Autor: Leno Rigues
Outro dia estava bem triste… Quem sabe me questionem: quem algum dia não está? Só que a minha tristeza era bem diferente. Não aquela tristeza de quando tiramos uma nota baixa na escola, ou nosso time preferido perde o campeonato, ou temos de fazer algo bem chato enquanto todos se divertem. Minha tristeza parecia algo mais aterrador, porém sutil. As coisas mais belas, as datas mais divertidas, as atividades mais requisitadas pareciam perder todo seu sabor. Os dias, e principalmente as noites, sempre iguais passavam de forma que a vida era perdida por simplesmente em viver (que coisa!).
Pensei comigo: isso só pode ser depressão, alguma coisa há de errado. Procurei pela primeira vez um psicólogo; eu disse a ele o que sentia e que minha vida parecia uma casa cheia de móveis velhos. Embora os estudos de Freud e Jung tenham funcionado com tantos, foram sem sentido em meu caso. Nessas horas o que a gente quer mesmo é ficar perto dos amigos, mas minha opção vocacional afastou-os, e por fim, os que a vocação tinha ganhado, esses se afastaram de mim… Calma rapaz! Muitos no mundo estão vivendo, ou vivem da mesma forma, e você ainda tem uma vantagem sobre alguns: conhece o Deus verdadeiro. A primeira coisa que logo se quer é orar; foram muitas noites de oração, algumas vencidas pelo cansaço do cotidiano outras vencidas pela “caixa das ilusões” (sem TV nos vemos melhor). A cada busca mais e mais intensa não obtive as respostas, situação essa que me pesou muito. Será pecado ou juízo divino? Perguntei a mim mesmo. Então vasculhei em minha mente supostos pecados, porém só encontrei os presentes na nossa natureza, e como não creio num Deus que faz os outros sofrerem de graça, me calei. Mas precisa encontrar o socorro, antes que perdesse o sentido.
Então fiz o que mais gosto de fazer: passear nas ruas, se bem que dessa vez foi na praia. Lembro de algumas vezes, quando morava em outra cidade, ir andar na praia; era um dos momentos mais sagrados que podiam existir. Mais uma vez levei as Escrituras, precisava crer mais um pouco em Deus. Lia o livro de Eclesiastes, talvez por se tratar do relato mais humano que a Bíblia descreve. Deparei-me então com estes versículos: Melhor é a mágoa do que o riso, porque a tristeza do rosto se faz melhor o coração. O coração dos sábios está na casa do luto… (Ec. 7:3-4a).
Imagine minha mente; em meio a tantas tristezas ouvi que o melhor remédio é própria tristeza. Vivo numa sociedade onde se valoriza muito “o importante é ser feliz” e ouço a cada dia o evangelho do “Jesus é euforia”, querendo ou não nossa mente fica permeada por esses equívocos. Então como resolver a questão?
Talvez o amado leitor que me conheça nessa hora esteja pronto orar por mim ou a enviar um cartãozinho com aqueles versículos que nos “levam pra cima”. Foi só aí que compreendi que a coisa não é assim…
Quando as torres gêmeas do World Trade Center caíram pelos ataques terroristas, Billy Graham foi questionado por alguns ouvintes de rádio com a seguinte pergunta: “onde está Deus agora?” Então o sr. Graham respondeu: “Por que você não pergunta onde Ele estava quando as torres estavam de pé?” Aprendi que Deus pode ser encontrado em meio à tristeza como se a mesma pegasse-nos sempre de surpresa e aí viria o “bombeiro” Deus para pagar as chamas da angústia. Como se nós mesmos não merecemos tal coisa. Entretanto, porque não encontrá-lo na tristeza? A diferença? É que a segunda opção apresenta um quadro de um Deus cruel que quer a tristeza permanente na vida de seus santos. Não podemos acreditar que as “torres” vão cair e aí vem a percepção de algo está descontrolado. A tristeza, como diriam alguns, é um mal necessário para a vida humana, um cálice amargo que deve ser tomado para se manter sóbrio e confiante. Aí voltei a pensar em mim; porque será que eu gosto do bombom “Amaro” e do chá de boldo? “Que gosto ruim!” Devem muitos pensar. Talvez seja uma predisposição interior para aceitar que a tristeza sempre deve fazer parte de nossa vida, mesmo de maneira singela. Visitar o enterro nos faz meditar que a vida deve ser vivida com moderação sem euforias e futilidades. Porque não viver a alegria de se estar sério? Chá de boldo deveria fazer parte de nossa dieta, vocês não sabem o poder reflexivo de uma xícara de chá! Cecília Meireles disse que o poeta não é alegre e nem triste, talvez isso seja um conforto para minha alma doída. Olhem só!!! O sentimento angustiante passou! [Ahhh!] Porém a tristeza permanece…
Essa reflexão não terminou como as novelas; de maneira sonhadora em que todos os mocinhos terminam numa felicidade utópica. Como disse é difícil compreender porque este “incômodo” deve permanecer, porque deve fazer parte de nós, porque visitar túmulos vai nos fazer sábios. Pois é, nem sempre na vida temos nossas respostas, mas enquanto elas não vêm, aceita uma xícara de chá de boldo?
Deus no ajude a andar em graça…
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