A cura da maledicência

Autor: Odilon Massolar Chaves
O nosso texto base de reflexão está em Mt 18:15-17. A partir dele trataremos sobre a cura da maledicência. Para isso, também tomaremos como referência o sermão de John Wesley, pastor e fundador do Metodismo, sobre maledicência, nas páginas 460 a 471, dos Sermões de Wesley, volume 2, da Imprensa Metodista.
Mas o que é maledicência? John Wesley diz: “Não é, como alguns supõem, o mesmo que mentira ou calúnia. Tudo quanto o homem diz pode ser verdadeiro como a Bíblia, e ainda seu falar constituir maledicência.” Maledicência é dizer mal de uma pessoa ausente, referindo alguma falta que houvesse sido realmente praticada ou dita por alguém que não se encontre presente quando se faz a referência. É o mesmo que “falar pelas costas.”
Para Wesley, murmuração é fazer a referência a um fato “de modo simples e sereno (talvez com expressões de boa vontade para com a pessoa, e com esperança de que as coisas não sejam inteiramente más).”
Esse é um pecado comum. Tanto rico e pobre, o sábio e o insensato têm cometido essa trasgressão. Como estamos rodeados por ele de todos os lados, se não formos profundamente sensíveis ao perigo, e se não nos guardarmos constantemente, estaremos sujeitos a ser levados na torrente. “A maledicência nos ataca sob disfarce, diz Wesley, pois falamos assim por uma uma nobre e generosa (será bom se não dissermos santa!) indignação contra aquelas vis criaturas!
Cometemos pecado por mero ódio ao pecado! Servimos ao diabo por zelo puro de Deus!”
Come evitar o laço? Jesus nos ensina, no nosso texto bíblico de refência, um método seguro de evitar a maledicência: “Se teu irmão pecar contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente: se te ouvir, ganhaste a teu irmão. Mas se te não ouvir, leva ainda contigo uma ou duas pessoas, para que por boca de duas ou três testemunhas toda a questão se decida. E se ele recusar ouví-las, dize-o à igreja; e se também recusar ouvir a igreja, considera-o como gentio e publicano” (Mt 18:15-17).
Se teu irmão pecar contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente. Wesley diz que se você viu com teu próprios olhos um irmão ou irmã cometer pecado, ou ouvires com teus próprios ouvidos, não duvidando, portanto, do fato, “aproveita a primeira oportunidade para ires ao seu encontro.”
Wesley adverte ainda ao que irá falar. Ele diz que deve se tomar cuidado para que isso aconteça “num espírito reto e de maneira reta. O sucesso de uma dvertência depende grandemente do espírito com que é feita.”
A exortação deve ser feita num espírito de serenidade. São palavras de Wesley: “Vê que fales num espírito de mansidão, assim como de serenidade, porque a ira do homem não cumpre a justiça de Deus”. E ainda orienta: “Fala, ainda, num espírito de terno amor. Assim amontarás brasas vivas sobre sua cabeça.”
Mas não termina aí a orientação de John Wesley. Ele diz: “Mas vê que a maneira por que fales seja também segundo o Evangelho de Cristo. Evita tudo no olhar, no gesto, na palavra e no tom de voz que tenha o sabor de orgulho ou de suficiência própria. Ponderadamente evita todo ar didático ou dogmático, tudo que resuma arrogância ou presunção.”
No relacionamento, na orientação, não deve haver nenhuma sombra de ódio, amargura, aspereza, mas uma linguagem de doçura e delicadeza “para que todas as palavras possam demonstrar que jorram do amor no coração.” Mas Wesley nos chama a atenção: “essa doçura não deve, todavia, impedir que fales de maneira mais séria e solene.”
Mas e se não tivermos oportunidade de falar pessoalmente com as pessoas? Wesley diz que podemos falar por meio de uma outra pessoa, “um amigo comum, em cuja prudência, assim como integridade, possas inteiramente confiar. Tal pessoa, falando em teu nome, no espírito e de maneira acima descrita, pode preencher o mesmo fim e, em boa medida, suprir tua falta nesse serviço. Sempre que puderes falar por ti mesmo, será muito melhor.”
Mas, que fazer se não pudermos falar nem diretamente e nem por um amigo em quem podemos confiar? Wesley diz que só resta escrever. E haverá algumas circunstâncias que tornem o meio aconselhável. Uma dessas circunstâncias ocorre quando a pessoa com quem temos de tratar é de temperamento tão excitável e impetuoso que não suporte facilmente admoestações, especialmente de alguém que ele julgue um igual ou inferior. “Mas estas obras podem ser apresentadas e
abrandadas por escrito, de modo a se tornarem muito mais toleráveis.” Segundo Wesley, as palavras escritas não causam violento abalo no seu orgulho nem ferem a honra sensivelmente.
É bom lembrarmos que esse é o primeiro passo que Jesus nos ordena a seguir nesta questão. Ele deve ser dado, em primeiro lugar antes de tentarmos qualquer outra coisa. Para aqueles que não desejam tomar essa atitude de falar com o irmão ou irmã que erraram, ele diz: “Deus te reprova por causa de um pecado de omissão, por não falares a teu irmão acerca de sua faltä.” Wesley adverte: “A comodidade comrpada em troca do pecado é um mau negócio.”
Wesley diz que só conhece uma excessão a essa regra de denunciar o pecado embora o culpado esteja ausente: para salvar o inocente. Sim, esta regra deve ser quebrada quando estamos a par da intenção de uma pessoa que deseja prejudicar a alguém (a propriedade ou a vida do próximo).
Neste caso, “é nosso dever indeclinável, dizer mal de um ausente, para evitar que este faça mal aos outros e ao mesmo tempo a si mesmo.” Devemos usar este meio com temor e tremor, pois é um remédio perigoso.
Mas, e se nós formos falar com quem pecou contra nós e ele não nos ouvir? E se retribuir o bem com o mal? E se ele se irritar em vez de se convencer? Pra começar, Wesley diz que devemos esperar constantemente por isso. Mas a bênção que nós desejamos para a pessoa que errou voltará ao nosso próprio coração.
Jesus nos orienta a seguir um segundo passo: “toma contigo um ou dois mais”. Que eles sejam amáveis, amigos de Deus e de seu próximo. Devem ser também de espírito sincero, humildes, mansos, delicados, pacientes, longânimos, incapazes de retribuir o mal com o mal. Que sejam pessoas de entendimento, dotados de sabedoria do alto, livres de parcialidade, livres de preconceitos, etc.
“O amor ditará a maneira pela qual devam proceder”, diz Wesley. Essas pessoas devem ouvir de tua própria boa as palavras que você falou na primeira conversa. Assim, essas pessoas serão mais capazes de ter um reto procedimento, saber a melhor maneira de agir.
E se mesmo assim a pessoa em questão não nos ouvir? Bem, Jesus nos deu um outro passo a seguir: “dize-o à Igreja”. Wesley entende que Jesus não está falando que o assunto deve vir a público, ou seja, a toda conrgegação, pois não teria “nenhum fim apreciável contas as faltas individuais de um membro à toda Igreja”. Então, resta dizê-lo ao presbítero(s) da Igreja, àqueles que são os pastores do rebanho de Cristo, a quem ambos pertenceis, que velam sobre a tua alma e sobre a dele.”
Wesley diz que “quando tiverdes feito isto, terás libertado tua própria alma”. Devemos entregá-lo a Deus, em oração. Jesus disse: “seja ele para ti como um gentio ou publicano”, ou nas palavras de Wesley, “não tens obrigação de pensar dele nada mais a não ser quando o encomendares a Deus em oração”.
Devemos ter cortesia, bondade para com ele, quando for preciso, “mas não tenhas amizade, nenhuma intimidade com ele; nenhuma outra relação do que a que deves ter com um gentio conhecido como tal”. Wesley adverte aos Metodistas: “Se, pois, alguém começar a dizer mal a teus ouvidos, repele-o imediatamente. Recusa-te a ouvir a voz do encantador…”
Devemos recusar ouvir, mesmo que ele “use de maneiras delicadas, de doce melodia, com os melhores protestos de boa vontade para aquele a quem está assassinando no escuro, para com aquele que está ferindo sob a quinta costela! Recusa-te resolutamente a ouvir, embora o maldizente se queixe de estar sobrecarregado, enquanto não fale”.
Wesley conclui: “Expulsai a malediência, o falatório, a murmuração: que nenhuma dessas coisas proceda de vossa boca”. “Um metodista, diz Wesley, não censura a ninguém pelas costas. O Senhor habilitou a amarmo-nos assim uns aos outros, não apenas de palavra e de língua, mas em obras e em verdade, assim como Cristo nos amou!”

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