Autor: Bertil Ekstrom
INTRODUÇÃO
Durante os séculos de obra missionária, a Igreja Cristã tem enfatizado o necessidade de se alcançar os diferentes países de nossa Terra. Em poucos casos, a preocupação tem sido em função de grupos sociais ou étnicos dentro de uma sociedade. Existem, hoje, ministérios que evangelizam entre grupos específicos, como, por exemplo, entre estudantes, muçulmanos, japoneses, marginalizados, favelados ou espíritas.
Porém, como um todo, a Igreja Evangélica não tem visto os diferentes povos que compõem a maioria dos países, inclusive o Brasil.
Num estudo da terminologia bíblica, vamos verificar que a questão dos povos é importante. Vez após vez existe a preocupação divina com os povos (etnias) que ainda não conhecem a vontade de Deus. O enfoque nos grupos humanos, mais do que nos países, mostra que a tarefa de levar o conhecimento acerca do Reino de Deus precisa ser mais abrangente e profunda do que apenas iniciar um trabalho num país, considerando-o, desta forma, alcançado.
Por isso, o projeto de Adoção de Povos, tenta resgatar uma ênfase bíblica, onde cada unidade cultural, linguística e racial é considerada. A estratégia de alcançar os diferentes povos precisa ser diferenciada e um trabalho missionário terá dificuldades de lograr êxito em várias culturas ou povos, simultaneamente.
Como Igreja Evangélica Brasileira, temos, ao longo de 85 anos, participado da evangelização global. Nos últimos anos esta participação tem aumentado consideravelmente. Temos, atualmente, cerca de 1.000 missionários no exterior e outros 1.000 dentro do Brasil trabalhando transculturalmente, enviados por mais de 70 agências missionárias.
O PROJETO “ADOTE UM POVO”
Dentro de um espírito paulino de “anunciar o evangelho aos que ainda não ouviram” (Rm 15.23), nasceu, num contexto latino-americano, o projeto “Adote um Povo” – AUP.
Um dos principais defensores da idéia foi um brasileiro, Pr Edison Queiroz, achando possível dividir 3.000 dos povos não-alcançados (um quarto do número disponível na época) de forma proporcional aos países latino-americanos. Seguiu-se os dados existentes sobre a população evangélica de cada país e coube à Igreja Brasileira o número desafiador de 1.615 povos para serem adotados. O número de evangélicos no Brasil, utilizado para se fazer a divisão dos povos, foi fortemente otimista e, provavelmente, recebemos uma incumbência acima da média. Porém, como líderes de missões, aceitamos o desafio e iniciamos um trabalho de conscientização e de organização do projeto no Brasil.
O PROJETO NO BRASIL
1. Primeira Consulta
O primeiro passo foi o de definir o que significaria a “adoção de povos” para o nosso contexto. Uma primeira consulta foi convocada no mês de abril de 1993 para iniciar o processo. Cerca de 20 pessoas participaram ouvindo palestras de Randy Sperger e Patrício Paredes do COMIBAM-Internacional relatando as experiências de adoção de povos na Costa Rica. Ted Limpic, missionário da SEPAL no Brasil, apresentou uma glossário missiológico que serviu de base para as definições da consulta (ver o glossário anexo).
A primeira consulta decidiu eleger um grupo de trabalho, liderado por Ted Limpic, para elaborar 500 perfis de povos não-alcançados para serem apresentados numa segundo consulta, um ano após, com a intenção de se adotar 200 desses povos.
Durante o período abril 93 a abril 94, quando ocorreu a segunda consulta sobre adoção de povos, um intenso trabalho de pesquisa e comparação de dados, foi realizado tanto na SEPAL como no Banco de Dados da AMTB em Brasília. Ted Limpic, Rinaldo de Mattos e Paulo Bottrel prepararam os 500 perfis pedidos pela primeira consulta, sendo 60 deles sobre tribos indígenas brasileiras.
2. Segunda Consulta
A segunda consulta reuniu cerca de 60 participantes, representando mais de 30 organizações missionárias, juntas denominacionais e igrejas locais. O vasto material coletado ao longo do ano foi estudado e 200 povos foram selecionados (ver lista anexa).
John Robb, responsável internacional do Movimento ANO 2000 para o projeto de adoção de povos participou com palestras enfatizando a base bíblica da adoção de povos e a necessidade da oração como parte integrante da adoção.
A segunda consulta foi encerrada num clima de otimismo e de desafio para cada participante trabalhar em função da adoção dos 200 povos num prazo de um ano, até uma próxima consulta. Foi ressaltada a importância de seriedade no processo, onde uma adoção inclui, não apenas uma intercessão sistemática por um povo, mas também um esforço de iniciar contatos com o povo adotado e enviar missionários dando todo o apoio necessário para o estabelecimento de uma igreja autóctone. Um povo pode ser considerado “adotado” quando, no mínimo, 5 igrejas locais tenham escolhido o mesmo povo.
3. Terceira Consulta
A terceira consulta foi realizada em março de 1995 com a participação de 50 representantes de mais de 30 organizações missionárias e igrejas locais. Fez-se uma avaliação do projeto e decidiu-se melhorar o material de divulgação. Um “kit” contendo este manual, vários manuais de intercessão, transparências, cartões de oração, folhetos e opcionalmente um vídeo, será colocado à disposição do interessados no projeto. Responsáveis regionais foram designados para facilitar o contato com as igrejas. O balanço feito na terceira consulta foi positivo mesmo não tendo alcançado o alvo estabelecido. Dezenas de povos já foram adotados e muitas igrejas locais e organizações estão em processo de adoção.
4. Liderança do Projeto
O projeto da AUP tem sido entregue, na América Latina, ao COMIBAM-Internacional sob a direção de Patrício Paredes. No Brasil, trabalhamos juntos AMTB- Associação de Missões Transculturais Brasileiras, COMIBAM-Internacional e Movimento Ano 2000, crendo que a cooperação das entidades com as igrejas locais, as juntas e secretarias denominacionais e missões interdenominacionais, poderá resultar na adoção, de fato, dos mais de 1600 povos que nos cabem. O grupo de liderança do projeto no Brasil é assim formado: Oswaldo Prado Filho, secretário executivo do Movimento Ano 2000; Josué Martins, presidente da Associação de Conselhos Missionários de Igrejas; Bertil Ekstrõm, presidente da Associação de Missões Transculturais Brasileiras, representante do COMIBAM-Internacional e responsável pela rede de adoção de povos do Movimento Ano 2000 no Brasil; Enoque de Faria , secretário executivo da AMTB; e os pesquisadores Ted Limpic, SEPAL e Paulo Bottrel, Junta de Missões Mundiais da Convenção Batista Brasileira e Bando de Dados da AMTB em Brasília.
O DESAFIO
Naturalmente, não se trata apenas de estatística e de números a serem alcançados. A motivação é a própria ordem do Mestre de “pregar o evangelho a toda a criatura”. Como Igreja Brasileira temos recursos e condições para assumir nossa responsabilidade pela evangelização mundial. O projeto de adoção de povos poderá, havendo maciça participação da Igreja, viabilizar o envio de centenas e até milhares de missionários brasileiros para os povos que ainda não tiveram a chance de ouvir a mensagem transformadora do evangelho.
Continuamos com o desafio de inicialmente adotar os 200 povos aqui apresentados! 1.000 igrejas locais envolvidas, através de juntas e secretarias denominacionais, agências missionárias interdenominacionais ou mesmo diretamente, assumindo um compromisso sério de interceder, reunir mais informações, e trabalhar rumo ao envio de missionários que estabelecerão igrejas contextualizadas aos povos alcançados.
É possível ? Cremos que sim! Afinal, somos um povo com muitos recursos, despertados pelo Espírito de Deus para as missões e discípulos obedientes ao mandato do Mestre.
Oração e trabalho – e o mundo será ganho para Cristo!
Para mais inf. ver www.aup.org
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