Auto-imagem e imagem para Deus

Autor: Daniel Costa

Jeremias 29:11

Todo mundo pensa algo de si mesmo, mas que freqüentemente não corresponde à realidade a seu próprio respeito. Porém, existem formas doentias de se ver. Há daqueles que se supervalorizam até o ponto de se tornarem explicitamente arrogantes, o que é uma forma de camuflar as sua fraquezas. E há daqueles, o que me parecer ser bem mais comum, que se autodepreciam, que se vêem sempre de forma negativa, desvalorizam-se o tempo inteiro. Essa também é uma forma de esconder sua real fraqueza, seus verdadeiros medos, um determinado sentimento de manipulação sádico de si mesmo, um boicote emocional que se fazem. O pior disso tudo não é se ter uma impressão deturpada de si mesmo, mas a forma determinista como se vive tais percepções, porque elas fatalmente vão interferir nas relações que travamos na e com a vida. Isso porque, na maioria das vezes, não apenas se acha algo de si mesmo, mas se quer impor ao outro a mesma percepção. É quando eu quero que o outro me veja como eu me vejo: se me acho chato, feio, não merecedor de amor e respeito, não me contento em achar isso de mim mesmo, mas quero obrigar – e até me esforço para isso –  que todos a minha volta pensem e percebam da mesma forma que eu. Tenho encontrado pessoas que já me disseram explicitamente: “não me ame, não goste de mim porque não valho à pena!” Isso é manipulação doentia, pois toda relação genuína não surge da imposição de uma imagem, quer positiva ou negativa ao outro, mas do desvendamento e descoberta. Para essas pessoas, agente diz: “Eu amo você! Você é muito importante para mim!” E a resposta que se tem, mesmo que não verbalizada é: “Eu não acredito. Ninguém pode amar uma pessoa como eu. Tudo que você quer é curtir comigo, brincar, tirar proveito”. São pessoas que não conseguem se amar e que por isso têm profunda dificuldade de se deixarem amar, são desconfiadas de si mesmas e por isso estão sempre desconfiadas das pessoas. Pensam que todas as pessoas são iguais e agem da mesma forma. Vá entender as pessoas! A alma humana é mesmo estranha.

No entanto, é claro que eu sei que ninguém é assim por vontade própria ou espontaneidade. Existe um chão, um fundamento histórico que alimenta tal percepção ou auto-imagem deformada de si mesmas: relacionamentos paternais doentios, que nunca valorizaram nada; envolvimentos afetivos e amores que só espoliaram, que não os fizeram gostar mais de si mesmos. Às vezes vivemos fatos e situações que nos levam mesmo a acreditar que não temos valor algum nem para nós mesmos e nem para ninguém. Esse era exatamente o problema do povo de Israel para o qual o profeta Jeremias estava dirigindo esta sua mensagem. Eles tinham vivido fatos históricos marcantes e que aparentemente justificavam a imagem negativa, a sensação de abandono, de que não possuíam valor algum inerente, de que não lhes restava dignidade, esperança ou futuro. Isso os levou a tal falta de coragem para realizarem e enfrentarem a vida, para deixarem a vida acontecer a partir deles, que se encolheram e fugiram para o mundo da fantasia. Então, Deus lhes manda um recado: “Multiplicai-vos aí e não vos diminuais”. Ou seja, viva a vida do lugar onde se está, pois ainda há em vocês valor e condição para se construir. Só podemos viver uma nova história, saudavelmente, se tivemos coragem de levar a nossa atual história até o fim. Não se constrói nada novo em cima de escombros, de coisas antigas deixadas pela metade.

Mas se de um lado temos razões, justificativas históricas e aparente coerência emocional para construirmos a imagem que construímos a nosso respeito; se insistimos em nos olharmos de forma tão negativa como alguns olhares externos nos olham; precisamos entender como verdade e descoberta emocional libertadora, que tais visões não são a única a nosso respeito. Deus pensa algo de nós: “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamento de paz, e não de mal, para vos dar um  futuro e uma esperança”. Como nos vemos; como nos viram ou vêem os nossos pais ou as pessoas que amamos pelos caminhos da vida; as histórias que vivemos e da qual somos produto; nada disso tem o poder de determinar em definitivo o que somos e ainda seremos ou viveremos na vida. Porque a visão que Deus tem a nosso respeito é abertura e liberdade de reconstruir. Na visão de Deus nada nos limita, condiciona ou define, somos superação e transcendência, caminho aberto de esperança e futuro.

O que você pensa ou o que os outros pensam a seu respeito não influencia o que Deus pensa de você. Deus não precisa dessas definições para tirar uma conclusão a seu respeito. Até porque, por mais precisa que seja, tais definições são sempre menores do que você realmente é. Deus tem seus próprios pensamentos e são pensamentos de paz para te oferecer um futuro e esperança. Então, pare de se depreciar, de se determinar de forma tão negativa. O segredo da vida, da felicidade, do equilíbrio emocional, não está em darmos ouvidos às vozes interiores do passado, das outras pessoas que tentam determinar-nos, mas em se descobrir e se deixar descobrir na vida pela visão que Deus tem de nós.

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