Autor: Robson Luiz de Oliveira
Ser pastor é uma grande bênção concedida por Deus.
O pastor é uma pessoa que tem um ideal, que tem uma missão, um chamado divino e que sente arder dentro de si o desejo de pastorear de maneira digna, honesta e fiel. Ele tem consciência de que aquele que o comissionou irá pedir-lhe os resultados do seu trabalho, um dia. Por isso, o pastor sente a necessidade de realizar o melhor trabalho possível para agradar o sumo Pastor.
Mas, na vida pastoral, nem tudo são flores; pelo contrário, as lutas são implacáveis. Não é difícil encontrar pastores desanimados, desmotivados; às vezes, quase sem fé e completamente desgastados pelos problemas da vida ministerial. Existem também aqueles pastores que confiam em Deus e têm experiências reais com ele, mas que, ao mesmo tempo, apresentam uma vida espiritual medíocre e indiferente às necessidades das pessoas que estão sob seus cuidados. Eles parecem não perceber que necessitam ter seus ministérios revitalizados pela graça e pelo poder da palavra de Deus, a fim de que seu trabalho possa transmitir luz, confiança e atingir os resultados esperados pela Igreja e pelo Senhor. Por que será que alguns pastores passam por esse tipo de situação? Quando se quer detectar as causas de muitas insatisfações e derrotas na vida ministerial, entre outras razões, o relacionamento familiar deteriorado ocupa um lugar de destaque.
Sabemos que a maioria das pessoas pensa que a família do pastor não tem problemas; afinal de contas, ele é um dos representantes de Deus na terra, tem autoridade espiritual sobre a vida de muita gente, faz aconselhamentos, realiza visitas, levando palavras de esperança, tem sempre uma resposta para os problemas alheios e fala de assuntos importantíssimos. Quando assume a tribuna para pregar, o pastor ensina o que se deve e o que não se deve fazer. “Não é possível que uma pessoa assim possa ter problemas na vida conjugal e no relacionamento com os filhos!”, pensamos. Mas, infelizmente, esse pensamento não é verdadeiro.
Talvez uma das tarefas mais difíceis de ser administrada pelo pastor é a condução de sua própria família. Entre as muitas famílias que compõem uma comunidade cristã, sem dúvida alguma, a família de destaque é a do pastor. Ela vive sob os holofotes dos olhares curiosos do rebanho. Os fatos relacionados a essa importante família estão sempre refletindo de forma positiva ou negativa no comportamento das ovelhas apascentadas pelo pastor. Isso, sem dúvida, deveria trazer uma reflexão mais profunda sobre o papel do pastor como chefe de sua família; a final, não é fácil liderar um lar que se sobressai de forma tão evidente. As pressões externas sofridas pelos membros da família do pastor, aliadas a uma liderança interna fraca por parte dele, resultam, muitas vezes, em dramas terríveis a serem vividos pela Igreja e pela sociedade. Quantas vezes, o pastor assiste, perplexo, ao naufrágio do seu casamento, ou, incrédulo, a o rumo que os filhos dão às suas vidas, abraçando os costumes mundanos?
Esse drama familiar não é novo. A Bíblia é farta nos exemplos deixados por grandes líderes do povo de Deus, que, apesar do sucesso alcançado nas funções de sacerdotes e de reis, experimentaram o sabor amargo da derrota, quando tiveram de enfrentar as lutas dentro de casa (I Sm 3:13, 8:13, II Sm 18:33, I Rs 1:6). É evidente que ninguém está livre das desventuras familiares, mas, quando o problema aparece na família do pastor, a repercussão toma grande vulto e aumenta em muito os danos na comunidade que o rodeia.
No padrão bíblico para a família pastoral (I Tm 3:2-7), o pastor deveria ter a sua conduta de vida e a liderança de sua família firmada dentro dos seguintes princípios: ser marido de uma só mulher; ser irrepreensível em todas as atitudes; ser vigilante contra todos os ataques que pudessem sobrevir à sua família; ser sóbrio e consciente, para tomar todas as decisões necessárias ao bem estar familiar; ser honesto em todos os negócios de que fizer parte; exercer a hospitalidade para com todos; ser uma pessoa que se dedique a buscar conhecimento, pois uma das suas principais obrigações é estar em condições de ensinar; não alimentar vícios de espécie alguma, por ter consciência do quanto isso seria danoso à formação dos filhos; riscar a palavra violência do seu vocabulário; não ter como objetivo as riquezas materiais, mas, sim, buscar os valores morais, espirituais e éticos, que devem ser diariamente incorporados ao caráter dos componentes da família; ser moderado na forma de pensar, de falar, de agir, de trabalhar; não dar lugar às discussões geradoras de contendas com esposa, filhos, amigos, crentes; ter como objetivo a ser alcançado o bem-estar do próximo, de maneira tal que não haja nem sombra de egoísmo e avareza no seu modo de viver; ser um administrador da sua casa, digno da admiração de todos, principalmente da esposa e dos filhos; ter, principalmente, o entendimento de que, para cuidar da casa de Deus, precisa cuidar primeiro da sua casa; ter o bom senso de tributar todo o sucesso de suas conquistas, em qualquer área de sua vida, a Deus, evitando, dessa forma, problemas de ordem espiritual; finalmente, zelar pelo seu bom testemunho, como quem tem um tesouro precioso e quer conservá-lo a qualquer preço.
Se esse elenco de qualidades, que o Espírito Santo relacionou, através do apóstolo Paulo, fosse observado pelos homens que ocupam o cargo de pastor, não haveria razão para estarmos escrevendo este artigo. Afinal, essas orientações divinas estão na Bíblia há dois mil anos. Basta uma análise simples do texto, para concluir que um pastor que viva baseado nessas orientações terá a sua família vacinada e, portanto, imunizada, contra as terríveis doenças que estão corroendo muitas famílias pastorais e levando algumas à extinção.
Muitos líderes podem dizer que é quase impossível atingir a qualidade de vida apresentada pelo Espírito Santo através de Paulo. Mas é falsa essa visão. O texto de I Tm 3:2-7 não foi escrito e recomendado para os anjos, mas, sim, para ser aplicado à vida de homens comuns, chamados para pastorear o rebanho de Deus. O padrão de qualidade exigido pelo Espírito Santo é uma meta a ser alcançada, através de uma vida determinada e disciplinada, pelo estudo sistemático da Palavra, pela comunhão com o Senhor, pela oração constante e pela confiança na graça e misericórdia de Deus. A Bíblia ensina o caminho. Trata-se, portanto, apenas de se ter disposição para aprender e obedecer (Rm 15:4; Tg 1:22).
Podemos então afirmar que o pastor é o responsável pelo rumo dado à sua família. Não há dúvida de que o trabalho exercido na função pastoral é extremamente árduo. Mas a constatação desse fato não exime o pastor de sua função de marido, pai, amigo, companheiro. Então, o que fazer? Em primeiro lugar, o pastor não pode esquecer que, na maioria dos casos, a esposa e os filhos não escolheram o cargo de “família de pastor”. A esposa, muitas vezes, sofre muito com o que as pessoas exigem dela, sentindo-se incapaz, às vezes, pela imaturidade ou pela falta de preparo para lidar com problemas de tão grande envergadura, como a condução de uma igreja. Outras vezes, ela se sente insegura, porque muito da carga familiar acaba sob sua responsabilidade, o que a deixa exausta. E aquele que um dia prometeu ser o seu amparo, proteção, confidente e companheiro das horas difíceis torna-se uma pessoa distante e fora do seu alcance. Às vezes, ela vê o seu marido ser paciente com tantas pessoas, inclusive com ovelhas mulheres; observa que, por mais cansado que ele esteja, sempre tem um sorriso para os que o rodeiam e percebe que, na maioria das vezes, o encantamento dura até a hora que volta para casa, cansado e esgotado. A esposa é obrigada a se contentar com muito pouco, e, às vezes, não sobra nada mesmo, em termos de atenção e carinho. É natural que um sentimento de rejeição, frustração e ciúmes tome vulto, e uma esposa que seria uma excelente companheira acaba sentindo-se preterida e transformando-se num verdadeiro impedimento ao trabalho pastoral, porque ela vê na Igreja uma rival poderosa, com a qual não pode competir.
Da mesma forma, esse problema irá refletir na vida dos filhos, que se enchem de ciúmes ao verem o pai preocupado com o filho “de todo o mundo”, demonstrando isso através do abraço no filho de um irmão, da oração e do aconselhamento aos filhos dos outros, enquanto que, para os de casa, nunca sobra tempo, nem ao menos para uma conversa. Isso sem falar no “exemplo” de vida que é exigido deles, por serem filhos do pastor. Se, para o pastor, o ministério é árduo, para a sua família o é também.
Alguns pastores, a pretexto de servirem a Deus e de desempenharem bem o seu trabalho na igreja, colocam a família em segundo plano ou simplesmente a omitem de seus projetos. Às vezes, visitam tanto o rebanho que acabam se tornando uma visita dentro de sua própria casa. O pastor que age dessa forma torna-se um estranho: desconhece os acontecimentos rotineiros da família e acaba sem autoridade para orientar, aconselhar, educar e tomar as decisões necessárias para o bom andamento da vida doméstica. As necessidades de sua esposa e de seus filhos são por ele ignoradas.
Outros pastores centralizam na sua pessoa o comando de todas as atividades da Igreja. O que acontece? Não sobra tempo para coisa alguma, absolutamente. São consumidos pelo ativismo. Não estamos defendendo a idéia de que o trabalho pastoral tem de deixar de ser feito por causa das necessidades da família. Não! A questão é esta: o pastor deve organizar-se de tal forma que possa ter ações equilibradas entre suas responsabilidades como pastor, como esposo e pai (Lc 11:42).
O afastamento das obrigações familiares, por parte do pastor, pode representar, no futuro, o afastamento dos familiares de Deus. Ficará difícil, para uma criança, entender que Deus é amoroso e bondoso, quando vê que a pessoa mais importante do mundo para ela, que é o seu pai, não pode lhe dar atenção, atribuindo a falta de tempo ao “trabalho de Deus”. Muitas vezes, os filhos de pastor, vêem Deus como um concorrente desleal; afinal, ele “ganha” sempre! Esses pensamentos podem trazer deformações significativas na construção da vida espiritual dos membros da família.
O pastor que pensa na sua família, quando organiza sua agenda de trabalhos, com certeza, obterá melhores resultados no cumprimento de suas tarefas junto à igreja que pastoreia. Os fantasmas do fracasso, do desânimo, da desmotivação e tantos outros que possam surgir serão expulsos, porque o pastor conta com o apoio de uma família feliz e equilibrada, emocionalmente e espiritualmente. A família pode e deve ser um dos meios usados por Deus, pelo qual seu servo possa encontrar forças para desenvolver, a contento, as suas atividades pastorais. A família bem estruturada é uma fortaleza contra as tentativas diabólicas de destruir um ministério produtivo.
O pastor deve cuidar de sua família com o mesmo zelo que lhe é exigido no cuidado com a Igreja. Deve separar tempo, a fim de oferecer atenção especial à esposa e aos filhos. São inúmeras as atividades que podem ser desenvolvidas em família, que, além de prevenirem os males, têm a capacidade de fazer milagres no relacionamento familiar. São coisas simples como um passeio (sem nenhuma finalidade específica) para tomar um sorvete ou andar, assistir um programa de televisão juntos, fazer uma refeição diferente da rotina da casa, comprar um presente para alguém, brincar com os filhos, contar histórias, fazer elogios sinceros, auxiliar o filho numa lição de casa, levá-lo para a escola, ajudar a esposa num serviço que ela esteja fazendo, e, principalmente, cultuar ao Senhor Deus na sua casa.
A esposa e os filhos precisam se sentir importantes na vida do esposo e do pai. Da mesma forma que, como pastor, ele não falta a um compromisso assumido com os irmãos, como esposo e pai, não deve, de forma alguma, deixar de cumprir os compromissos assumidos com a sua família. Esse papel de esposo e pai não deve ser encarado como mais uma obrigação, mas, sim, como uma experiência extremamente agradável e revigorante, pois faz parte dos planos de Deus para a família dos seus ungidos (Pv 5:18; Ec 9:9; I Pe 3:7). As sugestões oferecidas são simples de serem seguidas, mas não basta tomar conhecimento delas e nem achá-las corretas; o que se precisa fazer é praticá-las.
Para se ter uma família unida e cooperadora, é preciso investir nela todos os dias. Uma família feliz não é fruto de um passe de mágica. A paciência, a compreensão, a renúncia, o autocontrole, a oração e a comunhão são exercícios que devem ser praticados diariamente. É um trabalho feito com muito amor e que traz resultados certos. Uma família vivendo dentro dos princípios cristãos é o suporte para o desenvolvimento de um ministério sadio. Se as coisas em casa estiverem bem, o pastor resolverá com facilidade os problemas que certamente surgirão no seu ministério.
O Salmo 128 diz que o homem que teme ao Senhor tem de ser feliz e ter uma família feliz também. É uma promessa de Deus a se cumprir na vida de todos os pastores e servos de Deus.
Fonte: www.atosodois.com.br
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