Autor: Ana Oliveira
“Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras.”
(II Timóteo, 4.14)
Injustiça é um sentimento contra o qual todos combatemos, cristãos ou não. Somos capazes de empunhar bandeiras e assinar manifestos contra as injustiças gritantes que assolam nosso dia a dia. Nossa compaixão reflete como nos sentimos – por tabela – ao presenciar a dor do outro. Mas nenhum senso de solidariedade se compara à agonia de sentir na pele uma injustiça. E somente numa ocasião como essas podemos ver até onde somos capazes de chegar, e o que somos capazes de fazer para tentar reparar um mal injustamente sofrido: é dizer, quando sofremos uma injustiça podemos averiguar in loco o quanto de Cristo temos em nós, ou o quão afastados do ideal de Cristo estamos.
Saulo, posteriormente chamado Paulo, o Apóstolo, foi um grande perseguidor dos cristãos antes de se tornar, ele próprio, cristão. Então pôde sentir como era estar na pele dos que antes eram coagidos e punidos por suas mãos, embora seu sofrimento não denotasse nenhuma relação de causalidade em relação aos seus atos anteriores. Na segunda carta escrita a Timóteo, Paulo encontrava-se preso em Roma, mas cuidava em exortar seu filho na fé para que seguisse seu próprio exemplo – em suma, jamais deixar de pregar os ensinamentos de Cristo, quaisquer que fossem as circunstâncias.
Durante seu ministério, Paulo se deparou com muitas injustiças, encetadas contra si e contra os que o cercavam, mas em tempo algum deixou que sua natureza humana interferisse nos objetivos maiores do seu trabalho cristão. Exemplo disto é a citação (versículo acima) que o Apóstolo faz de um certo Alexandre, latoeiro (funileiro), provavelmente o mesmo citado em sua primeira carta a Timóteo como sendo um apóstata (pessoa que nega abandona a sua fé).
Eis uma grande lição que devemos incorporar às nossas atitudes: o mal que sofremos – justo ou não – não nos deve abater nem desviar do caminho que conduz ao Alto, ao Senhor. É Ele Quem se encarregará de retribuir a cada um o que e o quanto lhes couber. Não nos cabe promover retaliações ou justiça com as próprias mãos.
Esta atitude revela maximamente a cristandade (ideal) superpondo-se à nossa humanidade (real): sabemos o quanto é difícil perdoar em certas ocasiões, e nisso reside nossa humanidade; mas deixar ao Senhor de nossas vidas o encargo de tratar com quem é sujeito ativo de uma injustiça perpetrada, demonstra nosso desejo de ser semelhantes a Cristo. Cabe-nos, sim, demonstrar a serenidade, a temperança e a sabedoria de quem confia nos desígnios do Deus Pai e vive uma fé que não se abala com as contingências.
Em Cristo,
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