Autor: Gerson Martins
Há pouco tempo decidi sair com outra mulher. Na realidade foi idéia da minha esposa. “A vida é muito curta, você deve dedicar especial tempo a essa mulher…” “Mas, eu te amo” – protestei à minha mulher. “Eu sei. Mas, você também a ama”. A outra mulher, a quem minha esposa se referia, era minha mãe, que já era viúva há 19 anos. As exigências do meu trabalho e de meus 3 filhos faziam com que eu só a visitasse ocasionalmente.
Hoje a convidei para jantar e ir ao cinema. “O que é que você tem? Você está bem?” (Minha mãe é o tipo de mulher que acredita que uma chamada tarde da noite, ou um convite surpresa é indício de más notícias). “Pensei que seria agradável passar algum tempo contigo, só nós dois… O que acha?” Ela refletiu por um momento. “Me agradaria muitíssimo” – disse ela sorrindo.
Depois de alguns dias, estava dirigindo para pegá-la depois do trabalho. Estava um tanto nervoso… era o nervosismo que antecede a um primeiro encontro. E que coisa interessante: pude notar que ela também estava muito emocionada. Esperava-me na porta, com seu casaco… Havia feito um penteado e usava o vestido com que celebrou seu último aniversário de bodas. Seu rosto sorria e irradiava luz como um anjo. “Eu disse às minhas amigas que ia sair com você, e ficaram muito impressionadas” – comentou enquanto subia no carro.
Fomos a um restaurante, não muito elegante, mas aconchegante. Minha mãe se agarrou ao meu braço como se fosse “a primeira dama”. Quando nos sentamos, tive que ler para ela o menu. Seus olhos só enxergavam grandes figuras. Quando estava pela metade das entradas, levantei os olhos: mamãe estava sentada do outro lado da mesa, e me olhava fixamente. Um sorriso nostálgico se delineava nos seus lábios. “Era eu quem lia o menu quando você era pequeno” – disse-me. “Então é hora de relaxar e me permitir devolver o favor” – respondi. Durante o jantar tivemos uma agradável conversa. Nada extraordinário, só colocando em dia a vida um para o outro.
Falamos tanto que perdemos o horário do cinema. “Sairei contigo outra vez, mas só se me deixares fazer o convite” – disse minha mãe quando a levei para casa. E eu concordei. “Como foi teu encontro?” – quis saber minha esposa quando cheguei aquela noite. “Muito agradável… Muito mais do que imaginei…” Dias mais tarde minha mãe faleceu de um infarto fulminante; tudo foi tão rápido, não pude fazer nada.
Depois de algum tempo recebi um envelope com cópia de um cheque do restaurante onde havíamos jantado, e um bilhete que dizia: “O jantar que teríamos, paguei antecipado; estava quase certa de que não poderia estar ali, por isso paguei um jantar para ti e para tua esposa. Jamais poderás entender o que aquela noite significou para mim. Te amo”. Nesse momento, compreendi a importância de dizer a tempo: TE AMO e de dar a nossos entes queridos o espaço que merecem. (relato real)
O que pode ser mais importante nesse mundo do que Deus e nossa família? Hoje é o dia de fazê-los feliz. E aí? Vamos deixar pra amanhã?
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