Alegre triste

Autor: Antonio C. Bernardo
Normalmente uma pessoa ou é/está alegre ou é/está triste. Esses dois sentimentos que se alternam nos seres humanos. Fernando Pessoa em sua poesia entitulada “Se sou alegre ou sou triste?” assim descreve:

Se sou alegre ou sou triste?…
Francamente, não o sei.
A tristeza em que consiste?
Da alegria o que farei?

Não sou alegre nem triste.
Verdade, não sei que sou.
Sou qualquer alma que existe
E sente o que Deus fadou.

Afinal, alegre ou triste?
Pensar nunca tem bom fim…
Minha tristeza consiste
Em não saber bem de mim…
Mas a alegria é assim…

Existe, portanto, essa dualidade de ser alegre e ser triste ou ser triste e ser alegre. Algumas pessoas já foram alegres e agora confessam que são tristes. Uma profunda e amarga tristeza que vai aos poucos consumindo as últimas gotas do óleo que alimenta a chama do bruxuleante pávio. Outras pessoas tiveram um vida triste, algumas desde a tenra infância, todavia, por algum motivo ou alguma coisa extraordinária, são transformadas e passam a ser alegres. Tudo isso é um mistério. Difícil de explicar tanto uma coisa como a outra.

Mas existe ainda uma pessoa que é alegre e revela essa alegria em suas ações, palavras, sentimentos, etc. Uma pessoa que está sempre “para cima”, não demonstra nenhum ponta de tristeza ou angustia. Mas ao conhecermos melhor essa pessoa, vamos percebendo que a mesma é na verdade triste. Possui uma alegria triste. As coisas não devem fazer sentido para ela, pois não consegue conviver com a realidade à sua volta e assim veste-se de uma capa que a mantém como um símbolo de vivacidade e pessoa a ser admirada. Mas a verdade é nua e crua. Essa pessoa sabe dos dramas que passa, das angustias de vive, e dos dilemas que não consegue superar. Irá mostrar essas coisas? Nunca, pois a mesma é conhecida como uma pessoa alegre e essa alegria é como um magnético que atrai a muitos. Que reações teriam os admiradores da pessoa alegre se descobrissem que ela é triste?

Na cancão Falsa Alegria composta por Zeca Pagodinho/Monarco/Alcino fala da partida da mulher amada e por isso:

Já não vou mais às festas
Pra me divertir
Já não sei mais cantar
Nem sorrir
Os amigos do peito
Estão preocupados com meu padecer
Quem ontem esbanjava alegria
Hoje não sente prazer

Em outra cancão com o mesmo título, Sérgio Souto diz:

Desce mais uma cerveja bem gelada seu garção
Que essa rodada é por conta da casa do patrão
Eu hoje só tenho uns amigos de bar
E deixo essa falsa alegria a tristeza enganar.

Isso nos leva a concordar com o Monsenhor Jonas Abib quando afirma: “No sistema capitalista em que vivemos temos uma falsa liberdade e uma falsa alegria. E assim ele vai tirando Deus de nosso interior. É como uma hemorragia interna em que vamos perdendo sangue sem perceber, e quando se percebe, o estado já pode ser trágico”. Esse é o grande perigo que esse mundo apresenta ao cristão. Ele não pode viver uma vida “normal” onde as dores e os sofrimentos fazem parte da existência. Tem que viver o irreal e fazer o impossível para demonstrar apenas alegria quando o coração pesado chora de tristeza.

Como esta a sua vida? Você poderia dizer como o Apóstolo Paulo: “Tudo posso naquele que me fortalece”? Paulo disse isso dentro de uma prisão, mas ele encontrou no seu martírio a fonte da verdadeira felicidade – Jesus Cristo, sua razão de viver.

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