A morte por causa da vida

Autor: Antonio Carlos Barro

A missionária católica Dorothy Stang, 73, foi recentemente assassinada com nove tiros no município de Anapu (PA). Ela trabalhava havia mais de 20 anos no Estado e defendia causas ambientais e trabalhadores sem-terra. Esta morte chocou a todos, especialmente por tratar-se de uma anciã, mulher e missionária.

Parece engraçado, mas tem-se a impressão de que quem morre lutando a favor dos direitos humanos, principalmente os direitos dos pobres e excluídos não recebem a atenção que deveria receber. Alguém pode até mesmo pensar que a missionária morreu porque se meteu onde não era chamada. Que ao invés de ajudar os pobres no Pará ou defender o meu ambiente, ela deveria estar evangelizando.

Esse é um engano fatal. Divorciar o evangelho da criação realizada por Deus quase sempre foi uma característica do povo cristão como que querendo dizer que Deus não se importa com o mundo fora das paredes do templo. Precisamos recordar que Deus criou todas as coisas e que em se tratando da criação ela aponta para o poder do Criador. Assim sendo, quando nós cuidamos daquilo que cuidava Dorothy, nós estamos fazendo algo que agrada muito a Deus. E num certo sentido, que não tem sensibilidade para cuidar da natureza certamente terá pouca sensibilidade em cuidar de pessoas.

O outro erro que alguém pode incorrer é o de pensar que ela não deveria estar no meio dos pobres e dos oprimidos; que o papel da igreja não é social e sim espiritual. Essa tendência de separar a vida das pessoas em social e espiritual não encontra base bíblica. Jesus Cristo veio para salvar o ser humano em todas as suas dimensões pois o pecado desfigura a pessoa como um todo e não somente o seu espírito e sua alma. Tomar partido em favor do que é desfavorecido é de fato praticar a verdadeira religião. Tiago diz: “A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo” (1.27). Isto fazia a missionária e por não fazer parte do sistema corrupto que grassa esse país, foi morta.

A respeito dos mártires, Frei Estêvão Nunes disse: “Como no início da história da Igreja, quando ‘o sangue dos mártires era a semente de novos cristãos’, também hoje há muita gente que abraçou pra valer a causa de Cristo, com o mesmo entusiasmo e a mesma força daqueles tempos”.

Louvado seja Deus por aqueles e aquelas que podem dizer com Paulo: “mas em nada tenho a minha vida como preciosa para mim, contando que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus” (Atos 20.24).

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