Abismos nunca mais

Autor: Marcos Venâncio




Desde quando me entendo por gente, acompanho o dilema dos conflitos de gerações. Entre pais, avós “caretas” e filhos “moderninhos demais”, seguimos travando, por séculos, lutas homéricas para manter, impor ou quebrar nossos paradigmas.
Parece que esse velho dilema não ocorre só na família. Ele se reproduz, também, na Igreja. Há alguns anos, tocar violão e bateria na Igreja era um sacrilégio. Nem pensar! É coisa do mundo! Fico pensando em quantas pessoas saíram da Igreja por causa disso. Desentendimentos, sessões e até palavras duras para impedir que esses “instrumentos mundanos” entrassem no templo.
Hoje, vejo que essa batalha continua, com armas mais precisas e modernas, porém, pelo mesmo motivo: Crise Comunitária.
Vejo que as pessoas que têm algo em comum (ideologia, manias, objetivos, etc.), geralmente, formam grupos entrincheirados para atacar aquilo ou aqueles de quem discordam. Bombardeiam o outro lado, que se defende e ataca também. Pronto, está declarada a Guerra. Ninguém mais se entende, ninguém se mistura e é cada um na sua. Cavam-se grandes abismos. Tudo isso na tentativa de quebrar ou manter paradigmas. O resultado disso? Milhares de denominações, igrejas feridas e sem identidade e lares destruídos. É nesse momento que oportunamente me vem uma pergunta: no meio de tudo isso, o que realmente é essencial ?
Em Mateus 9:17 Jesus diz : "…nem se põe vinho novo em odres velhos; do contrário, rompem-se os odres, derrama-se o vinho e os odres se estragam; mas põe-se vinho novo em odres novos, e ambos se conservam."
Odres eram recipientes feitos de pele de cabra e que possuíam certa elasticidade. O vinho novo se dilatava com o tempo e por isso era colocado em odres novos que acompanhavam a dilatação do vinho.
Jesus está ensinando neste texto que a novidade do evangelho, a graça, não poderia ser guardada no recipiente ou na antiga estrutura religiosa do judaísmo. Era preciso um novo recipiente, a Igreja. A estrutura do judaísmo estava rígida e envelhecida demais para suportar a graça de Deus.
A família e a Igreja ficam velhas quando a organização e as coisas têm mais valor que as pessoas. Envelhecem quando a tradição, as regras, os estatutos, e os conceitos humanos estão acima da Palavra de Deus. Envelhecem quando o pastor e o clero intermediam ou subjugam os leigos. Quando o templo é mais importante que o Corpo de Cristo. O problema não está na diferença de idade e sim no coração das pessoas. Desenhamos uma Igreja com ideais humanos e que não precisa mais do poder de Deus para continuar a obra, e aí dizemos que nosso modelo organizacional é “tudo de bom”, é suficiente e eficaz.
Contudo, Jesus fundou uma Igreja jovem, não pela idade de seus membros, mas pela dependência e confiança no Espírito de Deus. Uma Igreja alegre e dinâmica, onde os jovens respeitavam e cuidavam de seus velhos e os velhos abençoavam e aconselhavam seus mancebos. O recipiente agora é a Igreja e o conteúdo a graça de Deus. O amor, o perdão, o respeito e a compreensão prevaleciam, não pela democracia, mas pela teocracia. É como diz na canção de João Alexandre: “Por isso Deus tem que ser pra nós, ponto de encontro, uma mesma voz, que nos converge um ao outro e nos traz a paz… abismos nunca mais”
Portanto, o essencial é o amor mútuo, a Palavra de Deus, a graça e a dependência do Espírito Santo e não aquilo que simplesmente desejamos.
Um jovem acha uma lâmpada de Aladim e o gênio diz que pode satisfazer seu maior desejo.
O jovem diz todo contente: QUERO SER UM SÍMBOLO SEXUAL!
PRONTAMENTE! O gênio o transforma num círculo com uma seta para baixo.
Como no texto acima. Nós jovens queremos uma igreja jovem e avivada, mas na maioria das vezes não lutamos por isso. Não sabemos como dizer isso. Não tomamos a cada dia nossa cruz. Queremos que as coisas acontecam num simples estalar de dedos. Não é assim. Precisamos aprender que uma Igreja só se tornará jovem quando os jovens se tornarem Igreja.

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