Autor: Wanderley de Mattos Júnior
É mais ou menos como o Xou da Xuxa! Só existe seu mundo de faz-de-conta e todos os “baixinhos” acreditam e ficam felizes com a fantasia. No mundo de Bush, a América (já que o Canadá, México, Brasil, Chile e todo o restante das três Américas parecem fazer parte de outro continente…) é a reedição do Israel guerreiro do Antigo Testamento em pleno século 21. O problema é que Israel falhou em seu chamado de ser luz para as nações. Em vez disso, passou a dominá-las ou conquistá-las por razões políticas. Bush acha que os EUA é nação escolhida para levar ao mundo um novo estilo de vida, uma nova maneira de viver, uma nova realidade: a de um povo que “ama” um Jesus estranho, rico, capitalista e que odeia quem não o ama. Esse não é o Jesus que leio em minha Bíblia. No mundo de Bush, aborto é pecado, casamento gay é pecado, pesquisa com célula-tronco é pecado – e só. No entanto, afrontar a ONU não é pecado, matar centenas de pessoas no Iraque por razões obscuras não é pecado, mentir sobre a existência de armas de destruição em massa não é pecado, colocar o inseguro Tony Blair em maus lençóis diante do parlamento inglês não é pecado, fazer do Bin Laden o bode expiatório de todo o mal da humanidade não é pecado, insuflar o ódio do mundo pelos americanos não é pecado, investir mais em armamentos do que em erradicar a fome do mundo oprimido pelo poderio americano não é pecado, manter o desemprego no país não é pecado, usar o nome de Deus para justificar suas ações tresloucadas, megalomaníacas e imperialistas não é pecado.
No mundo de Bush não há nenhum problema em comprometer todo o trabalho missionário de cristãos sinceros por todo o mundo, que têm amado muçulmanos, hindus, budistas, ateus e tentado levar para eles um evangelho desvinculado dos pré-conceitos culturais americanos ou de seu país de origem. No mundo de Bush não importa que os muçulmanos não saibam distinguir entre americanos cristãos e latinos cristãos, por exemplo. Pois o mundo de Bush conseguiu fazer com que Bin Laden e todos os demais doidos fundamentalistas islâmicos (tão fundamentalistas como Bush) creiam que todo cristão está associado a Bush – como ele conseguiu fazer com que boa parcela do seu mundo acreditasse que todo muçulmano é um terrorista. O mundo de Bush exalta o fundamentalismo religioso, a intolerância religiosa e a supremacia religiosa, política e cultural dos Estados Unidos em nome de um “Deus” diferente daquele que se fez homem em Cristo Jesus.
No mundo de Bush, “Deus” é americano, republicano e odeia metade do planeta. No mundo de Bush, não há contradição entre ler a Bíblia, fazer oração, ir à igreja e matar, mentir, odiar, desrespeitar, afrontar, ensoberbecer-se e enganar. Desde que se haja carisma, um discurso emocionalmente convincente e meia dúzia de versículos distorcidos pelo “american way of life” – o estilo de vida americano – tudo está OK, mesmo que o resto do mundo não esteja OK.
Na bíblia de Bush não existe o amor aos inimigos, não existe o amor ao mundo, não existe o respeito às autoridades (afinal, pra que serve a ONU?), não existe o convívio com as diferenças, não existe o amor ao próximo, não existe a justiça se espalhando pela terra.
Parece que a bíblia que Bush lê só fala das guerras do Antigo Testamento e não diz nada sobre a paz, a justiça e a fraternidade que o evangelho de Jesus propõe. Parece que na bíblia que Bush lê, o fariseu é quem desce justificado de sua oração enquanto que o publicano não é ouvido, a mulher adúltera é apedrejada, a orelha de Malco continua decepada e Deus não amou o mundo tanto assim… Porque o mundo de Bush não tem 6 bilhões de habitantes sobre os quais Deus faz nascer o sol e cair a chuva, mas apenas 280.000.000 americanos e um deus só dele.
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