Autor: Francisco Mário Lima Magalhães
(Exegese de 1 Tm 3.1-7)
A responsabilidade de um estudioso da Palavra de Deus é analisar ou, pelo menos, criar um pensamento crítico diante de algumas tendências que são vistas como perigosas e sérias. Creio que tudo que foge de uma interpretação exegética dentro de uma hermenêutica saudável, traz prejuízos à igreja de Jesus Cristo. Não foi à toa que por causa de uma simples colocação e interpretação de um verbo do novo testamento como justificare em latim que quer dizer tornar-se justo para que quer dizer considerar justo, trouxesse uma má interpretação à doutrina da justificação pela fé na idade média, trazendo com isso várias heresias como o pelagianismo e outras mais.
A Igreja deve estar fundamentada sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, que foi revelado na Palavra de Deus. Parece que isso é uma redundância, pois falar que os líderes da Igreja de Cristo devem fundamentar-se na Palavra de Deus poderia ser algo sem nexo, mas o que vemos nas cartas pastorais de Paulo a Timóteo e a Tito, é que eles deveriam atentar para a Palavra de Deus primeiramente (1 Tm 4.12,13; 2 Tm 2.15; 4.1-3; Tt 2.1). É sinal que a tendência de um pragmatismo teológico e litúrgico era uma tentação desde aqueles tempos. A igreja tem uma grande tentação de optar pelas experiências e deixar de analisar o que a Palavra de Deus diz. Vejo vários motivos para isso: Primeiro por uma falta de preparação teológica adequada para analisar ou fazer uma exegese com erudição ou até mesmo com um estudo minucioso da Palavra de Deus, por isso que Paulo disse a Timóteo 2.15 que manejasse bem a Palavra da Verdade; segundo, porque muitos líderes não têm tempo de debruçar-se diante de um estudo exaustivo da Palavra de Deus. Acham que orar pelos enfermos e pregar às vidas para que se convertam é o máximo do ministério cristão e o bastante. Esquecem que crescimento e prática cristã vêm pelo conhecimento da Palavra de Deus. As ministrações são sinais, não um fim em si mesmas; terceiro motivo, porque são pressionados por outros que aderem a ondas e passam a Ter como base experiências sem nenhuma base sólida da Palavra de Deus. Por isso que existem igrejas, onde há curas, expulsão de demônios, mas mesmo assim há ovelhas morrendo de fome dentro de seu próprio aprisco; quarto, pela tentação da quantidade em detrimento da qualidade. Pensam alguns: é melhor Ter uma igreja com muitas pessoas mesmo com um método ou prática questionada pela Palavra que com poucas pessoas com uma base sólida.
G. K. Chesterton escreveu: “Nosso mal hoje é Ter humildade no lugar errado. A modéstia deixou de atuar sobre o órgão da ambição. A modéstia reside agora no órgão da convicção; onde nunca deveria estar. O homem deveria duvidar de si mesmo e Ter certeza da verdade. Isso foi completamente invertido”. Vejo que hoje muitos líderes estão duvidando de algumas verdades teológicas para dar lugar aos seus pontos de vista ou a experiências e ondas de avivamento (que não é errado, diga-se de passagem, mas não pode ser central e decisiva). Hoje em dia não se diz mais: “vamos ver o que a Bíblia diz”, mas “vamos ver o que aquela igreja grande faz e usa”, ou “vamos fazer porque dá resultado”. Estas frases infelizmente são um reflexo de uma igreja decadente, que se não for cuidada, mais tarde será uma igreja de cristãos nominais, tendo a Bíblia como algo facultativo.
Pensando nisso quero trazer uma exegese de 1 Timóteo 3.1-7. Meu objetivo não é instruir (apesar de que poderá ajudar a muitos) com presunção ou demonstração quaisquer, mas de relembrar e evidenciar o que a Palavra de Deus diz. O que vou fazer é simplesmente evidenciar o que Paulo disse, nada mais. Aliás, a exegese é buscar o que o autor queria falar de fato.
Sabemos que Paulo estava escrevendo uma carta pastoral a seu filho na fé, Timóteo. Portanto, tudo que iria instrui serviria aos demais líderes das igrejas. Paulo começa mostrando que a palavra que iria falar era fiel e verdadeira pistos ho logos. Portanto, estava levando Timóteo a levar a sério, talvez porque iria falar de bispos na sua epístola
A palavra bispo
É necessário, portanto, que o bispo seja…
A palavra bispo episkopos que quer dizer supervisor, alguém que observa, dá assistência foi usada apenas 5 vezes no Novo Testamento; 4 foram usadas para os líderes das igrejas, (At 20.28; Fl 1.1; 1 Tm 3.2; Tt 1.6,7), 1 usada para Cristo (1 Pe 2.25). Vemos, algumas vezes, que os apóstolos usavam a palavra similar presbítero presbiteros como At 20.28. A tradução da Septuaginta no Velho Testamento demonstra que todas as ocorrências eram para líderes, e esses, homens, sendo usada até para o próprio Deus, como o seu verbo episkopos que sempre foi usado para lideranças, e essas, homens. Paulo, quando chamou os líderes de Éfeso em Atos 20, eram todos homens pela expressão metekalesato tous presbiterous a declinação é masculina e não dá espaço a mulheres. Na oração dei oun ton episkopon a palavra episkopon está com o artigo masculino. Paulo já define para quem está falando, até porque, não há esta palavra feminina em nenhuma parte da Bíblia, seja no NT, seja no VT (na Septuaginta, que era muito usada no tempo de Jesus). A expressão verbal grega é necessário que seja dei.. einai demonstra algo que é indispensável e deve ser uma característica visível, pois os líderes teriam que ser analisados. O verbo einai de eimi está no infinitivo presente. Tempo verbal que atesta uma ação habitual, demonstrando que essas características devem ser constantes e para todos os tempos, já que se tratava de princípios para a igreja de Jesus. Não se podem fazer exceções ao episcopado, pois essas características seriam necessárias e indispensáveis à liderança de Cristo.
As qualificações
Paulo, então fala que é necessário… Esta expressão serve para critério daqueles que aspirarem ao episcopado. Isto quer dizer que se alguém dissesse Ter algum chamado, teria que passar pelo crivo dessas qualificações. Vejamos algumas, que me dedicarei somente àquelas que digam respeito ao problema de ordenação de mulheres:
Esposo de uma só mulher
Muitos eruditos admitem que essa expressão é difícil. O problema está se Paulo está defendendo que o bispo seja casado ou se está evidenciando o sexo. A palavra grega anër quer dizer tanto varão como esposo; em todo caso, o sexo fica já definido, mas mesmo assim, há uma dúvida se Paulo queria enfatizar o gênero ou ao casamento monogâmico. A expressão mias gunaikas andra é usada por Paulo, pelo menos três vezes; falando outra vez a Diáconos (1 Tm 3.12) e a Tito (1.6) e quando falava aos bispos. Portanto, essa expressão revelava uma característica importante àqueles que queriam o episcopado e ao diaconato. É interessante que Paulo usou a mesma expressão a diáconos. Se defendemos que o diaconato feminino foi liberado por Paulo (1 Tm 3.11), (creio nisso); então essa expressão se torna clara como uma admoestação à monogamia que não era um costume entre os gentios. Porém, creio que a palavra grega anër expressa muito mais que uma admoestação à monogamia, pois havia presbíteros solteiros ou viúvos como o caso de Paulo; mas que o bispo não fosse um conquistador ou um defraudador. Isso é reforçado pelo genitivo qualitativo mias gynaikas. Em todo caso, podemos aceitar esses dois princípios: seja que tenha uma só esposa, como também alguém que não seja aproveitador, tentado seduzir mulheres. Porém, o que podemos ver é que Paulo mudou os verbos de (é necessário ser) para apenas um imperativo do verbo eimi – sejam) quando falava a diáconos. Paulo falou os verbos deieinai…tanto a Timóteo como a Tito para as escolhas de presbíteros e, nessa escolha, Paulo não abriu espaço a mulheres como abriu ao diaconato; mesmo porque, há uma passagem que possivelmente Paulo fala do diaconato de uma mulher em Romanos 16.1. A expressão grega não é um verbo como as traduções ditam, mas um substantivo sendo diaconisa ou serva da igreja)Porém quando se trata de presbíteros ou bispos não há referências a mulheres. Portanto, Paulo quando falou do diaconato usou um verbo ser eimi no imperativo, mas com respeito ao episcopado ele usou a forma verbal dei… einai que significa uma regra sem exceção.
Apto para ensinar
Essa expressão é uma dificuldade àqueles que advogam a ordenação de mulheres. O adjetivo torna a discussão mais complicada para aqueles que têm a Bíblia como regra de fé e conduta, pois como Paulo, na mesma epístola, admoestou peremptoriamente que não permitia que mulher ensinasse, nem que usasse autoridade sobre o homem (1 Tm 2.12) (A expressão grega diz respeito a um ensino com uma autoridade de homem como diz a expressão exercer autoridade de homem) e incluiria as mulheres ao ensino autorizado logo depois? Paulo estava refutando uma espécie de heresia feminista na igreja de Éfeso, levando à confusão de papeis entre os homens e as mulheres. Não podemos dizer que foi por causa do contexto da época, pois ele se baseou na criação, firmando-se na criação do homem como primeiro formado, sendo logo depois a mulher (1 Tm 2.13,14). É bem verdade que Paulo não estava trazendo uma proibição absoluta de ensino à mulher, mas um ensino com autoridade como se fosse um homem, ou seja, na posição de um presbítero, pois sabemos que ele, falando a Tito, disse que as mulheres mais maduras fossem mestras do bem e instruíssem às mais novas a serem boas donas de casa (Tt 2.3,4) e vemos Priscila explicando o Caminho de Deus a Apolo (At 18.26); mas mesmo assim, Tanto Paulo como Lucas não usaram o verbo didaskö mas os verbos instruir ao autocontrole söphronizö e explicar, expor ektithëmi. Isto quer dizer que esse ensino é instrutivo, supervisionado e administrado por um episkopos. Então, Como Paulo, que havia acabado de falar que não permitia uma mulher exercer autoridade de homem, agora se referiria a mulheres para ensinar na posição de liderança? Seria não somente uma contradição, mas uma insensatez e contradição aberta de seus ensinos.
E que governe bem a sua própria casa, criando os filhos sob a disciplina, com todo respeito
Esta exigência de Paulo deveria fechar a questão aos inovadores, se não, vejamos: o verbo grego para governar é proistëmi usado sete vezes no NT para lideranças da igreja; dessas sete, três passagens são usadas com o verbo no particípio masculino como uma expressão adjetiva e qualitativa 1 Tm 5.17; Rm 12.8; 1 Ts 5.12). Isso se completa se entendermos que Paulo exige do Bispo e presbítero que governe bem a sua casa. Ele precisa Ter essa qualificação; com isso, traz um sério problema à ordenação de mulheres porque como adequar essa exigência que Paulo falou que é necessário? Paulo não deixou espaço para uma condição se não for homem. Não, ele disse que é necessário que o bispo governe bem a sua casa.
Pois se alguém não sabe governar bem a sua própria casa como governará a igreja de Deus?
Esta expressão é muito forte, porque Paulo aqui deixa claro que o episcopado tem que ser um homem mesmo. Quando ele faz essa pergunta ele coloca todos aqueles que não governam bem e principalmente os que não estão na posição de governo de um lar ou casa, como desqualificados para o episcopado. Seria uma falta de consenso dizer o contrário e uma quebra de princípio hermenêutico. Paulo aqui usa a ajuda da lógica aristotélica em afirmar algo através de uma pergunta. Trazendo ao contexto da discussão, COMO ALGUÉM PODE CUIDAR DA IGREJA DE DEUS SE NÃO GOVERNA A SUA CASA? Pois se Paulo falou daqueles que não governam bem, seria lógico excluir aqueles que não governam. Mesmo assim se alguém refuta que Paulo não está falando somente aos casados; porém, o que está em questão é a autoridade, pois o bispo teria que Ter autoridade ao ponto de saber governar a sua própria casa, se a tivesse. Isto quer dizer que o padrão de cuidado para a igreja é saber cuidar bem de sua casa, que exclui completamente as mulheres.
É necessário que ele tenha bom testemunho dos de fora
Essa expressão não faria sentido para esse assunto se não houvesse o pronome pessoal masculino auton (ele), sendo usado somente para ênfase. No texto Majoritário esse pronome aparece, ou seja na maioria dos manuscritos gregos. Demonstra mais claro ainda a intenção de Paulo ao falar sobre o episcopado ou à liderança masculina da igreja.
Conclusão
Minha intenção não foi de mostrar uma superioridade sexual, ou seja, dizer que os homens têm mais capacidade ou que não existam mulheres valorosas, santas e cheias do Espírito; mas de fazer-nos pensar mais sobre os papéis que Deus nos concedeu ao criar-nos e que os homens por causa do preconceito, pecado distorceram esse papel que se completam. Creio que se o objetivo de ambos forem a glória de Deus, então se alegrarão em cumprir a sua Palavra com zelo e dedicação. Buscar “fazer a vontade de Deus” fora da sua Palavra ou mesmo em dúvida desta é farisaísmo e está fora daquilo que Deus colocou como padrão aos seus servos. Entendo a tentativa das mulheres buscarem uma igualdade social e mostrarem seu valor, mas igualdade é diferente de papel. Deus nos fez iguais, mas com papeis diferentes, com características diferentes. Se fôssemos iguais não haveria complemento, mas porque somos diferentes, podemos dizer que precisamos um dos outros; homem e mulher se completando em amor na sua função que Deus lhes deu.
* Pr. Francisco Mário Lima Magalhães, Bacharel em Teologia e Missões, graduado em Letras, Mestrando Teologia exegética NT pastor da Igreja Batista Nacional de Balsas-Ma
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