Carta a minha professora de catequese

Autor: Autor Desconhecido

Cidade, 25 de julho de 2005

Cara *Silvia (Professa de Catequese)

            É certo que o tempo presente torna-se passado, mas há coisas que o passado ainda devolve para o presente. E é isso que acontece na minha vida quando penso em como foi “construída” a minha personalidade.

            Quando eu estava começando a me preparar para Primeira Eucaristia, ainda nas primeiras aulas de catequese, que eram realizadas na cozinha da capela, você era a minha professora. Eu gostava muito das aulas e fazia as tarefas com entusiasmo. Lembro-me perfeitamente do meu primeiro livro, que era vermelho e tinha o desenho de um menino orando na capa. Mas uma daquelas aulas conduziu muitas atitudes da minha vida de maneira negativa. Você disse que Deus tem um caderno para cada pessoa da Terra e que cada página deste caderno está dividida em duas colunas, sendo uma para as ações boas e outra para as ações más, ou seja, o que nos leva para o céu e o que nos leva para o inferno. E acrescentou ainda que quando a pessoa morre e a sua alma se apresenta diante de Deus, Ele conta quantos X tem em cada coluna para decidir se a pessoa vai para o céu ou para o inferno.

            Eu sempre procurava agradar a todos, sendo uma criança boazinha, mas quando escapava algum pecadinho eu me torturava pensando no X que Deus estava colocando na coluna de ações más. E como eu temia ir para o inferno!!!

            Infelizmente, eu cresci pensando dessa maneira e imaginando quantos X de pecados já se avantajavam na frente dos X de ações boas. E como sofria por não conseguir ser perfeita aos olhos de Deus! Eu cresci vivendo no medo de fazer mal para alguém, de ser a cabeça de algum problema, de ser vista pelos outros como pecadora sem conserto. Cuidei da minha reputação como um rico cuida do seu tesouro. E achava que estava certa, que todo mundo deveria ter assistido àquela sua aula.

            Mas aquela aula, na verdade, me colocou numa prisão bastante sufocante, que contribuiu para que eu entrasse em depressão na adolescência e tivesse muitos problemas de relacionamento com os outros e até comigo mesma, para que eu tivesse o complexo de inferioridade que tenho até hoje.

            Só que, há 10 anos atrás, eu aprendi que Jesus veio ao mundo para ensinar o perdão e para perdoar e que aquele ensino judaico do Antigo Testamento (cuja aula estava baseada) já foi derrubado por ele de uma vez por todas. Aprendi que Deus me ama e que me perdoa sempre que eu me arrepender, como está escrito na Bíblia, em 1 João 1:9 – “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça.”

            Esse versículo transformou muita coisa na minha vida, mas há raízes que são difíceis de serem arrancadas, pois estão muito profundas. E a sua aula é uma dessas raízes. Talvez você mesma acredite naquele seu ensino até hoje, mas eu estou procurando apagá-lo do meu presente para poder desfrutar melhor da vida purificável que Jesus me deu.

            Jamais tive mágoa de você por causa disso porque entendo que isso aconteceu há cerca de 22 anos e que, naquela época, você só sabia repetir o que a coordenadora da catequese te passava. Por isso, te perdôo sem nenhum problema. Mas espero que hoje você pregue sobre um Deus de graça e de misericórdia e não em um Deus severo, pois a salvação da minha alma não está baseada nas boas obras que eu praticar e sim na minha entrega total a Jesus, crendo que ele já me deu a salvação de presente quando morreu na cruz.

            Que Deus te abençoe muito!

             *Tereza

* Nomes fictícios (história verdadeira)

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