Autor: Sheila Jacobs
A igreja estaria se transformando para atender a uma necessidade? A ciberigreja é um substituto ou um equivalente efetivo para a comunidade tradicional? Ou é um “extra”?
© Andres Martinez Ricci / WCC
A Internet é um novo espaço revolucionário de comunicação, de uma diversidade fascinante. Ela reflete a riqueza da vida real, com algumas de suas verdades, mas também muitas de suas meias-verdades (e inverdades!). Como lugar virtual, representa um enigma específico para as igrejas e sobre até onde a “igreja” pode acontecer em um mundo virtual.
Tudo depende de como se define “igreja”. Os cristãos provavelmente a descreveriam como o corpo coletivo de Cristo, reunido para louvar a Deus, participando dos sacramentos e da forma de culto adotada na comunidade de sua escolha. Sendo assim, é possível estender essa realidade a uma comunidade “virtual” no ciberespaço? E o que dizer de comunidades cristãs que só existem on line? Elas podem ser chamadas verdadeiramente de “igrejas”? Estaria a igreja se transformando, de modo que comunidades inteiras, ligadas apenas no ciberespaço, venham a ser as novas denominações do século XXI? Afinal de contas, fazemos operações bancárias on line, compramos on line. Podemos efetivamente “fazer igreja” on line, também? Ou igreja é diferente?
Parte do envolvimento em uma igreja local diz respeito à interação pessoal, amizade e apoio de pessoas com idéias semelhantes. Poder-se-ia argumentar que as igrejas estão procurando proporcionar esses elementos tanto para aqueles que não têm experiência de igreja – ou evangelho – e para aqueles que estão desiludidos com o cristianismo organizado.
Seja pela razão que for, há muitas pessoas para as quais a igreja tradicional não parece mais importar. Muitas delas se sentem mais à vontade navegando na Internet do que se fossem convidadas a visitar um lugar de culto. Sendo assim, a igreja estaria se transformando para atender a uma necessidade? A ciberigreja é um substituto ou um equivalente efetivo para a comunidade tradicional? Ou é um “extra”?
Então, o que há por aí?
A Igreja da Inglaterra montou o website www.i-church.org, sob os auspícios da diocese de Oxford. O objetivo é “proporcionar uma comunidade cristã às pessoas que queiram seguir a Cristo, mas não podem pertencer a uma congregação local”. A abordagem busca criar uma comunidade on line adaptada àqueles que viajam ou precisam de mais apoio do que recebem de sua própria comunidade de culto. As comunidades on line “podem ser amorosas, generosas e prestar apoio,” diz Alyson Leslie, um pastor leigo indicado para coordenar o projeto.
A Church of Fools (Igreja dos Tôlos) é, provavelmente, uma das mais engenhosas idéias em termos de ciberigreja. Na forma de uma “igreja virtual” em 3 dimensões, onde os visitantes podem assumir a forma de um personagem de animação, percorrer o lugar, sentar-se em bancos de igreja, explorar e assim por diante, é uma extensão de www.shipoffools.com, “a revista da inquietude cristã”. De maio a agosto de 2004, funcionando como uma experiência de três meses, reuniu uma congregação on line de todo o mundo. Embora esteja em atividade atualmente, o website serve apenas a visitantes individuais; a base para múltiplos usuários é esperada para o devido momento – desde que as verbas assim o permitam. Os visitantes podem se ajoelhar, fazer o sinal da cruz e gritar “aleluia” – com as mãos para o alto e a cabeça para trás. Também podem visitar um mural e rezar uns pelos outros.
Muitos websites de ciberigrejas parecem oferecer uma aproximação ao que faz a igreja. Sediado nos Estados Unidos, www.cyber-church.com diz: “nossa missão é trazer Jesus Cristo à internet e, sem constrangimentos, apresentar Seu Evangelho de Amor e Graça a todos os que visitarem”. Afirma que nunca poderá substituir a irmandade na igreja local das pessoas, e oferece toda a espécie de coisas, incluindo ensinamentos bíblicos, discussão e “Conversa Amiga” (Pal Talk).
Outro website sediado nos Estados Unidos, o www.alphachurch.org, afirma ser “uma igreja global cristã completa on line”. Há estudos bíblicos e grupos de oração e debates, e os visitantes podem enviar e-mails ao pastor em busca de confissão e absolvição. São oferecidos cultos, com som. Pode-se até tomar a sagrada comunhão, receber o batismo e se casar! Para tomar a sagrada comunhão, o visitante é convidado a pegar algo para beber, assim como algo para comer, escutar um serviço de comunhão gravado durante o qual os elementos são abençoados e, por fim, comer e beber…
Uma segunda opção
A Igreja Evangélica na Alemanha (EKD) promoveu recentemente um simpósio intitulado “e-Commerce, e-Bay and e-God?” (Comércio eletrônico, e-Bay e Deus eletrônico?), um reflexo do crescente interesse nas comunicações on line dentro de comunidades de igreja. Tom Brok, organizador do evento, comentou que, no futuro pode muito bem haver um novo tipo de “membro” de igrejas na Alemanha, o de uma congregação especial na Internet, em que as pessoas poderiam se manter em contato, compartilhar seus problemas ou discutir seus objetivos pessoais.
Matt Rich, da Internet Mission, acredita que a ciberigreja é uma “boa segunda opção” e tem aspectos positivos. Mas, em sua opinião, uma das desvantagens deve ser o fato de que, embora o cibercristão possa se envolver em um número razoável de elementos da vida na igreja, o aspecto comunitário é limitado; a igreja está relacionada a servir aos outros, a dar e receber, a ser desafiada e desafiar – e isso é difícil de fazer “virtualmente”.
Stephen Goddard, co-editor da Church of Fools – cujo principal patrocinador oficial é a Igreja Metodista no Reino Unido – cita o Rev. Jonathan Kerry, o secretário de coordenação da igreja para culto e aprendizagem: “o fundador do metodismo no século XVIII, John Wesley, disse: “O mundo é minha paróquia” e, 300 anos mais tarde, essa paróquia também inclui o ciberespaço”. Para Kerry, “visitar e fazer culto na Church of Fools tem sido desafiador e enaltecedor, e nos faz pensar mais uma vez no que são os elementos essenciais de ser uma igreja. As igrejas de tijolos e argamassa continuarão existindo, mas agora complementadas pelas comunidades on line.”
A Internet “pode trazer benefícios enormes para as igrejas em sua difícil missão na virada do século XXI,” afirmam Jean-Nicholas Bazin e Jérome Cottin em seu livro Virtual Christianity (Cristianismo Virtual) [1]. As igrejas devem ser capazes de ter uma presença na Internet; “no mínimo, transformar esse novo espaço para o diálogo social em um lugar em que intercâmbios humanos autênticos sejam estimulados de forma justa e ética,” dizem os autores. A resposta das igrejas ao desafio da Internet se baseia na crença de que “a visibilidade de Deus está à nossa frente e não em nosso controle”.
Mudança
As pessoas estão mudando, suas vidas e suas percepções estão diferentes, e a igreja virtual pode ser vista como uma forma que elas têm de começar a explorar a dimensão espiritual da vida sem correr muitos riscos. Para atender a sua necessidade, a igreja está se transformando de forma que possa apresentar a boa nova de Jesus Cristo àqueles que nunca iriam à igreja em um prédio. Mas é de se questionar até onde essas necessidades podem ser atendidas on line.
Embora, às vezes, possam parecer ser comunidades completas, as ciberigrejas talvez proporcionem um caminho seguro ou uma ponte; uma introdução ao cristianismo que acabe na comunidade “adequada”, em um local de culto próximo. Parece-me que poucos diriam que existe um substituto para “o que é de verdade”.
Fóruns de discussão, estudos bíblicos, mensagens de pastores, reflexões, estórias, testemunhos e idéias, compartilhar sua fé com pessoas do mundo todo… mas aqueles que crêem e buscam podem mesmo ter uma experiência de igreja verdadeira e significativa on line? A essa pergunta, Stephen Goddard oferece a seguinte resposta: “estamos mais preocupados com o fato de que muitas das pessoas que recorrem à Church of Fools não estão encontrando igreja verdadeira e significativa offline.”
Essa é certamente uma questão que merece reflexão.
(*) Sheila Jacobs é uma escritora cristã premiada. Seu último romance é Watchers (Authentic Lifestyle, UK). Ela participa da igreja Elim Pentecostal em Braintree, Essex, Inglaterra.
Nota:
[1] Jean-Nicolas Bazin e Jerome Cottin; Cristianismo Virtual. Potencial e desafios para as igrejas (Genebra, 2004, Publicações do CMI, disponível em inglês e em francês).
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