As conseqüências do pecado

Autor: Gildásio Reis

A Queda dos nossos primeiros pais

Introdução: A queda de nossos primeiros pais, trouxe conseqüências desastrosas não apenas para eles, mas também para toda a humanidade. Entender o que aconteceu com Adão e Eva após o primeiro pecado é chave para compreendermos a situação em que o homem se encontra hoje. Isto porque, Adão não agiu como uma pessoa particular, mas como representante de toda a humanidade.

I – CONSEQÜÊNCIAS PARA ADÃO E EVA:

Veja o que nos diz a Confissão de Fé de Westminster :

“Por este pecado eles decaíram da sua retidão original e da comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as suas faculdades e partes do corpo e da alma” (Capítulo VI, seção 2).

“Por este pecado”, diz a Confissão de Fé de Westminster:

1) Decaíram da sua retidão original e da comunhão com Deus (imagem desfigurada)

2) Tornaram-se mortos em pecado (escravos do pecado)

3) Inteiramente corrompidos em todas as suas faculdades e partes do corpo e da alma (depravação total)

Ao estudar o texto de Gênesis 3:7-24, vemos as seguintes conseqüências para nossos primeiros pais:

GÊNESIS 3:7-24

1-) Após o pecado foram dominados por um sentimento de vergonha. V.7

Antes tinham consciência da nudez, mas não tinham vergonha. (Gn 2:25)

“Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais” (Gn 3:7).

Antes tinham consciência da nudez, mas não tinham vergonha. Veja o texto abaixo:

“Ora um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonharam” (Gn 2:25).

O resultado de terem comido o fruto proibido, não foi a aquisição da sabedoria sobrenatural, como satanás havia dito (v. 5), ao contrário, agora eles descobriram que foram reduzidos a um estado de miséria.

2-) Após o pecado sentiram o peso de uma consciência culpada. (Gn 3:7)

Agora eles reconheciam que haviam pecado contra Deus, e resolveram fazer vestes de folha de figueira para se cobrirem.

É interessante observar que em Gn 3:7 afirma que os “olhos de ambos foram abertos”. Obviamente que não se trata de olhos físicos porque estes já estavam bem abertos antes, mas trata-se de olhos espirituais, os olhos do entendimento, os olhos da consciência, que agora passam a ver e se acusarem.

Eles agora “percebem” que estão nús. Perderam o estado da inocência. Percebem não apenas a nudez física, mas a nudez da alma que é muito pior, pois esta impede o homem de perceber Deus.

A nudez de Adão e Eva é a perda da justiça original da imagem de Deus. Todos os seres humanos nascem agora (após a Queda ) nesta condição e as Escrituras dizem que é necessário que recebamos as “vestes brancas” – Ap 3:18; “vestes de salvação” – Is 61:10, que é a justiça original que Cristo nos traz de volta.

Eles agora estavam percebendo que a sua condição física espelhava a sua condição espiritual.

3-) Após o pecado, tiveram medo e fugiram. (v.8)

“E ouviram a voz do Senhor Deus que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da prsença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. E chamou o Senhor Deus a Adão e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a Tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me” (Gn 3: 8-10).

Adão e Eva se escondem ao chamado de Deus. Consciência culpada sempre produz medo e fuga. Mas que tolice! Pensaram eles que poderiam se esconder de Deus?

Pecaram e agora têm medo da sentença condenatória que Deus pode proferir contra eles. O pecado os separou de Deus, rompeu a comunhão com Deus.

E é sempre assim. A menos que a obra de Cristo seja realizada em nosso favor, estaremos frente a frente com o juízo de Deus – Hb 2:3.

4-) Após o pecado procuraram uma solução inútil para seu pecado. (Gn 3:7)

Eles tentam salvar as aparências, ao invés de procurar o perdão de Deus.

Fabricando aquelas cintas de folha de figueira, eles estavam tão somente fazendo uma tentativa de acalmar a própria consciência.

Hoje em dia também é assim. Os descendentes de Adão têm medo de serem descobertos em suas transgressões. Mas seu objetivo principal não é buscar o perdão, mas sim, aquietar a consciência e fazem isto assumindo o papel de religiosos, parecendo aos outros que estão bem vestidos.

Mas não obstante nossas roupas religiosas, o Espírito Santo nos faz ver a nossa nudez espiritual. Não adianta dar desculpas esfarrapadas. Precisamos nos humilhar diante daquele que tudo vê.

5-) Após o pecado, há uma fuga da responsabilidade. (Gn 3:10)

“E ele disse: Ouvi a Tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me” (Gn 3:10).

Adão tenta encobrir sua culpa, colocando a culpa em Eva (v 12), que por sua vez, culpou a serpente (v 13).

Eles não aceitaram a responsabilidade pelo erro. Ao contrário transferiram a responsabilidade para o outro. Não é assim também em nossos dias?

6 -) Após o pecado eles tentaram arranjar uma justificativa. (Gn 3:12)

“… a mulher que me deste”.

Adão chega a ser insolente. Ele não disse: “A mulher me deu do fruto e eu comi …”, mas disse: “A mulher que Tu me deste …”. Em outras palavras, Adão disse: “Se tu não me tivesses dado essa mulher, eu não teria caído”.

Hoje em dia, nós podemos estar fazendo o mesmo. Em nossos esforços de se justificar, acabamos por culpar a Deus dos pecados que cometemos – Pv 19:3.

Exemplos:

A razão tentou eximir-se de culpa, culpando o povo Ex 32:22-24.

Saul fez o mesmo – I Sam 15:17-21.

Pilatos deu ordem para crucificar Jesus e depois atribuiu o crime aos judeus – Mt 27:24.

7-) Após o pecado, a mulher daria a luz em meio a dores. (Gn 3:16-19)

Nesta sentença que Deus profere contra a mulher, vemos que a maldição foi mitigada. Isto porque, a gravidez era uma bênção visto que a mulher daria à luz e se multiplicaria sobre a terra e o descendente nasceria para pisar a cabeça da serpente. Mas a dor e o desconforto do parto são conseqüências da queda.

😎 Após o pecado, a Terra foi amaldiçoada. (Gn 3:17)

A natureza sofre junto com a humanidade, compartilhando assim as conseqüências da queda.

As Escrituras descrevem esta maldição em três maneiras:

a) O sustento será obtido com fadiga v 17.

Assim como a mulher terá seus filhos com dor, o homem haverá de comer o fruto da Terra por meio de trabalho penoso. Antes da queda, o trabalho de Adão no jardim era prazeroso e agradável, mas de agora em diante, seu trabalho, bem como o dos seus descendentes será seguido de cansaço e tribulação.

b) A Terra produzirá cardos e abrolhos v 18.

O cultivo da terra seria mais difícil do que antes. Cardos e abrolhos aqui significam: plantas indesejáveis, desastres naturais, enchentes, insetos, secas e doenças. A natureza foi subvertida com o pecado do homem. (Rm 8:20-21).

c) No suor do rosto comerás v 19.

O trabalho árduo se tornaria a porção do homem. A vida não seria fácil.

9-) Após o pecado, a morte alcança o homem. (v 19):

A palavra “morte” ocorre na Bíblia, com 3 sentidos diferentes, embora o conceito de separação seja comum aos três:

a) Morte Física: Ecl 12:7

b) Morte Espiritual: Rm 6:23; 5:12

c) Morte Eterna: Mt 25:46

10-) Após o pecado, foram expulsos da presença de Deus. (Gn 3:22-24)

Estar fora do jardim era equivalente a estar fora da presença de Deus. Era a ira de Deus se revelando aos nossos primeiros pais pela desobediência deles. (Judas 6)

II – AS CONSEQÜÊNCIAS PARA A RAÇA HUMANA:

No tópico anterior vimos que a queda trouxe conseqüências desastrosas para os nossos primeiros pais. Mas estas conseqüências não ficaram restritas apenas ao Édem. Toda a raça humana sofre as conseqüências do pecado dos nossos primeiros pais.

Assim se expressa a nossa Confissão de Fé:

“Sendo eles ( Adão e Eva ) o tronco de toda a humanidade, o delito dos seus pecados foi imputado a seus filhos; e a mesma morte em pecado, bem como a sua natureza corrompida, foram transmitidas a toda a sua posteridade, que deles procede por geração ordinária” – Capítulo VI, 3 (Sl 51:5; 58:3-5; Rm 5:12, 15:19)

Em vista da queda, o pecado tornou-se universal; com excessão do Senhor Jesus, nenhuma pessoa que tenha vivido sobre a terra esteve isenta de pecado.

Esta mancha que atinge a todos os homens recebe o nome na Teologia de PECADO ORIGINAL. Vamos estudá-lo agora.

O PECADO ORIGINAL

O que é o pecado original? Usamos esta expressão por três razões:

1ª) Porque o pecado tem sua origem na época da origem da raça humana. Em outras palavras, é pecado original porque ele, se deriva do tronco original da raça.

2ª) Porque é a fonte de todos os pecados atuais que mancham a vida do homem.

3ª) Porque está presente na vida de cada indivíduo desde o momento do seu nascimento.

O pecado original pode ser dividido em dois elementos: Culpa original e Corrupção original.

1-) Culpa original: Culpa real e pena real.

A culpa é o estado no qual se merece a condenação ou de ser passível de punição pela violação de uma lei ou de uma exigência moral.

Podemos falar de culpa em dois sentidos:

Culpa Potencial ou Culpa de Réu ( Inerente ao ser humano )

Esta culpa é inseparável do pecado, jamais se encontra em quem não é pecador e é permanente, de modo que, que uma vez estabelecida não é removida nem mesmo com o perdão. Ela faz parte da essência do pecado.

Os méritos de Jesus Cristo não tiram esta culpa do pecador porque esta lhe é inerente. O fato de Cristo Ter morrido pelo pecador não o torna inocente, mas apenas livre da condenação, livre da penalidade da lei, justificado portanto.

Culpa (de fato) Real ou Pena do Réu:

Esta culpa não é inerente ao homem, mas é o estatuto penal do legislador, que fixa a penalidade da culpa. Pode ser removida pela satisfação pessoal ou vicária das justas exigências da lei.

É neste sentido que Jesus levou nossa culpa, isto é, pagando a penalidade da lei. Jesus não levou nossa culpa potencial, mas sim nossa culpa real. Em outras palavras, Jesus não levou nossa culpa, pagou nossa pena.

2-) Corrupção original: O pecado inclui corrupção.

Por corrupção entende-se a poluição ou contaminação inerente à qual todo pecador está sujeito. É uma realidade na vida de todos os homens. É o estado pecaminoso, do qual surgem atos pecaminosos.

Enquanto a culpa tem a ver com a nossa posição perante a lei, a corrupção tem a ver com a nossa condição perante a lei.

Como uma implicação necessária de nosso comprometimento com a culpa de Adão, todos os seres humanos nascem em um estado de corrupção.

Esta corrupção que se propaga e afeta todas as partes da natureza humana recebe o nome de Depravação Total e que resulta numa incapacidade total.

Vejamos agora em nosso próximo estudo, os dois aspectos da Corrupção original: Depravação Total ou Generalizada e a Incapacidade Espiritual.

Rev. Gildásio Reis, Pastor da Igreja Presbiteriana de Osasco, Psicanalista Clínico, Mestre em Teologia pelo centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (Educação Cristã) e Professor de Teologia Pastoral no Seminário Presbiteriano “Rev. José Manoel da Conceição”.

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