Autor: P. Vernei Henken
Marcos 8.31-38.
Bênção de púlpito: Que Deus, nosso Senhor, nos conceda sabedoria e discernimento para ouvirmos a tua Palavra, por isso pedimos que seu santo Espírito nos auxilie neste momento. Amém.
Prezada comunidade, prezados irmãos em Cristo.
Neste texto temos dois assuntos importantes, que devem ser tratados com mais profundidade: 1- O caminho da paixão, o caminho da cruz; 2- O caminho do discipulado, ou seja, o caminho daqueles que tomados pela fé, desejam anunciar a Boa Nova do Evangelho.
Lendo este texto, e, me preparando para a pregação, lembrei-me de alguns ditados populares, que sempre estão muito presentes em nosso meio: “quem pode mais chora menos”. Ou, “querer é poder”. Ou, “Para dá-se um jeito”. Ou ainda, “quem pode, pode, quem não pode se sacode”. São alguns dos ditados populares que, às vezes, se tornam realidade em nosso meio de vida.
Mas, o que estes ditados populares tem a ver com o texto previsto para o dia de hoje? Tem a ver, pois Pedro também, quis dar uma de esperto, quis dar um “jeitinho” com relação a aquilo que Jesus tinha acabado de lhe ensinar. Jesus havia ensinado aos seus discípulos, que era necessário que o Filho do Homem sofresse muitas coisas, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas, fosse morto e que depois de três dias ressuscitasse.
Jesus fala isso de si mesmo, do seu ministério. Mas, o que Pedro fez? Pedro chamou Jesus ao lado e respondeu-lhe: Jesus será que não dá para dar um “jeitinho” de fugir desta cruz. Mas, Jesus o respondeu dessa forma: Arreda Satanás!, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim, das dos homens.
Para Jesus a atitude de Pedro deveria ser repreendida, pois para o verdadeiro discípulo deve haver um comportamento de seguimento igual ao seu Mestre. Para seguir a Jesus há necessidade de seriedade e de compromisso com a proposta do Reino de Deus. Nos versículos 34 e 35 Jesus nos deixa uma receita de como podemos seguir-lhe, quando diz: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me!”. “quem quiser, pois salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, salvá-la-á.”
Com estes dois versículos, Jesus, ao mesmo tempo dá uma resposta a Pedro e convida a todos, a multidão reunida e a nós, para seguí-lo. Mas, quem decide por isto deve negar e renunciar a si mesmo, para que o discipulado possa ser vivido acima dos próprios planos e desejos. O discípulo deve estar disposto a carregar a cruz, não procurar fugir dela, como Pedro sugere. O tomar a cruz é sinônimo de discipulado, do testemunhar o Evangelho.
O seguidor coloca-se ao serviço do Reino de Deus, como faz o próprio Jesus. É converter-se em Evangelho vivo, pois fé implica em seguimento, e este, e este não pode ser realizado senão contra poderes que vão contra a proposta do Reino de Deus. O cristão é aquele que opta em defesa da vida. A sua opção pode ter como conseqüência o sofrimento e a perseguição.
Mas, na época de Jesus, os discípulos estavam em comunhão com o próprio Deus, encarnado em Jesus. Hoje, não temos esta possibilidade, pois Jesus foi crucificado. Seguimos a Jesus, porque Deus, além de tornar-se humano em Jesus, faz-se presente entre nós pelo Espírito Santo. Seguimos Jesus porque Deus o ressuscitou, rompendo com o círculo da morte e porque Jesus nos deixou a Boa Nova (o reino de Deus), para continuarmos anunciando. Então, Deus nos presenteia com duas coisas para continuarmos esta tarefa: “a fé e a presença do Espírito Santo”. São estes dons que nos dão forças para resistirmos e perseverarmos com a proposta do Reino de Deus.
Ainda há um aspecto que toma conta de nosso texto, perpassando do começo ao fim. O caminho da paixão, o caminho da cruz. O caminho da cruz, para Jesus, não pode ser visto sem o caminho para o discipulado. Da mesma forma como a ressurreição não pode ser vista sem a cruz. Estes dois caminhos estão intimamente ligados. Um não existe sem o outro. Um pastor da IECLB, em Belém (PA), em seu escrito, relaciona cruz e ressurreição da seguinte forma:
“A ressurreição coloca, juntamente com a cruz, Deus em meio a nossa história. Deus em Jesus Cristo, identifica-se com a caminhada sofrida e sempre nova do povo sofrido e oprimido”. Dario Scheffer -Artg. Cruz de Podre
A cruz é um dos maiores símbolos do cristianismo. Ela identifica o cristão. Ela nos convida para ser assumida e para seguir Jesus. A cruz contêm a imagem de Cristo que expressa sua dor, não permite minimizar a sua morte. A cruz, limpa, também atesta a vitória sobre a morte, aponta para a ressurreição como fato e promessa. Na cruz Jesus se solidariza com o povo massacrado e crucificado deste mundo. Jesus nos aponta o caminho.
Retomando um pouco o início da nossa história, podemos nos perguntar se procedemos, em nossas vidas como Pedro, arrumando um “jeitinho” para tudo, nos esquivamos de tudo. Ou se assumimos e desdobramos a nossa fé para o nosso dia-a-dia.
Como desafio, é conseguirmos ver nosso próximo como irmão e imagem de Deus, deixando de tratá-lo como mais um neste mundo. Mudando, dessa forma o nosso ditado popular de “quem pode, pode, quem não pode se sacode” – para – “quem pode e quer vai ao encontro do irmão”. Amém.
Paróquia da Boa Vista. São Lourenço do Sul.
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