Amor e relacionamento familiar: o nosso desafio

Autor: Sérgio Fonseca

O que desejo neste artigo é pensar com você um pouco sobre a família e a dinâmica dessa relação, que deve ter  como fundamento o amor. Talvez você esteja pensando “é óbvio… sem amor não há família”. No entanto, o que é o amor familiar?
Parece-me que esse “amor familiar” começa sempre de forma romântica e idealizada – o que não pode ser diferente. É o que podemos chamar de amor platônico; do mundo das idéias; aquilo que a nossa mente é capaz de produzir diante dos nossos olhos apaixonados à cerca do outro, que é o nosso objeto de amor. Porém, quando vivemos um idealismo, ou seja, idealizamos demasiadamente, corremos o risco de grandes frustrações, o que inviabiliza o nosso projeto amoroso ou familiar, já que o outro nunca será capaz de corresponder ao rigor das nossas expectativas. Essa forma de amar terá dificuldades  em lidar com as diferenças; desejará que o outro – namorado, esposa, marido, filhos, etc- seja assim como nós gostaríamos que ele fosse.
Lindemberg N. Rocha, fazendo uma análise histórica, fala no seu texto “A Família Como Instituição”, que havia a chamada família romana no império, que era caracterizada pela submissão a um chefe denominado pater familiae, que exercia a função de rei, de chefe e não de pai de família. Em outras palavras, um relacionamento estruturado muito mais por vínculos de hierarquia e subordinação, descartando consideravelmente o vínculo afetivo/amoroso. Essa forma de amar não dá espaço à sensibilidade; ao afeto; ao toque; a ternura… Pois essas não são características dignas de um “imperador ou imperatriz”.
A família moderna estrutura-se basicamente em torno do casamento, e nesse sentido, é uma família conjugal – sei que há a “família pós-moderna” e seus novos arranjos sociais, aos quais não vou tecer considerações nesse momento. A relação familiar é algo extremamente complexa e dinâmica. Daí o amor se constituir em um desafio de escolha à cada dia: escolher amar o outro apesar das diferenças e do desgaste que muitas vezes a relação apresenta diante do fator tempo. Você pode estar pensando que isso não é fácil, mas com a sua escolha adicionada à graça de Deus torna-se possível. Porque família é projeto de Deus em primeiro lugar; Ele é o maior interessado. Mas família também tem que ser projeto de homens e mulheres; ou seja, é preciso implicação de cada membro familiar.
Eu prefiro pensar no amor familiar, tomando como exemplo o gráfico de um eletrocardiograma. Quando o sinal nem sobe, nem desce, mas é retilíneo e constante, isso configura-se num quadro de morte. Por outro lado, quando o sinal sobe e desce com intensidade variada, é sinal de vida. E o desafio do nosso amor está em aprender a lidar com essas oscilações – nossas e dos outros – entendendo que esses encontros e desencontros fazem parte de uma relação amorosa. Eu não quero assustar a ninguém, mas me responda com toda sinceridade: quem é que ama alguém o tempo todo? Às vezes me parece que o amor e o ódio não são tão antagônicos assim. Tem horas que o “nosso amor” (marido, esposa, filhos) também nos aborrecem. Talvez por isso que o autor de Eclesiastes no capítulo 3 tenha dito que há “tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar… tempo de amar, e tempo de aborrecer”. Mas os nossos queixumes, diferenças e insatisfações momentâneas, tem que dar espaço para o amor. Quem foi que te disse que o amor não tem dessas coisas?
A escolha de amar alguém passa por uma série de sentimentos e situações que desafiam a vida familiar. Mas o amor além de uma escolha nossa, é um mandamento divino. Jesus no Evangelho de Lucas nos diz: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. O apóstolo Paulo na carta aos Efésios 6: 28 diz que “os maridos devem amar suas mulheres como a seus próprios corpos… quem ama sua esposa, a si mesmo se ama” (texto que serve de aplicação para cada membro de nossa família) ele não estava falando de um amor narcisista que em última análise está pensando apenas em si mesmo. Pelo contrário, está considerando e valorizando o outro nessa relação o tempo inteiro.
Portanto, precisamos entender que o amor não vem pronto. Ele vai sendo construído levando em consideração todas as nuances da nossa vida familiar. Mediante a graça do Senhor Jesus podemos aprender a viver um pouco desse amor em família: respeitando as diferenças; dando espaço ao outro; chateado às vezes; conversando e “acertando os ponteiros”; perdoando-nos mutuamente; renovando nossos laços; investindo em nossa família.

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