A Teologia do Medo e o medo da teologia

Autor: Jorge de Souza Antunes
“No amor não há medo; antes, o perfeito amor expulsa o medo. O medo implica castigo; logo aquele que tem medo não é aperfeiçoado no amor. Nós amamos porque Deus nos amou primeiro”. I Jo. 4:18,19
Introdução
O termo teologia, segundo seus aspectos etmológicos, é composto de duas palavras gregas: Theos (Deus) e logos (palavra, fala, expressão).
Tanto Cristo, a Palavra Viva, como a Bíblia, a Palavra Escrita, são o Logos de Deus. Eles são para Deus o que a expressão é para o pensamento e o que a fala é para a razão.
A teologia é, portanto uma Theo-logia, isto é, uma palavra, uma fala ou expressão sobre Deus; uma doutrina sobre Deus.
É o estudo sobre a revelação de Deus que é a expressão dos Seus pensamentos e, logo, é, também, o estudo sobre Sua própria Pessoa. Portanto teologia é o estudo sobre Deus, sua obra e sua revelação.
Embora não encontremos nas Escrituras a palavra teologia, ela é bíblica em seu caráter.
Em Rm.3:2 encontramos ta logia tou Theou (os oráculos de Deus);
Em 1ªPe.4:11 encontramos logia Theou (oráculos de Deus),
Em Lc.8:21 temos ton Logon tou Theou (a Palavra de Deus).
DIVERSAS DEFINIÇÕES DE TEOLOGIA

A) Chafer: Uma ciência que segue um esquema ou uma ordem humana de desenvolvimento doutrinário e que tem o propósito de incorporar no seu sistema a verdade a respeito de Deus e o Seu universo a partir de toda e qualquer fonte (Lewis Sperry Chafer).
B) Chafer: Teologia sistemática pode ser definida como a coleção, cientificamente arrumada, comparada, exibida e defendida de todos os fatos de toda e qualquer fonte referentes a Deus e às Suas obras. Ela é temática porque segue uma forma de tese humanamente idealizada, e apresenta e verifica a verdade como verdade (Lewis Sperry Chafer).
C) Alexander: A ciência de Deus… um resumo da verdade religiosa cientificamente arranjada, ou uma coleção filosófica de todo o conhecimento religioso (W. Lindsay Alexander).
D) Hodge: A teologia sistemática tem por objetivo sistematizar os fatos da Bíblia, e averiguar os princípios ou verdades gerais que tais fatos envolvem (Charles Hodge).
E) Strong: A ciência de Deus e dos relacionamentos de Deus com o universo (A. H. Strong).
F) Thomas: A ciência é a expressão técnica das leis da natureza; a teologia é a expressão técnica da revelação de Deus. Faz parte da teologia examinar todos os fatos espirituais da revelação, calcular o seu valor e arranjá-los em um corpo de ensinamentos. A doutrina, assim, corresponde às generalizações da ciência (W. H. Griffith Thomas)
G) Shedd: Uma ciência que se preocupa com o infinito e o finito, com Deus e o universo. O material, portanto, que abrange é mais vasto do que qualquer outra ciência. Também é a mais necessária de todas as ciências (W. G. T. Shedd).
H) Definições Inadequadas: Para definir teologia foram empregados alguns termos enganadores e injustificados.
– Já se declarou que ela é “a ciência da religião”; mas o termo religião de maneira nenhuma é um sinônimo da Pessoa de Deus e de toda a Sua obra.
– Da mesma forma já se disse que ela é “o tratamento científico daquelas verdades que se encontram na Bíblia; mas esta ciência, embora extrai a porção maior do seu material das Escrituras, extrai também o seu material de toda e qualquer fonte.
– A teologia também tem sido definida como o arranjo ordeiro da doutrina cristã; mas como o cristianismo representa apenas uma simples fração de todo o campo da verdade relativa à Pessoa de Deus e o Seu universo, esta definição não é adequada.
Ao longo da história do cristianismo varias teologias foram sedimentadas para fortalecer a fé cristã, defender os princípios bíblicos e conhecer mais de Deus.

OUTRAS TEOLOGIAS
A) Teologia Natural: Estuda fatos que se referem a Deus e Seu universo que se encontra revelado na natureza.
B) Teologia Exegética: Estuda o Texto Sagrado e assuntos relacionados, através do estudo das línguas originais, da arqueologia bíblica, da hermenêutica bíblica e da teologia bíblica.
C) Teologia Bíblica: Investiga a verdade de Deus e o Seu universo no seu desenvolvimento divinamente ordenado e no seu ambiente histórico conforme apresentados nos diversos livros da Bíblia. A teologia bíblica é a exposição do conteúdo doutrinário e ético da Bíblia, conforme originalmente revelada. A teologia bíblica extrai o seu material exclusivamente da Bíblia.
D) Teologia Histórica: Considera o desenvolvimento histórico da doutrina, mas também investiga as variações sectárias e heréticas da verdade. Ela abrange história bíblica, história da igreja, história das missões, história da doutrina e história dos credos e confissões.
E) Teologia Dogmática: É a sistematização e defesa das doutrinas expressas nos símbolos da igreja. Assim temos:
– “Dogmática Cristã”, por H. Martensen, com uma exposição e defesa da doutrina luterana;
– “Teologia Dogmática”, por Wm. G. T. Shedd, como uma exposição da Confissão de Westminster e de outros símbolos presbiterianos;
– “Teologia Sistemática”, por Louis Berkhof, como uma exposição da teologia reformada.
F) Teologia Prática: Trata da aplicação da verdade aos corações dos homens. Ela busca aplicar à vida prática os ensinamentos das outras teologias, para edificação, educação, e aprimoramento do serviço dos homens. Ela abrange os cursos de homilética, administração da igreja, liturgia, educação cristã e missões.
Todavia, não podemos negligenciar o grande número de teologias inventadas exclusivamente para favorecer vontades humanas de lideres eclesiásticos e/ou denominações.
O cristianismo é a fé fundamentada em Jesus Cristo, não em conceitos e filosofias humanas. A partir do momento que se inverte os valores, o homem sendo à base do cristianismo, o resultado é uma fé morta e sem frutos. Conseqüentemente se tem uma teologia fraca e raquítica.
Nesse pacote de heresias pode-se encontra a “teologia do medo”. Defini-se como sendo a ênfase exaustiva na condenação humana, no castigo eterno e na intolerância divina, tendo por objetivo promover possíveis conversões.
Vamos refletir um pouco sobre as pregações contemporâneas.
As mensagens atuais, em sua grande maioria, têm a ênfase na condenação humana.
Não estou dizendo com isso que não temos que exortar, disciplinar, acreditar no inferno e conscientizar as pessoas sobre a condenação eterna. Entretanto, esta não é a essência do cristianismo, então, não deve ocupar a primazia nos cultos.
A teologia do medo, na verdade, é uma inversão de valores. O ser humano tem que se converter por amor a Cristo e não pelo medo de ir para o inferno.
A história secular nos dá grande exemplo da força intrínseca na teologia do medo. No findar do ano de 999 relatam-se inúmeras conversões.
As igrejas transbordavam de pessoas, tudo porque pensavam que o mundo acabaria naqueles dias.
Após alguns anos as igrejas ficaram praticamente vazias, pois as pessoas foram para as igrejas com medo do inferno, não por amor a Cristo ou consciência da necessidade de mudança.
No final de 1999 presenciamos outra onda “terrorista cristã”. Os precursores da teologia do medo propagavam que o mundo acabaria na virada.
Novamente as igrejas encheram e incontáveis pessoas se converteram. Contudo, ao se passar alguns anos as igrejas se esvaziaram, pois a essência das conversões foi adulterada, acrescentando-se o medo como principal ingrediente.
Nostradamus foi o próximo que por tabela influenciou as conversões de uma determinada época, pois ele “profetizou” a data em que o mundo acabaria.
A conseqüência foi à esperada, ou seja, conversões aos montes. Milhares de decisões em todo o mundo, mas novamente o mundo não acabou e ninguém mais, aparentemente, corria o risco de ir para o inferno, então, as igrejas perderam vários membros.
O atentado de “11 de setembro” também entra para a nossa galeria da teologia do medo, pois após o ato terrorista as igrejas norte-americanas se encheram quase que instantaneamente.
Todavia, após poucos dias o inevitável aconteceu, vários deixaram a fé cristã. Isso ocorreu, pois as pessoas procuraram as igrejas pelo fato de sentirem medo da morte e pavor da conseqüente possibilidade de passar a eternidade no inferno.
Conversões fundamentadas no medo têm efeito em curtíssimo prazo. O máximo que se consegue formar é uma geração de medrosos e fracos espirituais.
O medo promove conversões momentâneas, mas o amor de Cristo restaura o ser humano para toda a eternidade.
Jesus nunca usou o medo para alcançar as vidas, pelo contrário, Ele sempre usou o amor para conquistar os corações.
A mensagem que temos a anunciar ao mundo é o amor incondicional de Cristo pela humanidade, conscientizando-os da necessidade de arrependimento.
O amor sempre vencerá o medo. Confirmando assim as palavras de João, em I Jo. 4:18,19: “No amor não há medo; antes, o perfeito amor expulsa o medo. O medo implica castigo; logo aquele que tem medo não é aperfeiçoado no amor. Nós amamos porque Deus nos amou primeiro”.
Que possamos repensar nossos conceitos e valores antes que sejamos conhecidos como a geração da era do medo.
Que Deus nos ajude!

Bibliografia

GIBELLINI, R., A Teologia do Século XX, trad. João Peixoto Neto, São Paulo: Edições Loyola, 1998.
MONDIN, Batista. Os Grandes Teólogos do Século Vinte. Vol. 2, 2ª ed. São Paulo: Edições Paulinas, 1980. e outros

(adaptação)
Março de 2006

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