Autor: Caio Fábio
Desde ontem, dia 12 de março, que recebo e-mails de cristãos preocupados com o debate havido na CNN entre alguns pastores, um padre e um bispo metodista. O tema era a guerra de Bush contra Bin ou de Bush contra Hussein. O entrevistador era o navalha cortante, mister Larry King. Os entrevistados, bem, com exceção do padre e do bispo metodista, conheço a todos eles. Seus nomes, prefiro não referir. Aliás, essa foi uma coisa que aprendi: só se menciona o nome de alguém em textos ou falas públicas se for para falar bem. Do contrário, falo dos conteúdos, mas não das imagens e das personas que são representadas por “nomes”. Não sou repórter. Sou apenas um cristão!
O debate foi um show de basicalidades e de interpretações pobres e idiotas. À exceção de uma boa resposta do padre—sobre os erros da Igreja Católica na História—e uma do bispo metodista—sobre a inclusividade do amor de Deus para com todos os seres humanos da Terra, independentemente de serem cristãos ou não—o que rolou foi mais infantil do que as conversas dos bêbados que freqüentam o Bar dos Inocentes, na esquina de minha casa. Lá as percepções são mais cristãs!
O que me chocou não foi o debate. Assisti-o como diversão. Da Galieia pode sair coisa boa. Da Igreja, no entanto, é muito raro. Surpresa seria se tivesse havido alguma coisa de fato significante e lúcida. O que me chocou foi a quantidade de reclamação que recebi sobre como a imagem dos cristãos ficou mal no debate. Isto sim, me deixou todo inflamado!
O que aconteceu no debate foi apenas aquilo a que a imagem dos cristãos de fato corresponde no Ocidente: um grupo representado por líderes medíocres e que repetem como papagaios sem boa memória formulas sistematizadas por seus mestres de quase nada, acerca de temas que eles conhecem como texto, e não como vida.
E mais: fiquei grato que os que ali estavam fossem seres plastificadamente circunspectos. Se fossem pastores, apóstolos e bispos brasileiros o show teria sido infinitamente mais patético.
Lá há plástico, aqui há escracho!
Essa guerra é mais insana que a maioria das guerras. É uma guerra ao fim da qual não haverá vencedores, apenas feridos e mortos, sem falar no agravamento do processo de terrorização do planeta, que ganhará força moral com a derrota de Hussein. Saddam vencido é herói dos muçulmanos, dos árabes e de todos os oprimidos da Terra; ou seja: da maioria. E Bin o seu profeta!
O que será, será! Somente o Senhor pode fazer parar sem conseqüências maiores aquilo que já está deflagrado!
As causas e os pretextos dessa guerra não estão em questão aqui. Detesto simplismos. Portanto, prefiro nada falar sobre o assunto por trás do conflito do que oferecer uma Bula de interpretações feitas para serem lidas apenas por aqueles que não sabem ler.
Então, não é da guerra que falo aqui, mas da resposta “cristã” à ela. E meu funil se estreita ainda mais: trato aqui apenas da preocupação cristã com a “imagem que os representantes americanos dos evangélicos” passaram para o mundo.
E a fim de refletir sobre o assunto quero afirmar o seguinte:
1. Cristãos que precisam se preocupar com a sua imagem perante o mundo não têm nada além de imagem para oferecer ao mundo.
2. Cristãos que desejam uma representação que seja politicamente correta a fim de representa-los na mídia, ainda não entenderam que não há cristão que possa representar os cristãos quando o assunto é guerra.
3. Cristãos que ainda crêem que há uma imagem a ser mantida para a honra da fé, ainda não entenderam que a fé não se veicula pela imagem, mas tão somente pela vida, e, esta não se manifesta num debate no Larry King Live com representantes da “Igreja”.
Assim, diante do tema a resposta cristã não se faz com caras não-plásticas, com sorrisos convincentes ou com idéias claras. O que caberia era apenas um convite ao arrependimento. Afinal, foi assim que Jesus agiu quando vieram a Ele com a história de que Pilatos havia misturado o sangue de alguns Galileus com o sangue dos sacrifícios que ofereciam a Deus:
Ou julgais que esses iraquianos sobre os quais bombas cairão—se caírem—são mais pecadores do que todos os demais americanos? Em verdade eu vos digo que se não vos arrependerdes todos igualmente perecereis!
Enquanto uma guerra desastrosa nos remeter prioritariamente para a preocupação com a representação dos cristãos nos debates, o que tenho a dizer é só isto: para tratar de guerra aqueles representantes estavam ótimos, e para se preocupar com a imagem dos cristãos no tema da guerra, as nossas preocupações nos fazem jus.
A imagem dos cristãos?!
Meu Deus, é uma guerra!
Minha sugestão é que façamos um panteão com nossas melhores faces e com as vozes de nossos mais habilidosos comunicadores enquanto vidas são exterminadas!
Mas se não nos arrependermos, todos, igualmente, pereceremos!
Enquanto isto, que se levantem as vozes dos profetas das imagens dos cristãos, pois, pior do que a guerra para os cristãos é a sua gloriosa imagem.
Não farás para ti imagem de ti mesmo, diz o Senhor!
Diretamente do país da libertação da imagem,
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