Autor: Juarez Marcondes Filho
Não se deve assistir a um filme, apenas, pelo seu título; pode tratar-se de uma propaganda enganosa. Assim, a parábola que Jesus contou e Lucas registrou no capítulo 15, notabilizou-se com o título de “Parábola do Filho Pródigo”, mas deveria chamar-se: Parábola do Pai Amoroso. Até por que, não somente o filho mais moço, que saiu de casa, precisou de uma radical conversão, mas o mais velho, que ficou em casa, também. Na verdade, o que se destaca é o carinho paternal revelado, inclusive, na busca da conciliação entre irmãos. O pai da parábola é, ao mesmo tempo, uma referência ao Pai Celestial e um desafio aos pais terrenos, um exemplo a ser seguido.
Deste modelo, há muito o que comentar: a atitude liberal do pai em permitir a saída do filho, assumindo os riscos de tal decisão; sua alegria incontida quando do retorno do caçula, revelada nos festejos; a busca do mais velho, que se achava perdido dentro de casa mesmo. Mas queremos estender a nossa reflexão na direção do carinho manifestado pelo pai no reencontro com o filho mais novo. “Vinha o filho ainda longe, quando seu pai o avistou e, compadecido dele, correndo, o abraçou e o beijou” (Lucas 15.20).
O primeiro gesto de carinho foi revelado no olhar. Já havia muito tempo que não se viam; o filho estava mudado, mais magro e abatido, com roupas muito envelhecidas. Mas mesmo de longe, o pai o avistou; talvez pelo jeito de andar do filho, mas muito mais pelo palpitar do seu próprio coração, os seus olhos não conseguiam ver mais nada, senão o filho chegando.
De fato, se vamos assistir algum tipo de apresentação dos nossos filhos, seja artística, intelectual ou esportiva, só temos olhos para eles. É como se não houvesse mais ninguém. Realmente, precisamos por os olhos em nossos filhos. Muitos pais tem garantido todo o sustento do lar, dado as melhores condições de vida aos seus filhos, mas não se dignam dirigir um olhar carinhoso para com eles. Pior, muitas vezes, o olhar dos pais tem sugerido recriminação e ira. Vamos aprimorar o nosso olhar.
O carinho paternal ficou estabelecido na compaixão. O pai ficou compadecido do filho. Não era para menos. O jovem vinha alquebrado pelas duras experiências da vida. Trazia no semblante e no corpo as marcas do sofrimento. Era indisfarçável a sua indigência. E indigência sempre clama por misericórdia. Mais do que críticas, que certamente o pai tinha, ele foi conduzido pela sensibilidade do coração e, antes de qualquer coisa, exerceu a compaixão. Enquanto o discurso duro cria embaraços nos relacionamentos, o exercício da misericórdia abre portas (Provérbios 15.1). E quem age com misericórdia alcançará misericórdia (Mateus 5.7). Bendita e necessária misericórdia.
Mas o pai não esgotou a sua atenção para com o filho em meros sentimentos. A emoção tem o seu lugar, mas pode causar a paralisia. Muitos ficam, apenas, na expectação. O pai correu na direção do filho. O carinho paternal foi demonstrado na iniciativa de acolher o filho.
É interessante notar que no processo de reconciliação entre pessoas que se desentenderam sempre paira a expectativa de quem vai dar o primeiro passo na direção do outro. É verdade que o filho chegou à conclusão que deveria voltar para casa e procurar o pai. Mas vinha muito ressabiado, imaginando como seria recebido. O pai quebrou a expectativa, indo na direção do filho. Há muitos relacionamentos rompidos aguardando que alguém tome a iniciativa. E neste sentido, muitos filhos podem agir com o mesmo carinho paternal.
Finalmente, o carinho paternal foi consumado no gesto afetuso. O pai abriu os braços para acolher o filho e passou a beijá-lo com muita ternura. O contato físico com os filhos tem um significado muito importante. Não somente quando são bebês, mas em todo o seu desenvolvimento pela meninice e adolescência, e alcançando a vida adulta. O beijo na face, o abraço apertado são sinais de amor e respeito, e podem constituir-se em terapia sanadora de muitos males.
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