de reviravolta e de transformação.
Mas, a celebração do Natal vem acompanhada de uma avalanche de desafios, problemas e dificuldades. Lá naqueles tempos, um dos grandes desafios consistia na pregação e apresentação de falsos líderes e profetas. Muitos se apresentavam com projetos de mudança, porém não passavam de enganadores e legitimadores das ações dos poderosos. Hoje, em nossas sociedades, são em maior proporção os desafios para que a estrela da esperança possa brilhar.
Celebramos o Natal na perspectiva da luta por dias melhores para todos? Celebramos o Natal como sinal de luta contra uma situação de degradação da vida humana? Como celebrar o Natal em meio a tanta miséria, desemprego, exclusão, violência e perdas gradativas da cidadania e da dignidade?
Neste sentido, ao invés de celebrar o Natal estaremos comemorando esta grande festa seguindo as lógicas econômicas de uma sociedade de consumo e o projeto político de um sistema aniquilador e destruidor das expectativas e esperanças. Um Natal assim passa sem deixar marcas e sinais de novidade. O sentido do Natal em nossas sociedades de consumo e de política excludente e arrasadora das consciências e da luta política, não vai para além de mais um feriado no calendário nacional.
Oxalá o Projeto de Jesus de Nazaré, as esperanças proféticas e sapienciais e as expectativas apocalípticas e de transformação da conjuntura possam nos ajudar a resgatar o sentido pleno e aberto do Natal.
Desejamos para todos que acompanharam as nossas reflexões neste ano um caminhar rumo à construção da vida e da cidadania neste Natal. E que todos e todas possam celebrar o Natal como luta contra os desmandos do poder e suas políticas de injustiça e roubo e, também como projeto de alegria, fartura, vida plena, moradia, trabalho e bênção para todos. Muitas alegrias diante das surpresas do novo. Feliz Natividade!
Pedro Lima Vasconcellos,
Doutorando em Ciências Sociais, assessor do CEBI-SP,
professor da PUC-SP e Instituto do Sagrado Coração
(abelha@cidadanet.org.br)
Rafael Rodrigues da Silva
Mestre em Ciências da Religião, assessor do CEBI-SP, professor da PUC-SP,
Instituto Teológico Pio XI, Instituto do Sagrado Coração e ITESP
(rafaeli@cidadanet.org.br)
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