A teologia do Hexateuco de Gerhard Von Had

Autor: Arnildo Klumb

Bibliografia : VON HAD, Gerhard. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: ASTE, 1973. p.137-296.

A DIVISÃO EM PERÍODOS DA HISTÓRIA CANÔNICA DA SALVAÇÃO ATRAVÉS DA TEOLOGIA  DA ALIANÇA

Gerhard expõe que as diversas fontes têm diversas maneiras de interpretar a aliança (p.138-139), no entanto, todas concordam que a aliança está intimamente ligada à lei, isto é, o homem faz parte dela no cumprimento e na obediência da lei (esta lei não é necessariamente a lei do Sinai, e sim uma lei dada por Deus em suas alianças com o homem [Noé, Abraão], e visava a obediência deste). Neste capítulo,  Von Had trata da divisão da história em períodos de salvação, ou aliança no exateuco.

Os pontos positivos são as explicações do autor quanto a forma e a maneira que na antigüidade uma aliança era feita.

Os pontos negativos consistem na linguagem um tanto difícil do autor que não clareia suas idéias.

I. A HISTÓRIA DAS ORIGENS

Por causa dos relatos da criação não serem de documentos antigos, pode-se “dizer que, antes dos séculos VII e VI, Javé nunca foi venerado como Criador”[1]. Parece que o Israel antigo não continha nada a respeito dessa teologia  até que ela encontrou um paralelo com a história da salvação. Para que a história da salvação pudesse existir, a história da criação não poderia basear-se em mitos cananeus, e sim em uma realidade histórica. Baseados em sua própria história, definiram a noção da criação, pois “Javé criou o mundo e criou também Israel”[2].  O alcance da concepção da criação com isso teve grande êxito. A criação é tida como ação histórica de Javé e é inserida no tempo e no espaço.

Os hinos prestam grande auxílio teológico pois são declarações do A.T. sobre a criação do mundo e do homem. Entretanto, sobre a Criação detalhada, existem apenas duas fontes que fazem declarações específicas e de caráter histórico sobre a Criação: código sacerdotal (Gn 1.1-2) e narrativa  javista (Gn 2.4b-25).  Em muitos aspectos essas narrativas são diferentes, entretanto, ambas afirmam o homem (homem-mulher) como o ponto máximo da criação. As diferenças consistem no fato de que P se preocupa com o mundo e com o homem no mundo enquanto que J se preocupa mais com o homem, seus anseios e seus relacionamentos.

Não há no AT uma profunda reflexão teológica sobre o pecado. Existem  sempre os chamados pecados ocasionais. Entretanto, Von Had analisa as velhas narrativas do pecado sob o ângulo teológico, antropológico e o que parte da história da cultura.

A história das nações parte da era pós-dilúvio, com os descendentes dos 3 filhos de Noé. Se por um lado esse fator contribuía para união dos povos, o evento “Babel” traz uma imagem totalmente negativa de separação. Depois de Babel, o abismo entre Deus e os homens aumenta ainda mais com a dispersão e a confusão de línguas. Podemos ver que depois da queda do homem no jardim, segue-se uma evolução de pecados e juízos, no entanto o homem sempre é preservado, denotando assim a graça de Deus.

Pontos positivos: A forma como Israel lê a criação resulta numa união com o ato de salvação. A questão das origens também se torna relevante, visto que para o Israel, a criação se tornou história.

Pontos negativos: As diversas fontes por vezes confundem-se com a linguagem do autor. Também a questão do pecado ficou um tanto sem base.     

II. A HISTÓRIA PATRIARCAL

“O Deus que atua em todas as circunstâncias da história patriarcal é Javé”[3]. No entanto, o nome de Javé ainda era desconhecido nesta época. Javé se fez conhecido pelo nome a partir de Moisés. Depois  disso Israel se apropria dos fatos  passados e reconhece neles a mão de seu Deus Javé. Também se apropria das promessas, conforme J e E, que contém um duplo conteúdo: a garantia da posse da terra prometida e a promessa de uma posteridade inumerável. A primeira promessa era esperada a curto prazo; no Sinai foi garantido a posse definitiva da terra de Canaã, que era bênção exclusiva do povo de Israel, pois por detrás da história e das promessas aos patriarcas, Javé foi trazendo vida ao povo. A fé dos patriarcas demonstrada nas narrativas tinha um significado interessante para o povo.  Fé era “firmar-se em Javé”[4]. Com isso Deus se revelava ao seu povo, não escatológico, mas contemporâneo.

Pontos positivos: O povo era guiado por uma fé simples, baseada nas promessas feitas aos patriarcas. Essa questão da fé era muito interessante, principalmente seu significado. 

Pontos negativos: Apesar da linguagem, não consegui analisar.

III. A SAÍDA DO EGITO

O fato de Javé conduzir seu povo para fora do Egito se torna uma verdadeira confissão de fé para a história desse povo. Israel viu nessa saída a garantia para seu futuro como  povo. Nos períodos de tribulação reportavam-se a esses acontecimentos para amenizarem as dificuldades na sua crença.

A libertação do Egito e os milagres que se  seguiram são uma verdadeira amostra da glória de Javé. Essa confissão desses fatos “adquiriu uma dimensão toda especial ao fundir-se com o mito da criação”[5]. Entretanto, o povo ainda não tinha uma noção mais apurada de “eleição”. Isto só acontece no Deuteronômio. 

Como já mencionamos, Javé só se deu a conhecer na época de Moisés. Neste contexto, claramente se vê que Javé tem uma comunicação a fazer, não a respeito de si mesmo, mas de seu propósito para com Israel. A revelação do nome Javé também traz junto um pouco de sua personalidade ( Deus compassivo, clemente, longânime, misericordioso, fiel, “Ex 34.6” e ainda: Zeloso “Ex 34.14”). “Portanto, houve uma época em que o nome de Javé podia ser interpretado num sentido ou noutro”[6].

Antigamente também o nome tinha uma íntima ligação com o seu portador. Era crença determinante a relação do portador com seu nome e seus deuses. Quanto ao nome Javé, este deveria ser respeitado e santificado. Não poderia usar-se esse nome abusivamente. Somente em ritos cultuais fazia-se menção dele. Isso implicava em reconhecer o caráter único e exclusivo do culto de Javé. O nome de Javé não aceita sincretismo religioso. Quando isso acontece, ele é profanado.

Pontos positivos: A questão do nome de Javé é tratada esplendidamente por Von Had nesse capítulo. O fato do ocultamento desse nome e da proibição de seu uso,  o preservou de muitas interpretações errôneas. 

IV. A REVELAÇÃO DE DEUS NO SINAI

Von Had aqui trata das revelações de Deus dadas no monte Sinai. Para tanto, trabalha com os significados dos mandamentos, rompendo com o decálogo. Essa tradição sinaítica do decálogo pode ser localizada nas tradições de Cades. Por isso,  o que Von Had defende é que o decálogo chegou até nos com uma série de modificações que adaptaram-se e aprimoraram-se visando a compreensão da vontade de Javé por Israel.

Em alguns manuscritos mais antigos, o primeiro mandamento e a questão de imagens, não ocorria. “A antiga escola crítica considerava dispensável falar a seu respeito, pois estava persuadida de que o culto de Javé, pelo menos nos tempos antigos, utilizava imagens”[7]. Von Had se prende bastante nesse capítulo na pesquisa histórica.

Após esse capítulo, Von Had trata do Deuteronômio: que, para ele “não é a interpretação da vontade de Javé senão para uma época precisa e, do ponto de vista histórico, bastante tardia”[8]. A partir disso segue tratando das suas exortações, bem como suas leis.  

A doença no exateuco era vista como castigo divino pela desobediência. Isto levava o povo a crer que somente em Deus estava a cura das doenças; Ele era o médico.

Pontos positivos: O decálogo para Von Had é um conjunto de leis que valoriza a vida. Quando olhamos para o povo de Israel, parece que esta não era a interpretação correta, até que Jesus fez nessas leis seus midraxes.

V. A TRAVESSIA DO DESERTO

Este relato é pertencente  à várias tradições. O objetivo destas  é demonstrar a presença atuante de Javé no meio de seu povo, sendo por livramento ou provações. Este narrativa se divide em duas partes: o êxodo do povo e o anjo de Javé.

VI. PONTOS DE VISTA SOBRE MOISÉS E SEU OFÍCIO

Também Von Had coloca os diversos pontos de vista o que as tradições Javista, Eloísta e o Código sacerdotal  tinham sobre Moisés e seu ofício.

Para os Javistas, Moisés  está em segundo plano. É apenas um homem inspirado a serviço de Javé.

Para os Eloístas, isso já muda de figura. Moisés está envolvido em todos os fatos marcantes. Moisés é instrumento vital para a libertação do povo.

Para o Código sacerdotal, Moisés é visto como aquele que pode falar com Deus. Ele é o único apto para isso.

VII. A DÁDIVA DA TERRA DE CANAÃ

São relatos diferenciados que, entretanto, demonstram que Deus, apesar de tudo o  que aconteceu ao seu povo, não faltou com nenhuma de suas promessas.

Conclusão

Pelo fato de Von Had ser bastante acadêmico, dificultou um pouco minha compreensão quanto ao texto. Entretanto, notei que o texto se encontra muito fragmentado. Von Had comenta em demasia certos assuntos e passa muito rapidamente sobre outros. É um livro técnico e bom para pesquisa, entretanto, seu fraco  potencial didático o torna desmotivador.

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[1] p. 144
[2] p. 145
[3] p. 173
[4] p. 178
[5] p. 185
[6] p. 187
[7] p. 216
[8] p. 222

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