Autor: Lincoln A. A. Oliveira
Apocalipse 12 e 13
Introdução
Alguns comentaristas dividem o livro de Apocalipse em duas grandes partes. Na primeira, que vai do capítulo 1 ao 11, Cristo é revelado como o cabeça da Igreja e o controlador do destino do mundo. Na segunda, que vai do capítulo 12 ao final, são reveladas as provações e os triunfos da Igreja.
Na abertura do capítulo 12, João vê uma radiante mulher e sua descendência e o dragão com seus aliados. No capítulo 13, surgem a primeira e a segunda besta. Estas tudo fazem para destruir a mulher e seus filhos. Quem são ou quem representam essas figuras ? O significado de cada um desses personagens é essencial para a compreensão da mensagem do texto. Quem sairá vitorioso deste embate, é a outra pergunta que permanece no ar.
O Significado da Mulher e do Seu Filho (Ap. 12:1-2, 5,6 e 14-17)
Há controvérsias sobre de quem se trata exatamente esta mulher. Há quem entenda ser ela a Igreja, a comunidade messiânica da qual Cristo nasceu e não a igreja como entidade organizada. Esta abordagem fica ligeiramente prejudicada, à medida que o Novo Testamento nos ensina que foi Cristo quem produziu a Igreja e não o contrário. Uma outra linha de raciocínio afirma que a mulher pode simbolizar Israel, que na pessoa de Maria, deu à luz a Cristo. Quanto à descendência da mulher, é fácil identificar que o filho varão é Cristo e que o “resto de sua semente”, são os cristãos.
As Forças do Mal em Guerra (Ap. 12:3,4, 7-17)
Na cena que se segue, as forças do mal são chefiadas por um dragão, identificado como sendo o diabo. Seus aliados, são a primeira besta, que simboliza o imperador de Roma, Domiciano, e a segunda besta, que simboliza a comissão ou junta criada por Domiciano, para exigir de todos o culto ao imperador. As forças do Bem são comandadas por Deus, que também conta com dois aliados: o Cordeiro, que simboliza o Cristo Redentor e a foice, que simboliza o juízo eterno. A batalha será terrível e furiosa, mas a vitória penderá para o lado de Deus.
O dragão tem sete cabeças, significando grande sabedoria, dez chifres, simbolizando grande poder e traz na cabeça sete diademas, iguais aos usados pela realeza, que querem dizer grande autoridade. É tão grande, que sua cauda, com um movimento, pode derrubar as estrelas do céu. Este dragão terrível põem-se diante da mulher em dores de parto para devorar a criança logo que nasça. Deus porém, assim que a criança vem à luz, a leva para lugar seguro, protegendo-a do dragão. Vemos por essa simbologia, como Cristo foi guardado e protegido desde seu nascimento. Segue-se uma guerra no céu, onde o anjo Miguel e suas hostes combatem tenazmente as forças do mal, defendendo o céu dos ataques do dragão. Até este ponto, o diabo perde duas batalhas pois ele não consegue destruir a criança (Cristo) nem invadir o céu. Sua terceira investida volta-se agora contra a mulher (Israel). A mulher, porém, foge e o dragão não consegue destruí-la.
O Significado da Primeira Besta (Ap. 13:1-10)
Os habitantes da terra, exceto os cristãos, adoram a besta e o dragão que lhes conferiu poder. Ele tem autoridade para governar por um tempo e diz blasfêmias contra Deus. Há várias especulações sobre a identidade dessa besta. Freqüentemente, a besta é chamada de “Anticristo”, termo não usado no livro do Apocalipse. Os futuristas acham que a besta deverá ser um governante excessivamente mau que ainda está por vir. Não se pode deixar de considerar, porém, dois aspectos: o primeiro, é que o público alvo primário das revelações do Apocalipse eram os cristãos perseguidos e massacrados da época de Domiciano. Nesse caso, que conforto eles teriam em saber que um governante futuro e mau seria destruído pelas forças do bem ? Eles já possuíam uma besta atuando em seu derredor. O segundo aspecto, é que a História tem os seus ciclos e não seria de todo absurdo que uma nova besta surgisse em algum futuro indeterminado. Aliás, há quem diga que Hitler foi uma implementação moderna da besta do Apocalipse.
Entretanto, o ponto aqui é que há fortes evidências de que a besta foi mesmo Domiciano. Ele espalhou pelo império imagens dele próprio para que o adorassem. Os que o cultuavam recebiam na mão ou na testa um sinal, prática comum de algumas religiões pagãs, cujo objetivo era tornar identificável a qual deus uma determinada pessoa era adepta. O sinal, era o nome do imperador. João apresenta o nome com o número simbólico “666”. Há várias especulações sobre este número, na tentativa de identificar a besta como sendo outro que não Domiciano. Há até quem o associasse, em passado recente, à logomarca de um banco brasileiro da atualidade, o que parece ser uma leviandade. João não escreveu claramente o nome da besta porque estava em uma situação de exílio e certamente seus escritos eram censurados. Este é um dos principais motivos, se não o principal, para que todo o seu texto tenha sido escrito em uma linguagem apocalíptica, i.e. cifrada ou codificada. Somente os iniciados poderiam entendê-la. Sendo assim, para os seus captores, aqueles textos não passariam de mais conjunto de alucinações análogas às que alguns judeus costumavam escrever …
Um outro motivo para João não escrever claramente o nome da besta é que a atribuição de um número, dentro da conhecida numerologia judaica, podia transmitir mais informações do que a simples menção do nome da pessoa. Sabe-se que o número seis despertava um certo sentido de temor entre o povo da época. Era considerado um número mau, que tentara chegar sem sucesso ao sete, símbolo da perfeição. Quando o número seis aparecia sozinho, lhe era atribuído, ruindade, desgraça e ruína. O número seis repetido três vezes significaria um poder maligno muito forte, uma situação tão calamitosa, que não poderia haver maior. A besta, à qual João atribuiu esse número, representava a combinação maligna do poder político com a falsa religião. Aliás a História tem mostrado, inclusive recentemente, situações extremas de violação dos direitos humanos quando a força política junta-se à força religiosa, exercendo poder de vida e de morte sobre as pessoas. Portanto esse “666” representava, para aqueles cristãos, alguma coisa muito desagradável, má, terrível, brutal. Ele simbolizava alguém que se fazia aliado de Satanás, com seu culto diabólico imposto a ferro e fogo a todos os cidadãos sob seu domínio.
O Significado da Segunda Besta (Ap. 13:11-17)
Temos quatro elementos que nos ajudam a identificar quem é esta segunda besta:
Dois chifres como os de cordeiro: indicam aparência religiosa por fora, pois que o cordeiro era um símbolo religioso. O fato de ter somente dois chifres pode identificar um poderio limitado. O Cordeiro de Deus é descrito como tendo sete chifres.
A voz do dragão indica que ela fala com a autoridade de Satã.
Seu poder deriva-se da primeira besta.
Verifica-se, portanto, que a missão dessa segunda besta é fazer cumprir o culto à primeira besta. Isso nos leva a identificá-la com chamada “Concília Romana”, que era um corpo de oficiais, sediada na Ásia Menor, que tinha como missão obrigar a que todos cumprissem a religião do Estado Romano. Essa Concília tinha como responsabilidade forjar imagens de Domiciano, erguer altares e legislar de modo a fazer com que a religião do Estado fosse adotada por todos. Aqueles que se recusavam a seguí-la, eram perseguidos, não podendo comprar nem vender, casar, deixar herança, ou transferir propriedades. Nenhuma dessas coisas podia ser realizada sem que o sinal do imperador fosse apresentado.
Finalizando, apenas um último comentário para aqueles que buscam profecias para o futuro. À época de Domiciano certamente não deveria ser muito fácil controlar as pessoas através de uma marca gravada na testa ou na mão. Não havia código de barras e nem computador… Mas imagine-se que, com as tendências da tecnologia corrente é possível que no futuro, não usaremos mais dinheiro em papel, mas sim cartões de crédito ou de débito: será o dinheiro eletrônico. Além disso, os números de telefones poderão se transformar em números pessoais, semelhantes ao que hoje acontece com os celulares. Com um sistema desse tipo, quem não estiver habilitado, usando a marca do sistema, e em dia com suas obrigações, não poderá fazer praticamente nada. Nem comprar alimentos. Se houver uma besta apocalíptica no futuro, ele (ou ela) terão muito mais facilidades tecnológicas à sua disposição para controlar as pessoas do que possuía o imperador Domiciano. Mas isto é apenas uma curiosidade.
Independente de se considerar o passado, futuro ou a ambos, fica para nós a mensagem fundamental do Apocalipse: as forças do Cordeiro serão eternamente vitoriosas, e os crentes que forem fieis, vencerão junto com Ele.
Artigos Anteriores:
-Apocalipse – O Livro da Revelação – Estudo 1
-Apocalipse: A Vocação para a Revelação – Estudo 2
-Apocalipse: Cartas às Igrejas – Parte I – Estudo 3
-Apocalipse: Cartas às Igrejas – Parte II – Estudo 4
-Apocalipse: O Início da Visão – Estudo 5
-Apocalipse: A Visão do Livro e dos Selos – Estudo 6
-Apocalipse: A Visão das Trombetas – Estudo 7
lincoln@pibrj.org.br
-/-
Faça um comentário