Autor: Pe. Alberto Antoniazzi
A nossa tarefa
O nosso objetivo, nesse texto, é responder à pergunta: Os Atos dos Apóstolos podem realmente trazer luz para os cristãos e as comunidades eclesiais HOJE? Faz sentido comparar a experiência dos primeiros cristãos, de quase dois mil anos atrás, com os desafios de hoje, no início do terceiro milênio?
Pressupomos um conhecimento mínimo dos Atos: a leitura do próprio livro na Bíblia ou de um breve comentário, como aquele do encarte do “Jornal de Opinião” (Os pilares da Igreja segundo os Atos dos Apóstolos ou de um dos livros lá indicados).
Também não procuraremos fazer uma leitura ingênua e superficial, que pretenda “copiar” hoje os “atos” dos Apóstolos. Procuraremos mostrar como, num contexto diverso (o nosso, o de hoje) continuam valendo princípios, critérios e orientações que o Espírito inspirou à Igreja das origens e ao redator dos Atos.
O nosso roteiro de trabalho
O nosso roteiro de trabalho incluirá uma breve reflexão sobre a influência exercida pelo Atos no passado e duas partes:
I – OS DESAFIOS ATUAIS DO CRISTIANISMO
Nesta parte, faremos alusão a quatro desafios:
1) discernir a nova religiosidade;
2) respeitar a diversidade na Igreja;
3) falar uma nova linguagem;
4) manter viva a esperança dos pobres.
II) AS RESPOSTAS DOS ATOS DOS APÓSTOLOS
Nesta II parte, procuraremos mostrar a atualidade dos Atos quanto a:
1) o fundamento da missão;
2) um critério para distinguir.
3) uma condição para ser fiel: a perseverança;
4) o discernimento comunitário da vontade de Deus;
5) falar a língua de todos;
6) atenção aos sinais dos tempos;
7) construir a Igreja em cada cidade, em cada lugar;
8) uma miríade de protagonistas;
9) edificar a comunhão eclesial;
10) comunhão fraterna, semente de uma nova sociedade.
Conclusão
Uma rápida olhada sobre o passado
Uma das formas mais importante de entender plenamente um texto antigo é procurar reconstruir os efeitos que ele produziu na história. Uma reconstrução do que os Atos produziram seria muito interessante. Nós não temos espaço aqui para tanto. Mas é bom lembrar que os Atos já tiveram muita influência na vida da Igreja, praticamente em todas as épocas. Não é este um sinal de que os Atos podem produzir mais alguma novidade?
O livro dos Atos dos Apóstolos, desde muito cedo, influenciou o calendário litúrgico, fixando festas do Senhor como Natal, Ascensão e Pentecostes, festas de Nossa Senhora como a Anunciação, festas de Santos como João Batista, Estêvão, Paulo (conversão e martírio), Matias e Barnabé…
Sobretudo o livro dos Atos foi, muitas vezes, o inspirador de movimentos de reforma ou renovação na Igreja. Inspirou as primeiras experiências comunitárias monásticas (no início, os monges viviam sozinhos). Inspirou novas experiências de vida comunitária fora do monacato, como a dos cônegos regulares (séc. XI). Inspirou os movimentos evangélicos do séculos XIII e as propostas de reforma da Igreja no século XVI. Guiou a revolução inglesa no século XVII (tão importante na formação da modernidade!) e, no século passado, inspirou o “socialismo religioso”. No século XX, inspirou um amplo movimento comunitário, que procurou renovar interiormente a Igreja e aproximá-la mais da Igreja das origens, do evangelho.
PRIMEIRA PARTE:
OS DESAFIOS ATUAIS DO CRISTIANISMO
É impossível descrever em poucas linhas os desafios – na realidade, grandes, imensos – que o cristianismo enfrenta no limiar do III milênio. Podemos apenas acenar a alguns dos mais relevantes.
Ajudar-nos-á a Carta que o Santo Padre João Paulo II, concluindo a magnífica celebração do Jubileu dos 2000 anos do nascimento de Jesus, dirigiu a todos nós com o título: “Iniciando o novo milênio” . Sua mensagem fundamental é tirada daquela frase de Jesus a Pedro: “Avança para águas mais profundas” (em latim: duc in altum, vai para o alto-mar!) (Lc 5,4). A partir daí o Papa traça um programa de ação, depois de tê-lo fundamentado na pessoa de Jesus e na oração, porque considera que o Jubileu é apenas um início daquilo para que Jesus enviou seus discípulos: a pesca em “alto-mar”, o apostolado no mundo, o serviço do Evangelho e do reino de Deus.
Para o Papa o Jubileu foi uma oportunidade para “a Igreja… interrogar-se sobre a sua renovação para assumir com novo impulso a sua missão evangelizadora”(NMI, 2). E logo depois acrescenta: “Há muito trabalho à nossa espera; por isso, devemos pôr mãos a uma eficaz programação pastoral pós-jubilar” (NMI 15). “Espera-nos uma entusiasmante obra de relançamento pastoral; uma obra que nos toca a todos” (NMI 29). Pede um “confiante otimismo”, mas adverte: “Certamente não nos move a esperança ingênua de que possa haver uma fórmula mágica para os grandes desafios do nosso tempo” (NMI 29).
Portanto, considerando esta última exortação do Papa e outros documentos da Igreja (o Papa menciona mais vezes o Concílio Vaticano II e os recentes Sínodos continentais), vamos brevemente lembrar alguns desses “grandes desafios” e, um pouco mais detidamente, vamos procurar as respostas que o livro dos Atos nos sugere. Veremos como muitas destas sugestões estão presentes também na Carta do Papa João Paulo II.
1º – Um primeiro desafio: discernir a nova religiosidade
Um fato novo está atingindo um pouco o mundo todo, mas em particular o Brasil e os Países que se encontram numa situação semelhante. Há trinta anos, mesmo na Igreja Católica, não eram poucos os pensadores que previam um enfraquecimento ou um esfriamento da religião, talvez até uma ampla difusão do ateísmo. (O que não deixou de acontecer, em parte, em alguns Países europeus). Mas, em geral, aconteceu o contrário! As religiões se reforçaram e atraíram as massas, passaram a oferecer uma resposta à sede dos indivíduos de certeza e solidariedade, chegando até a reencontrar um importante peso social e político.
A nova onda de religiosidade, porém, está longe de ser uma busca de cristianismo autêntico e, principalmente, de adesão à Igreja. A nova religiosidade, muitas vezes, nem parece muito preocupada com Deus, e sim com a satisfação, o entusiasmo ou a paz interior de cada pessoa. A nova religiosidade busca a festa, a emoção, a alegria de viver, e descoberta de algo diferente e melhor que a vida dura da sociedade competitiva e cheia de riscos em que vivemos. A nova religiosidade procura mais o próprio Eu do que Deus. As pessoas não aceitam uma doutrina, uma disciplina, uma igreja. Escolhem atos, expressões, eventos, assembléias onde se sentem à vontade, que respondem ao seu sentimento ou ao seu gosto. O Papa fala que “estamos entrando num milênio que se anuncia caracterizado por uma profunda amálgama de culturas e religiões mesmo nos países de antiga cristianização. Em muitas regiões, os cristãos são – ou vão-se tornando – um ” pequenino rebanho ” (Lc 12,32)” (NMI 36). E conclui que isto coloca os cristãos “perante o desafio de testemunharem com mais força, muitas vezes em condições de solidão e hostilidade, os aspectos específicos que os identificam”.
No caso do Brasil, os católicos não são um “pequenino rebanho”, nem sofrem perseguições como os cristãos em certos Países muçulmanos ou comunistas. Mas na periferia de nossas grandes cidades, às vezes até em comunidades do interior, o número das pessoas que freqüenta templos, centros ou terreiros de outras religiões é igual ou até superior ao número dos católicos que vão regularmente à Missa ou ao culto todo domingo. E grande é no Brasil a “amálgama (mistura) de religiões.
Então o desafio hoje não é aproximar as pessoas da religião, mas levá-las a seguir o Evangelho e a praticar a autêntica religião cristã. É distinguir com clareza o que faz a identidade do cristão e do católico.
2º – Um segundo desafio: respeitar a diversidade na Igreja
Um outro desafio pode passar despercebido aos católicos, mas não deixa de ser muito sério e de requerer até maior atenção. A mudança na religiosidade em geral penetra também na Igreja Católica, mesmo se as aparências externas podem continuar as mesmas. Na realidade, mesmo entre os católicos a concepção da religião está mudando ou mudou. Por isso surgem divergências e conflitos a respeito das novidades, que alguns acolhem com entusiasmo (até desmedido, às vezes) e outros rechaçam com rigor e talvez sem compreensão.
O Papa, na recente Carta “Iniciando o novo milênio”, não trata disso diretamente.Mas indiretamente insiste no apelo à comunhão, ao diálogo, ao entendimento entre os católicos, no seio de nossas comunidades. Não faria isso, se não fosse necessário, ou pelo menos oportuno!
O que muitos observadores reparam é que o catolicismo mudou muito nos últimos quarenta nos, desde o tempo do Papa Pio XII (U1958). Até então, a Igreja era respeitada como “instituição”, quer dizer como uma sociedade com sua tradição e suas regras, uma autoridade que ninguém discutia, a não ser que quisesse se opor ou se colocar fora da Igreja. Dizem que o próprio Papa Pio XII perdeu o sono, angustiado, quando se tratou de mudar os horários da Semana Santa (1955) e da Missa dominical (1957). Aliás, deixava-se uma tradição secular, medieval e moderna, para voltar à tradição mais antiga! Mexer nas “tradições” parecia um sacrilégio!
Nos anos ’60, porém, espalhou-se na Igreja uma nova sensibilidade, que já tinha emergido antes em alguns lugares, inclusive a partir do desejo de imitar a Igreja antiga, a dos primeiros cristãos. A Igreja era vista agora como “comunidade”, como lugar em que as pessoas se encontram e se amam, partilham a fé e a Eucaristia. O critério da vida cristã não é mais a tradição ou a disciplina, mas a intensidade da vida comunitária, fraterna. O Concílio Vaticano II, mesmo não assumindo plenamente esta concepção, favoreceu de fato a multiplicação das pequenas comunidades ou comunidades de base. Também a paróquia foi pensada como “comunidade missionária”. No Brasil, houve uma imensa repercussão dessa visão e se multiplicaram as CEBs, especialmente no mundo rural e na periferia de grandes cidades.
Mas nos anos ’90 tornou-se sempre mais evidente que uma outra mentalidade penetrou profundamente na vida cristã, mesmo se alguns ainda não se dão conta. Trata-se do individualismo, conseqüência do esgarçamento da vida comunitária nas cidades e da nova mentalidade criada na sociedade de consumo, com a ajuda da televisão e da comunicação de massa. Também entre os católicos se espalha aquela tendência ao subjetivismo, pela qual a religião é praticada segundo o gosto pessoal, escolhendo as experiências e expressões religiosas que agradam e rejeitando outras exigências da doutrina ou da disciplina da Igreja.
Mas nem tudo vai no sentido de desgastar a tradição. As pessoas reagem às tendências da época e continuam procurando formas novas de associar-se e partilhar suas experiências. O catolicismo dos últimos quarenta anos mostrou assim uma vitalidade que poucos imaginavam. Produziu muitas novidades que poucos esperavam. O resultado, porém, é que hoje é muito variado. Encontramos – não apenas na mesma diocese, mas até na mesma paróquia ou comunidade – católicos apegados às tradições religiosas populares, veneráveis pela idade e pela autenticidade; encontramos os que fizeram experiências comunitárias, de formação bíblica e de pastoral social, bastante preocupados porque vêem minguar o número dos que compreendem e apóiam suas iniciativas; encontramos gente entusiasmada com os novos movimentos, onde acharam um ambiente “quente” e acolhedor, mas que não assumem grandes compromissos e às vezes nem aparecem na Missa dominical; encontramos pessoas meio desorientadas no meio de tudo isso e outras que se esforçam para manter viva a comunicação, o diálogo, o entendimento o e intercâmbio entre os vários grupos.
O desafio, então, como diz o Papa, é o de promover a “comunhão”, o diálogo, a união fraterna na Igreja. “O outro vasto campo, em que se torna necessário um decidido empenho programático a nível da Igreja universal e das Igrejas particulares, é o da comunhão (koinonia), que encarna e manifesta a própria essência do mistério da Igreja. A comunhão é o fruto e a expressão daquele amor que, brotando do coração do Pai eterno, se derrama em nós através do Espírito que Jesus nos dá, para fazer de todos nós ” um só coração e uma só alma ” (Act 4,32). Ao realizar esta comunhão de amor, a Igreja manifesta-se como ” sacramento, ou sinal, e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano ” (LG 1)” (NMI 41).
O 3º desafio: falar uma nova linguagem
O terceiro desafio não é menos urgente, mas é mais difícil imaginá-lo ou descrevê-lo, porque avançamos muito pouco em nossa busca de uma resposta. Como descrever concretamente algo que ainda não experimentamos?
Mas a palavra do Papa pode nos ajudar. O Papa tem consciência de que a Igreja – até hoje demasiadamente presa à sua tradição ocidental ou simplesmente latina – está diante do desafio de comunicar melhor a mensagem do Evangelho em novas linguagens, em diálogo com as muitas e diversas culturas não européias e com a nova cultura mundial, tecnológica e globalizada. De fato, o catolicismo está pouco presente na Ásia (menos de 3% da população) ou na África (cerca de 15% da população) ou, no Brasil, até recentemente pouco valorizou (quando não desprezou ou destruiu) as culturas indígenas e negras. Mas ouçamos o Papa: “O cristianismo do terceiro milênio deverá responder cada vez melhor a esta exigência de inculturação. Permanecendo o que é, na fidelidade total ao anúncio evangélico e à tradição eclesial, o cristianismo assumirá também o rosto das diversas culturas e dos vários povos onde for acolhido e se radicar. Ao longo do ano jubilar, pudemos saborear de modo especial a beleza deste rosto pluriforme da Igreja. Talvez seja só um início, um ícone apenas esboçado do futuro que o Espírito de Deus nos prepara”(NMI 40).
É claro que o Papa não pensa em mudar nada do conteúdo essencial da proposta evangélica. Quando fala de um novo programa missionário, evangelizador e pastoral, logo ressalta que “não se trata de inventar um “programa novo”. O programa já existe: é o mesmo de sempre, expresso no Evangelho e na Tradição viva. Concentra-se, em última análise, no próprio Cristo, que temos de conhecer, amar, imitar, para n’Ele viver a vida trinitária e com Ele transformar a história até à sua plenitude na Jerusalém celeste. É um programa que não muda com a variação dos tempos e das culturas, embora se tenha em conta o tempo e a cultura para um diálogo verdadeiro e uma comunicação eficaz. Este programa de sempre é o nosso programa para o terceiro milênio” (NMI 29).
Então o desafio é claro: na fidelidade a Cristo, à sua Palavra viva, devemos comunicar a mensagem evangélica como Jesus fez, a partir da experiência de vida e da visão do mundo do povo a quem dirigimos a mensagem, não como uma pedra caída do céu, mas como a interpretação do desígnio de Deus já de algum modo inscrito em nossa história.
Um 4º desafio: manter viva a esperança dos pobres
Às vezes esquecemos que Jesus veio “evangelizar os pobres”, não apenas “evangelizar” (cf. Mt 11,5; Lc 4,18). Jesus veio trazer uma boa notícia e uma esperança para os pobres. Deus se lembrou deles e o sinal de que seu Reino está se aproximando está na obra de Jesus e daqueles que O seguem. Como Jesus respondeu aos enviados de João Batista: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo:cegos recuperam a vista, para líticos andam, leprosos são curados, surdos ouvem, mortos ressuscitam e pobres recebem a Boa Nova!” (Mt 11,4-5).
O mundo de hoje ainda tem muitos pobres. Metade da população mundial só usufrui de 6% da renda total e vive com menos de 2 dólares USA por dia. Uma parte deles, os 20% mais pobres do mundo, têm 1% da renda e menos de 1 dólar por dia. O Brasil não é um dos Países pobres. No conjunto, é um País de desenvolvimento médio, entre os primeiros do seu grupo. Sua renda por pessoa é dez vezes maior que a de muitos Países realmente pobres da África e da Ásia. Mas, no Brasil, a desigualdade é das maiores do mundo. A renda média dos 20% mais ricos (cerca de 21.134 dólares em 1999) é 25,5 vezes superior à renda média dos 20% mais pobres (828 dólares). Ou, em outros termos, o 1º grupo desfruta de 63,8% da renda nacional; o 2º, dispõe de 2,5% do total. Em conseqüência, numa população de quase 170 milhões de habitantes, os pobres são 35% ou quase 60 milhões! (Pobre é considerada a pessoa que conta com uma renda inferior a meio salário mínimo).
O Papa comenta: “No nosso tempo, de fato, são muitas as necessidades que interpelam a sensibilidade cristã. O nosso mundo começa o novo milênio, carregado com as contradições dum crescimento econômico, cultural e tecnológico que oferece a poucos afortunados grandes possibilidades e deixa milhões e milhões de pessoas não só à margem do progresso, mas a braços com condições de vida muito inferiores ao mínimo que é devido à dignidade humana. Como é possível que ainda haja, no nosso tempo, quem morra de fome, quem esteja condenado ao analfabetismo, quem viva privado dos cuidados médicos mais elementares, quem não tenha uma casa onde abrigar-se?” (NMI 50).
E aponta o desafio para os cristãos: “Por isso, devemos procurar que os pobres se sintam, em cada comunidade cristã, como “em sua casa”. Não seria, este estilo, a maior e mais eficaz apresentação da boa nova do Reino? Sem esta forma de evangelização, realizada através da caridade e do testemunho da pobreza cristã, o anúncio do Evangelho – e este anúncio é a primeira caridade – corre o risco de não ser compreendido ou de afogar-se naquele mar de palavras que a atual sociedade da comunicação diariamente nos apresenta. A caridade das obras garante uma força inequívoca à caridade das palavras”.
SEGUNDA PARTE:
AS RESPOSTAS DOS ATOS DOS APÓSTOLOS
Seria muita presunção querer antecipar todas as respostas que os Atos poderão oferecer-nos como luz para a missão da Igreja hoje ao longo de um estudo cuidado e aprofundado, que deverá se estender por dois anos.
Mas é possível sugerir que tipo de respostas os Atos podem nos apresentar. O estudo posterior nos ajudará a compreendê-las melhor.
1º – O fundamento da missão
O Papa diz com clareza que não adianta “fazer por fazer” e, antes de propor linhas de ação pastoral, procura “partilhar algum tópico de meditação sobre o mistério de Cristo, fundamento absoluto de toda a nossa ação pastoral” (NMI 15).
Os Atos dos Apóstolos também nos apresentam a ação missionária da Igreja como continuação fiel da ação de Jesus. Não apenas os discípulos fazem as mesmas coisas que Jesus faz, mas o mesmo Espírito de Deus que conduzia Jesus guia agora a Igreja . O Espírito remete continuamente à Palavra, ou seja, à vida e às palavras de Jesus testemunhadas pelos discípulos. O Espírito Santo é quem nos faz compreender e interpretar retamente a mensagem do Evangelho.
Como diz muito bem o Papa: “A contemplação do rosto de Cristo não pode inspirar-se senão àquilo que se diz d’Ele na Sagrada Escritura, que está, do princípio ao fim, permeada pelo seu mistério. Este aparece obscuramente esboçado no Antigo Testamento e revelado plenamente no Novo, de tal maneira que S. Jerônimo afirma sem hesitar: “A ignorância das Escrituras é ignorância do próprio Cristo”. Permanecendo ancorados na Sagrada Escritura, abrimo-nos à ação do Espírito, que está na origem dos seus livros, e simultaneamente ao testemunho dos Apóstolos, que fizeram a experiência viva de Cristo, o Verbo da vida: viram-No com os seus olhos, escutaram-No com os seus ouvidos, tocaram-No com as suas mãos (cf. 1 Jo 1,1)” (NMI 17).
2º – Um critério para distinguir
Com base neste fundamento, poderemos construir a comunidade dos discípulos de Jesus, a Igreja de Deus. Os Atos dos Apóstolos não oferecem um “modelo” de Igreja (como se poderia construir o modelo de um automóvel ou de uma casa), mas oferecem o critério – o Evangelho, a Palavra, compreendida com a ajuda do Espírito! – para distinguir o que é bom e autêntico e o que não o é.
Muitas vezes os Atos mostram exemplos de religiosidade, de pessoas que se interessam – mais ou menos sinceramente – pela mensagem de Jesus. Mas não todas as suas atitudes são aprovadas pelo Espírito e pelos apóstolos, porque não são conformes à vontade de Deus (cf. por ex. At 8,18-24; At 14, 13-18; na própria vida de Paulo, os Atos distinguem o zelo desordenado pela Lei e a fé ardorosa em Cristo). A verdadeira fé e a religiosidade ainda ambígua e mal orientada são distintas com clareza. Os Atos respondem a um dos interrogativos de hoje: O que é ser cristão? Qual é a religião verdadeira, a que Deus quer e abençoa?
3º – A condição para ser fiel: a perseverança
Desde o início, os Atos explicitam a condição para que a comunidade eclesial, que recebeu o dom do Espírito, possa se manter fiel à mensagem e à obra de Jesus. O texto mais explícito (e justamente famoso) é o “retrato da comunidade” de At 2, 42-47. Na realidade, não é apenas um retrato. Melhor seria dizer que estamos diante de uma descrição, em linhas essenciais, do “genoma” (ou do DNA) da comunidade. Onde há uma célula deste tipo, lá pode se desenvolver uma verdadeira comunidade de discípulos de Jesus. A condição é formulada em quatro tópicos: perseverança em 1) o ensinamento dos apóstolos (ou seja, na memória da Palavra); 2) a eucaristia ou partilha do pão (síntese do exemplo de doação que Cristo deu e lugar da sua presença permanente na comunidade); 3) a comunhão fraterna, de bens espirituais e materiais (a própria Eucaristia, que une no corpo de Cristo, inspira que também o pão de cada dia seja repartido igualmente entre os irmãos); 4) a oração, que é sobretudo oração de louvor, realizada comunitária e publicamente no Templo. Veremos que esta comunidade não pode deixar de exercer a diakonia, o serviço aos pobres, começando pelos órfãos e as viúvas da comunidade, inspirando um modelo alternativo à sociedade desigual e egoísta que a circunda.
Também é importante frisar que a comunidade será autêntica somente se perseverar. Numa sociedade pluralista e cheia de outros caminhos, religiosos e não, há um perigo real (denunciado também na explicação da parábola do semeador – cf. Mc 4, 13-20) que um cristão ou uma comunidade deixe “que a Palavra seja arrancada por Satanás” ou “desista logo por causa da perseguição ou tribulação” ou permita que a Palavra seja sufocada, “quando surgem as preocupações mundanas, a ilusão da riqueza e todos os outros desejos”.
4º – O discernimento comunitário da vontade de Deus
Nas situações concretas, nem sempre é fácil discernir a vontade de Deus, mesmo numa comunidade fiel. No centro do livro dos Atos (cap. 15) emerge dramaticamente o maior de todos os questionamentos do cristianismo primitivo, o que decidirá o destino da Igreja. Depois que a comunidade de Antioquia decidiu (julgando-se movida pelo Espírito Santo – cf. At 13,2) acolher pagãos convertidos e batizá-los, sem exigir deles a circuncisão e a observância de toda a Lei de Moisés, outros cristãos, vindos de Jerusalém, questionaram a iniciativa, afirmando “Se não fordes circuncidados, não podereis ser salvos” (At 15,1b).
Como discernir a verdade? Como reconhecer com certeza a vontade de Deus? A solução está na busca de um discernimento espiritual, numa reflexão iluminada pelo Espírito, num diálogo sereno sobre fatos e razões. O cap. 15 dos Atos relata sobretudo a palavra dos líderes: Pedro, Paulo e Barnabé, Tiago, mas deixa entender que outros falaram, simples discípulos ou anciãos.
Faz parte da tradição da Igreja ouvir a todos, pois o Espírito pode falar pela boca dos simples e dos pequenos. Como lembra o Papa: “Devem-se valorizar cada vez mais os organismos de participação previstos no direito canônico, tais como os Conselhos Presbiterais e Pastorais. (…) Com tal finalidade, é preciso assumir aquela antiga sabedoria que, sem prejudicar em nada o papel categorizado dos Pastores, procurava incentivá-los à mais ampla escuta de todo o povo de Deus. É significativo o que S. Bento lembra ao abade do mosteiro, ao convidá-lo a consultar também os mais novos: “É freqüente o Senhor inspirar a um mais jovem um parecer melhor”. E S. Paulino de Nola exorta: “Dependemos dos lábios de todos os fiéis, porque, em cada fiel, sopra o Espírito de Deus” (NMI 45).
Preciosa orientação, dos Atos e do Papa, para as nossas comunidades hoje muitas vezes divididas por dúvidas ou divergências e que devem procurar no diálogo e no respeito mútuo a comunhão, o discernimento – afinal! – da vontade do próprio Deus, acima de opiniões e ambições pessoais e mesmo do zelo sincero, mas excessivo ou menos esclarecido.
E ainda talvez mais precioso o princípio que resolve o debate: “Deus não faz discriminação entre as pessoas” (cf. At 10,34; 15,9). Nossas comunidades estão sempre lembradas de que o nosso Deus “não faz discriminação”?
5º – Falar a língua de todos
Reconhecer que Deus não faz discriminação significa admitir que a mensagem dele é dirigida a todos. Para o livro dos Atos, isto é claro desde o início, desde Pentecostes. A lista de povos aí citada (cf. At 2,9-11), um pouco estranha para nós, quer dizer concretamente que a mensagem de Cristo é destinada a todos os povos e que cada um deve escutá-la em sua própria língua. O Evangelho deve ser proposto a todas as culturas e a tidas as etnias.
Esta preocupação de “inculturação” aparece também nos discursos “querigmáticos”, aqueles em que os apóstolos anunciam o Cristo. Eles não são a repetição de uma mesma fórmula. Eles são a tentativa de um diálogo, que leva em conta a cultura e a história do ouvinte. Cf. o discurso aos judeus, baseado sobre o Antigo Testamento (At 13, 16-41); o discurso aos camponeses da Licaônia, baseado sobre sol e chuva (At 14, 15-18); o discurso aos intelectuais de Atenas, com citações de poetas e filósofos (At 17,19-31).
Maior ainda aparece a adaptação às diversas culturas e situações humanas quando o discurso é o da didaqué, ou seja, da “doutrina” que explica a fé e a moral cristãs. Há exemplos deles nos Atos e, sobretudo, nas Cartas do Novo Testamento.
6º – Atenção aos sinais dos tempos
Os Atos nos mostram uma Igreja voltada não somente para a diversificação geográfica e cultural, que busca todos os povos (ou, pelo menos, muitos daqueles então conhecidos). A Igreja está atenta também aos “sinais dos tempos”. A expressão vem de Jesus e chama a atenção para os sinais daquilo que Deus está fazendo ou está por fazer na história. Nos Atos, o Espírito Santo muitas vezes revela o que exige ou o que acontecerá através de profetas. A profecia é um dos dons do Espírito. mas muito mais importante do que uma ou outra indicação particular é a vontade do Espírito de que a Igreja avance. O Papa também enfatiza isso na NMI: “Tudo o o que aconteceu sob os nossos olhos merece ser ponderado e de certo modo decifrado, para ouvir aquilo que [ao longo do ano do Jubileu], o Espírito disse à Igreja” e cita como exemplo as cartas do profeta às igrejas da Ásia (cf. Ap 2,7.11.17 etc.).
Paulo interpretou bem esse impulso do Espírito quando escreveu aos Filipenses: “Irmãos, uma coisa eu faço: esquecendo o que fica para trás, lanço-me para o que está à frente. Lanço-me em direção à meta” (Fl 3,13-14a). Também o Papa João Paulo II cita esse texto na conclusão (nº 59) da sua Exortação para o início do Novo Milênio. E, como já lembramos, dá a ela como eixo e como lema outra palavra semelhante de Jesus: “Avança para o largo, para o alto-mar!” (Lc 5,4). Os cristãos consideram que pouco ainda foi “pescado”, que a colheita ainda é pequena. O cristianismo ainda não revelou em plenitude tudo o que pode dar. Esse é o nosso desafio: mostrar sempre mais à humanidade a riqueza do mistério de Cristo!
7º – Construir a Igreja em cada cidade, em cada lugar
Os discípulos que “perseveram” na comunhão com a fé dos apóstolos e na celebração da Eucaristia, repartindo o pão com quem tem fome, formam – em cada lugar em que se encontram – a Igreja de Deus. Não se trata de um pedaço da Igreja, mas da Igreja inteira, porque Cristo está presente, mesmo se o grupo for muito pequeno (cf. Mt 18, 20: “Onde dois ou três estiverem reunidos…”) . Não se trata também de uma mera repetição da comunidade de Jerusalém, porque cada comunidade tem sua fisionomia própria; é uma realidade viva, edificada pela participação dos fiéis daquele lugar. Mas é ao mesmo tempo a única Igreja de Deus que “está” presente e se manifesta em Antioquia, Damasco, Tarso, Lista e Derbe, Tessalônica ou Filipos, Atenas ou Corinto, Roma…
O Papa diz algo semelhante quando lembra a necessidade de traduzir o único programa essencial – trazer presente o mistério de Cristo – em cada realidade local. “É necessário traduzi-lo em orientações pastorais ajustadas às condições de cada comunidade. O Jubileu proporcionou-nos a oportunidade extraordinária de nos empenharmos, durante alguns anos, num caminho comum da Igreja inteira, um caminho de catequese articulada sobre o tema trinitário e acompanhada por específicos compromissos pastorais… Agora, já não é uma meta imediata que se apresenta diante de nós, mas o horizonte mais vasto e exigente da pastoral ordinária. No respeito das coordenadas universais e irrenunciáveis, é necessário fazer com que o único programa do Evangelho continue a penetrar, como sempre aconteceu, na história de cada realidade eclesial. É nas Igrejas locais que se podem estabelecer as linhas programáticas concretas – objetivos e métodos de trabalho, formação e valorização dos agentes, busca dos meios necessários – que permitam levar o anúncio de Cristo às pessoas, plasmar as comunidades, permear em profundidade a sociedade e a cultura através do testemunho dos valores evangélicos” (NMI 29).
8º – O que devo fazer? Uma miríade de protagonistas
No livro dos Atos, cada pessoa ou grupo que acolheu a vocação cristã é chamado a perguntar: “E agora, o que devo (devemos) fazer?” (cf. At 2,37; 9,6; 16,30; 22,10). De fato, todos os discípulos são chamados a evangelizar, a testemunhar. Todos são chamados a ser missionários. “Quem verdadeiramente encontrou Cristo, não pode guardá-Lo para si; tem de O anunciar. É preciso um novo ímpeto apostólico, vivido como compromisso diário das comunidades e grupos cristãos. Que isso se faça, porém, no devido respeito pelo caminho próprio de cada pessoa e com atenção pelas diferentes culturas em que deve ser semeada a mensagem cristã, para que os valores específicos de cada povo não sejam renegados, mas purificados e levados à sua plenitude”, conclui o Papa (NMI 40).
Da evangelização e da edificação da Igreja local todos os discípulos são chamados a participar, cada um segundo seu carisma, que posto a serviço da comunidade pode ser reconhecido como um “ministério” estável, permanente”. (Sobre a instituição de ministros segundo as necessidades locais, cf. At 6, 1-6; 14,23; 20,28; etc.). Não há ainda, na Igreja do tempo dos Atos, um único modelo de ministério para todos. Mas há uma indicação de como proceder no discernimento do que é necessário e na escolha das pessoas. Assim os Atos apresentam uma grande variedade de personagens protagonistas da evangelização: além dos Doze (apóstolos), são citados os Sete líderes dos helenistas, os presbíteros de Jerusalém e de outras comunidades, os “apóstolos” Paulo e Barnabé, os colaboradores de Paulo, como Silas, Timóteo e Tito… Mas também nos dão o nome e, às vezes, alguma notícia de simples cristãos, homens e mulheres, que contribuem para a difusão da Palavra ou colocam sua casa e seus recursos à disposição da comunidade; Maria mãe de Marcos, Lídia, Dionísio e Dámaris, Áquila e Priscila, Sópatros, Aristarco e Segundo… Entre estes, destacam-se pessoas ou casais que colocam à disposição a própria casa para as reuniões comunitárias. (At 2,42-47 lembrava que os primeiros cristãos rezavam juntos no Templo, mas depois “partiam o pão pelas casas e tomavam refeição com alegria e simplicidade”). Em outros casos, Atos fala da conversão de fulano e “de toda a sua casa” (isto é, familiares e, às vezes, amigos) (cf. At 10,24; 16,33).
Podemos lembrar aqui a grave responsabilidade das famílias cristãs hoje na educação dos filhos, que crescem num ambiente (escola, TV, sociedade…) com poucas ou nenhuma referência cristã (cf. também NMI 43).
9º – Edificar a comunhão eclesial
A variedade das vocações e dos ministérios, assim como as diferenças de origem (os cristãos aceitam a todos: judeus e gregos, livres e escravos, homens e mulheres…), pode trazer alguma desordem na comunidade eclesial. Os Atos não insistem sobre isso. Poucas vezes acenam ao perigo de divisões, inclusive mais no futuro do que no presente (cf. o discurso de Paulo aos anciãos de Éfeso: “Sei que, depois que eu for embora, surgirão entre vós lobos ferozes, homens com doutrinas perversas que arrastarão discípulos atrás de si…” – At 20,29-30). De fato, o próprio Paulo, na I Carta aos Coríntios, lamenta profundamente as divisões naquela comunidade (cf. 1Cor 1, 10-17).
Por isso, os Atos mostram o caminho da comunhão, “,especialmente daquele “espírito de comunhão” que deve fundamentar as práticas da solidariedade e fraternidade. O Papa insiste que “espiritualidade da comunhão é saber “criar espaço” para o irmão, levando “os fardos uns dos outros” (Gl 6,2) e rejeitando as tentações egoístas que sempre nos insidiam e geram competição, carreirismo, suspeitas, ciúmes. Não haja ilusões! Sem esta caminhada espiritual, de pouco servirão os instrumentos exteriores da comunhão. Revelar-se-iam mais como estruturas sem alma, máscaras de comunhão, do que como vias para a sua expressão e crescimento” (NMI 43).
Com esta advertência, o Papa prossegue: “Os espaços da comunhão hão-de ser aproveitados e promovidos dia-a-dia, a todos os níveis, no tecido da vida de cada Igreja. Nesta, a comunhão deve resplandecer nas relações entre Bispos, presbíteros e diáconos, entre Pastores e o conjunto do povo de Deus, entre clero e religiosos, entre associações e movimentos eclesiais” (NMI 45).
10º – Comunhão fraterna, semente de uma nova sociedade
Uma comunidade eclesial que realmente viva a comunhão fraterna não deixa de constituir um exemplo que chama atenção, numa sociedade competitiva, desigual, onde a força e o egoísmo parecem ter a última palavra.
As primeiras comunidades cristãs, guiadas pelos Apóstolos, parecem ter chamado atenção pelos “sinais e prodígios”, que eles realizavam à semelhança de Jesus (cf. At 2,22.43; 4,16.22;.30; 5,12; etc.). Mas a função desses sinais e prodígios não termina numa ou outra cura isolada. Eles querem mostrar o poder de Deus contra o mal, o poder de devolver à humanidade sua integridade e sua santidade. Querem chamar para a conversão e a vida de comunhão. Eles não teriam sentido (ou não teriam o sentido que Deus quer) se não gerassem comunhão. E a comunhão verdadeira, radical, de homens e mulheres que põem a serviço uns dos outros seus bens espirituais e materiais, que “não consideravam suas as coisas que possuíam”, é o grande testemunho do reino de Deus, até a sua antecipação ou começo.
Esta comunhão fraterna, na sociedade pagã, aparece como uma alternativa, uma nova possível forma de sociedade, que não abandona órfãos e viúvas, que não explora a escravatura e o trabalho, que não atribui todo o poder a poucos, os quais muitas vezes tudo esbanjam numa vida depravada ou alienada enquanto outros morrem de fome à porta da sua casa (cf. Lc 16, 19-31).
Somente no IV século os cristãos deram uma amostra – às vezes pequena, mas significativa – de como podiam transformar a sociedade pagã ou, ao menos, aliviar o sofrimento de muitos. Mas a “comunhão fraterna” dos Atos permanece até hoje como uma semente que quer brotar e crescer, estabelecendo no mundo a solidariedade e eliminando a pobreza, pois “ninguém entre eles passava necessidade” (At . 4,34; cf. Dt 15,4).
Conclusão
A riqueza de sugestões e critérios que os Atos oferecem para a ação pastoral e missionária hoje bem merece um estudo prolongado, como aquele proposto pelo Projeto “Ser Igreja no Novo Milênio”.
Quanto ao espírito que deve nos mover nessa ação é aquele mesmo dom que só o Espírito Santo nos pode dar: o amor. “A tal respeito, as palavras do Senhor são tão precisas que não é possível reduzir o seu alcance” – diz o Papa João Paulo II. “A Igreja terá necessidade de muitas coisas para a sua caminhada histórica, também no novo século; mas, se faltar a caridade (agape), tudo será inútil. O apóstolo Paulo recorda-o no hino à caridade: Ainda que falássemos as línguas dos homens e dos anjos e tivéssemos uma fé capaz “de transportar montanhas”, mas faltasse a caridade, de “nada” nos serviria (cf. 1 Cor 13,2). A caridade é verdadeiramente o “coração” da Igreja, como bem intuiu S. Teresa de Lisieux que eu quis proclamar Doutora da Igreja precisamente como perita da ciência do amor: “Compreendi que a Igreja tem um coração, um coração ardente de amor; compreendi que só o amor fazia atuar os membros da Igreja […]; compreendi que o amor encerra em si todas as vocações, que o amor é tudo”” (NMI 42).
Belo Horizonte, 27 de janeiro de 2001
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