Autor: Marcos de Almeida
O tema abordado neste trabalho é o conceito de criação no contexto de Romanos 8.17 a 25, tendo em vista a implicação deste para uma consciência ética-teológica cristã. A questão de destaque é a dimensão ética da relação entre ser humano e meio ambiente. Devemos compreender sobre qual deve ser nossa posição, como cristãos, frente à destruição do meio ambiente.
Paulo nos apresenta a ação de Deus na criação, mostrando o movimento do passado para o futuro, tendo o presente como um processo a ser levado em conta. Neste sentido, é dever de todos os cristãos refletir, não apenas no resgate dos perdidos, mas também nos posicionar diante de um assunto atual, que está afetando a todos e terá repercussões seriíssimas para as futuras gerações.
Estamos diante de um problema que, independente de raça, cor e religião, interfere diretamente na existência do ser humano. É um problema que diz respeito a todos. A dimensão ética cristã a respeito da criação poderá oferecer aos eleitos um conjunto de princípios e condutas normativas que pode melhorar os relacionamentos entre o cidadão, a sociedade e o espaço ambiental. Porém, o melhor de tudo isso é a ação poderosa do amor que, em ação, rege e une perfeitamente todas as coisas.
É certo que os resultados da ação destruidora do humano sobre a natureza, se mostram na vida do próprio homem ou na ausência desta vida. É cada vez mais normal se assistir por meio da mídia, as notícias freqüentes sobre o tema abordado neste trabalho. O objetivo aqui não é radicalizar, partindo de uma visão pessimista, porém, refletir sobre a necessidade de um equilíbrio da vida entre o homem e seu meio ambiente, de modo que ambos possam sobreviver numa perspectiva cristã.
1. O ecossistema planetário: Uma situação alarmante
A Bíblia afirma que a criação literalmente está gemendo (Romanos 8.18 – 22). Hendriksen (2001, p.354) defende que este texto se refere à criação irracional, animada e inanimada, chamando-a de criação subumana ou simplesmente de natureza. Este é um gemido que indica sofrimento. É fato percebermos que estamos rodeados de sofrimento, presente em boa parte da criação, por causa da presença da ação maligna do homem.
Mesmo agora o homem, que pela exploração egoística pode transformar a boa terra numa bola de poeira, pode, graças ao desempenho de uma administração responsável, fazer com que o deserto floresça como um rosal. Que há de ser, então, o efeito que uma humanidade completamente redimida produzirá na criação entregue aos seus cuidados? (BRUCE, 1997, p.137).
É necessária a conscientização de que, o ambiente que nos rodeia, está sofrendo continuamente com as ações egoístas dos predadores ignorantes dos atos que realizam. Quando olhamos à nossa volta, vemos claramente como isto se materializa de modo cruel. Parte das pessoas perdeu de vista que o sistema biológico vive graças ao sustento do ecossistema. Bruce dá o alerta de que o homem que pode perverter a criação, pode também salvá-la. O ser humano, ao se servir da natureza para existir e viver tem provocado, por ignorância ou irresponsabilidade, muitos problemas que, devido à superpopulação do mundo atual, causam preocupações a todos nós.
A realidade do fim do mundo parece mais viável hoje do que nunca. Veja a leitura dos piores desastres ambientais dos últimos anos: (1) Baía de Minamata (Japão) em 1953: Mais de 300 pessoas morreram devido à ingestão de peixe contaminado com mercúrio. (2) Seveso (Itália) em 1976: Contaminação de solo e rios por toxinas. (3) Bhopal (Índia) em 1984: 3.400 mortes na Índia, devido ao lançamento de gases tóxicos na atmosfera. (4) Exxon Valdez (Alasca) em 1989: Vazamento de um volume equivalente a 260 mil tambores de petróleo. (5) Chernobyl (antiga União Soviética) em 1989: Acidente nuclear com mais de quinhentos mortos e com efeitos até os dias atuais.
A natureza sofre e precisamos ter consciência do que estamos fazendo com a nossa casa. Por exemplo, as reservas de água doce ocupam apenas 2% da superfície terrestre e estão concentradas principalmente no gelo das calotas polares e nos lençóis subterrâneos. Seus principais agentes poluidores são os agrotóxicos usados na lavoura, detergentes e sabões em pó, lixo industrial e urbano, e metais pesados, como chumbo, cádmio, arsênio e mercúrio, utilizados na indústria e na mineração. Nos grandes centros urbanos, esgotos e lixo orgânico são lançados sem tratamento nos rios e acabam com toda flora e fauna aquáticas. A matéria orgânica dissolvida alimenta inúmeros microrganismos que, para metabolizá-la, consomem o oxigênio das águas. Cada litro de esgoto consome de 200 a 300 miligramas de oxigênio, o equivalente a 22 litros de água. Se a carga de esgoto for superior à capacidade de absorção das águas, o oxigênio desaparece, interrompendo a cadeia alimentar e provocando a morte da fauna. Isso ocorre com freqüência em várias regiões do Brasil, por exemplo, na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, ou na represa Billings, em São Paulo.
Os editores do 1o. Congresso Internacional de Ecologia de 1974, afirmavam que a ciência ecológica não se achava ainda em condições de dar regras exatas para cada uma das problemáticas do meio ambiental. O que sabiam era apenas o suficiente para prevenir contra a exploração de recursos naturais, porém uma coisa é ter essa consciência, outra, realmente diferente, é ter a ação.
Precisamos trabalhar numa política em longo prazo, onde principalmente se reforce o estabelecimento de normas que contemplem efetivamente as regras ecológicas, ou seja, os seus limites, em detrimento da ganância por lucros imediatos. Segundo Lacroix (1996, p. 80), a política atual é prisioneira do quadro temporal, a saber, a impotência para se sair do curto prazo. É fato que torna-se quase impossível elaborar uma política de longo prazo diante do julgamento do eleitorado que espera resultados a curto prazo. Assim, dar prioridade ao futuro equivale a um suicídio político.
Outro aspecto é perceber que a problemática não se resolve apenas através da ciência ecológica e nem das técnicas corretoras, mas também através da consciência dos problemas e da ascensão coletiva de responsabilidades, ou seja, é a noção da solidariedade. Com isso, destaque do desafio do trabalho do filósofo da moral:
Que deve proceder a uma revisão dos paradigmas vigentes de fundamentação ética e, em definitivo perguntar-se o que quer dizer hoje a filosofia moral diante de um problema que, nas palavras de Paul Feyerabende, ‘é o problema mais difícil e urgente que existe’ e que, por isso, ‘nos obriga a considerar seriamente as nossas prioridades’ (VIDAL, 1999, p.784).
Atualmente, já há uma pequena parte da sociedade clamando por uma busca por soluções para o equilíbrio ecológico. Isso é uma reação frente às atrocidades cometidas, onde a natureza está sendo agredida e por fim destruída. Basta lembrar da cena daquele pequeno pássaro, antes branco, agora todo negro em função do petróleo que se apegou ao seu frágil corpo, e toda a vida marinha aos arredores condenada em função de um grande vazamento de petróleo. Estes, indefesos diante de tal situação, melhor dizendo, de tal agressão, são eliminados de seu próprio habitat, sem direito à defesa.
2. A responsabilidade sócio-ambiental das religiões
A insustentabilidade vigente está anunciada, porém sempre ameaçada em cair na subjetividade dos diversos distraídos. Tal situação de crise será ampliada nos próximos anos e todos os habitantes do planeta terra testemunharão a fúria dos ecossistemas maltratados. É certo que as desgraças sofridas pela natureza estão sendo veiculadas ao longo dos últimos anos pela indústria de hollywood, porém a leitura que o mundo faz certamente não os está levando a uma ação efetiva e interessada pela situação do meio ambiente. Dias destaca:
Todas as tentativas foram feitas: encontros internacionais sucessivos, desenvolvimento de legislações rigorosas, avanços tecnológicos em gestão ambiental e uma crescente mobilização internacional. Entretanto, a despeito de inegáveis avanços em prol da preservação e conservação do ambiente, nada disto está conseguindo deter a destruição generalizada dos sistemas que asseguram a vida na terra (DIAS, 2004, p. 99).
O problema da degradação do ecossistema é gerado pelas pessoas. Segundo Dias, há uma urgente necessidade de instrumentos eficazes que possam operar mais profundamente no interior das pessoas a fim de levá-las a uma real conscientização de uma ação efetiva para a conservação do ambiente onde estão vivendo. É fato que, nestas últimas décadas, a sociedade humana foi programada por um sistema selvagem para um consumismo e individualismo sem precedentes. O pior é perceber que a educação caminhou no sentido de ignorar as conseqüências que estas ações operam na natureza. Ao invés da cooperação para uma manutenção e convivência aceitável, a humanidade enveredou pelo caminho da competição, resultando assim, a uma desconexão com a vida, ou seja, o ser está alienado racionalmente da condição natural do seu próprio lar. A conclusão é que a educação falhou, no sentido da ineficiência de uma pedagogia eficaz no campo da preservação e manutenção do meio ambiente.
O conhecimento acadêmico e as dez mil religiões existentes no mundo não foram capazes de evitar a insustentabilidade humana atual, já traduzida por profundos desequilíbrios políticos, econômicos, sociais, ecológicos e éticos (DIAS, 2004, p. 100).
Há uma denúncia por parte de Lacroix (1996, p. 96), que ao citar White, diz de que a religião judaica-cristã, em sua arrogância, difundiu o mandato para que o plante fosse subjugado. Neste sentido, o livro de Gênesis dá o imperativo para que os homens cresçam e se multipliquem, dominando a terra. Isto serviria com bases para o desenvolvimento industrial, ambientalmente destrutivo no ocidente cristão. Esta questão deve ser analisada de modo correto, para que não se estabeleça bases erradas para o capitalismo selvagem. É certo que a religião tem que ser parte da solução frente a crescente crise ambiental. Surge ao desafio, o de construir uma sociedade justa e ambientalmente saudável. Para isto, como diz Dias, deve-se restabelecer a espiritualidade como parceira em um diálogo com a ciência. O poder da religião:
1. Capacidade de formar uma cosmovisão.
2. Competência para estabelecer uma autoridade moral.
3. Facilidade em estabelecer uma base ampla de membros.
4. Coleta de recursos materiais significativos.
5. Capacidade de desenvolvimento comunitário.
A experiência que as religiões têm servem para dar bases para novas questões de supra importância, pois sabem engajar os fieis a relacionamentos bilaterais, inspira-los a viver uma vida moral e uma tremenda capacidade de dar significado a vida. Ou seja, uma religião pode ser uma fonte importante para levar mudanças internas de pessoas e consequentemente, de sociedades. O problema é que há uma demora na percepção do atual problema: o planeta está morrendo. Consequentemente, uma absurda demora em se envolver nas questões ecológicas e efetivamente se engajar na promoção de um mundo sustentável.
3. O cristão e seu discurso
No tempo presente, grande parte dos cristãos parece estar num estado de omissão diante do progresso da degradação do meio ambiente, das atrocidades da humanidade. Estes permanecem passivos diante deste quadro desolador. A sabedoria clama pela realidade de que todos sofrem com a situação alarmante da natureza, numa existência escravizada pela ausência de ética eficaz.
A teologia bíblica deve ser a base para o despertar de uma mobilização para o resgate da natureza. Calvino (2001, p. 293), já em seu tempo, ensinava que a humanidade deveria ser despertada para a realidade de que toda a criação inocente é punida por conta do pecado. A culpa é do homem pela criação estar em sujeição à corrupção. Os cristãos devem compreender que têm a responsabilidade de cuidar do lar que Deus deu. Que é toda a criação.
3.1. Responsabilidade
O ser responsável como o que responde legal ou moralmente pela vida e bem-estar de alguém. É aquele que tem capacidade de entendimento ético e determinação da vontade para realizar o que é correto. O cristão deve sair da ignorância a respeito de seu papel no ecossistema. Na criação do universo Deus age sozinho, e na conservação, os homens agem com Ele, cooperando para a própria duração mediante a sua tendência a conservar o próprio ser.
3.2. Vida cristã polarizada
O ensino dualista do gnosticismo influenciou o cristianismo por séculos e polarizou a vida cristã, dividindo o ambiente do crente em duas esferas: de um lado a boa igreja, e do outro lado, o mundo mau. O cristão não pode estar no mundo, nem se envolver com as coisas do mundo, pois é mau. Seu envolvimento se dá através da ponte que liga a igreja ao mundo: o evangelismo. Fora disto, não pode haver envolvimento, pois o mundo jaz no maligno (I Jo 5.19), e os crentes devem fugir do mundo. Este pode ser apontado como um dos motivos da total alienação dos crentes em relação ao mundo e as questões relacionadas: Política, economia, ecologia, botânica, sociologia etc.
Jesus nunca ensinou que os discípulos deveriam sair totalmente do mundo, ao contrário, Ele os enviou do mesmo modo que o Pai o enviou (Jo 20.21). Jesus não pediu que os tirasse do mundo, mas que os livrasse do mal (Jo 17.4). Horton (1998, p.90) diz que nenhuma parte da atividade humana deveria ser vista como fora do interesse e desígnio providencial de Deus. Deus é o Senhor de todos os aspectos da vida e neste sentido, a Palavra de Deus deve governar todas as áreas da vida do cristão. A proclamação desta palavra deve seguir esta premissa. A mensagem cristã deve ser integral, ou seja, contemplar não somente o interior do ser, mas também sua totalidade e o ambiente onde se encontra.
3.3. O papel da organização eclesiástica no meio ambiente
É dever da igreja cristã a reflexão sobre as questões sociais e políticas. A igreja tem um papel importante na propagação de um evangelho integral, que anuncia todas as facetas da mensagem bíblica. O evangelho é o poder de Deus para salvar o mundo. Porém, diante de uma influência gnóstica e uma mensagem distorcida da escatologia, tende-se a empurrar para longe o problema da ecologia nas igrejas cristãs. Muitos estão vivendo aguardando a vinda de Jesus, em constante fuga deste mundo tenebroso. Se a igreja cristã andar em harmonia com seu Deus, e observar seus preceitos, ela deverá promover mudanças profundas na sociedade. A igreja é comissionada pelo criador do planeta e tem em si a lei suprema do Senhor no coração, lei essa que tem o poder de libertar tudo e todos desta destruição sem limites, a saber, o amor. A igreja cristã pode se tornar um sério problema quando se isola das questões sociais, quando se fecha nas quatro paredes em busca se seus próprios interesses. A igreja cristã que toma este caminho não faz de modo aberto, mas na sutileza da mensagem espiritualista, onde não importam as questões que não se relacionam com este tema.
3.4. Despertando a consciência cristã
O cristão não pode entrar em reclusão em seu meio eclesiástico, de modo a focar seus esforços apenas nas questões espirituais. Este deve ter plena consciência de sua permanente interação com o meio onde vive. O Professor Rega (1992, p.30) diz que quando o homem polui o seu ambiente ele está automaticamente se auto-destruindo.
Penã (1989, p.167) levanta a justa questão: Diante do quadro desolador atual, não seria demasiado tarde para alguma solução cabível? Será que não avançamos a ponto de não haver mais retorno? Precisamos realmente reconhecer que, neste processo de submissão ilimitada ao meio ambiente natural, não é o homem vencedor. Refletir nas ideologias puramente humanas, e achar que estas poderão resolver os problemas que levantam, equivale a absolutizar suas potencialidades. Como diz Penã, é como queimar a madeira dos vagões para alimentar a caldeira da locomotiva.
Deus é o criador de todas as coisas. A Bíblia afirma isso em alto e bom som (Gn 1). O criador não realizou sua obra e a deixou ao acaso, permanecendo na transcendência, mas é Deus imanente e está agindo por meio de seus filhos. Há um dever e uma consciência em se buscar uma solução para o meio ambiente. Faz-se necessário um posicionamento cristão frente aos problemas éticos ecológicos.
A catástrofe do meio ambiente pode ser detida a partir de um posicionamento ético que dirija e controle os programas tecnocientíficos. Esta ética deve também mobilizar a população mundial e motivar uma tomada de decisão que a situação exige. As autoridades estão conscientes desta necessidade.
O malogro da Conferência de Estocolmo sobre o meio ambiente (1972) colocou em evidência a necessidade de consenso sobre um quadro de valores morais universalmente aceitos para fazer frente à crise (PENÃ, 1989, p.169).
Nós devemos ter o domínio sobre a natureza, mas não devemos usá-la de forma semelhante ao homem caído, agindo fora dos valores éticos. Desta forma, o cristão tem condições de exercer domínio sem ser elemento de destruição. O cristão deve ter consciência de sua posição importante na sociedade. A comunidade cristã deve ser uma exibição viva na verdade de que, em nossa situação presente, é possível ter curas substanciais. O cristão na sociedade deve tratar a natureza com um respeito gigantesco. O cristianismo verdadeiramente bíblico tem uma resposta real para a crise, pois oferece uma atitude equilibrada e saudável para com a natureza, que surge da verdade de Deus.
Assim, o cristão deve ter a consciência sobre a compreensão renovada do domínio do homem sobre a natureza, a saber, uma administração responsável do meio onde Deus nos inseriu. Este deve compreender que não é soberano sobre o ecossistema. A saber, o homem deve utilizar a natureza como Deus quer que ele a utilize, pois somente Ele é o Senhor soberano.
Conclusão
A criação é a totalidade das coisas que Deus criou. O homem foi criado como a coroa desta criação e posto como um mordomo do meio foi inserido. Deus confiou ao ser humano toda a criação; e isso como administradores. Isso implica em dizer que ela não nos pertence. Nós devemos usá-la sabendo que não são nossas intrinsecamente. O domínio do homem está debaixo do domínio de Deus. Se nós temos uma real compreensão da visão cristã a respeito da mordomia em relação à criação, então, teremos uma ação efetivamente ética na direção de sua vontade.
Segundo a Bíblia, a criação no passado foi sujeita ä vaidade, no presente ela geme e no futuro será de uma vez por todas será liberta da escravidão do pecado. Estas ações são assim compreendidas tendo em vista a ação do pecado, que deu início a todo o processo. Por isso, pode-se compreender o homem caído como o pivô da queda do cosmos, mas Deus como sujeito da ação da nulidade em relação à criação. A partir deste início trágico, o velho homem é caracterizado por atos que destroem a comunhão com Deus, com os demais homens e com a criação.
Uma vez que Cristo traz a salvação ao mundo, o novo homem é marcado por um novo conhecimento, que emana do conhecimento de Deus. Este conhecimento permite que o novo homem se torne verdadeiramente uma imagem do seu Criador em atos de amor fraternal. A condição deste novo homem de ter sido “criado à semelhança de Deus”, significa que ele é criado para combinar com Deus. O homem aceita o gracioso veredicto divino pronunciado sobre ele: O eleito de Deus é separado para o serviço dEle, em santidade. Este deve agora viver em dependência dAquele que é a verdade.
Toda a criação está de olho nos filhos de Deus, em expectativa, aguardando a redenção final. O apóstolo Paulo deixa claro que a criação está existindo como todos nós, carente de cuidados. Nesse sentido, muitos cristãos estão alienados das questões relativas à totalidade da criação. A implicação está na ausência de uma tomada de posição em relação à responsabilidade com a mesma. Um dos motivos pode ser por pura ignorância. Se esta é uma realidade vigente, então, há uma lacuna a ser preenchida e trabalhada. Todos os seres humanos têm responsabilidades sociais iguais. Tomar uma postura bairrista só torna o cristão um escapista do mundo real.
O que temos visto, da parte de muitos crentes é uma preocupação apenas com o invisível enquanto o visível está sendo destruído pelo poder das ações irresponsáveis do próprio ser humano. Quando pensa no visível, cai numa teologia desequilibrada da prosperidade. A natureza está sendo assassinada aos poucos por puro anseio desenfreado de lucro rápido, ou, então, por puro descaso daqueles que não refletem sobre seus atos, com resultados irreversíveis para um futuro próximo. O destruidor se torna vítima de seus próprios atos.
A solução do problema está bem perto de todos. Porém, não tão perceptível assim, pois o pecado cegou o homem e corrompeu toda a terra no Gênesis e até hoje temos recebido o seu efeito. Cremos que o mundo necessita ser redimido e o será por meio de Jesus Cristo. Porém, temos uma vida em andamento.
A igreja tem a resposta, uma vez que Deus tem atuado por meio dela para redimir a humanidade. O homem precisa ser transformado para poder trazer transformação ao meio onde vive. Poderíamos sugerir um conjunto de leis que seria o paradigma e a solução de todos os problemas. Mas, na prática, temos visto que esse não é o caminho, pois o coração do homem é mau. Acima das regras, o poder transformador de todos os tempos vem do Deus eterno. O que vemos hoje em dia é uma igreja passiva diante do gemido da criação. Este ensino, de que a igreja deve se manter passiva diante da atual situação alarmante e ficar aguardando as bênçãos do século vindouro, é parcial.
A ação redentiva não deve ser entendida apenas como ação futura, mas é objeto da experiência presente. É ação de Deus nos eleitos e ação dos eleitos na criação. A salvação não é apenas restauração consumada, mas também em andamento. Assim também se dá com o meio onde vivemos. A criação aguarda e enquanto isto pode ser mantida pela consciência de que sua destruição traz sofrimento a toda raça humana.
A igreja não deve furtar seus membros da relação e finalidade entre Filhos de Deus e criação. A ligação entre ambos não está apenas numa esperança escatológica, mas deve resultar num exercício concreto de cidadania humana, com base ética e exercício real no trato do meio onde se está inserido. É trabalhoso refletir sobre isto, e mais ainda partir para ação, mas é isto que a Palavra nos ensina, um pensar teológico responsável e coerente. Estamos numa continuidade, num gerúndio constante onde a comunidade dos santos não é fictícia, mas real, com reais necessidades. Estamos vivendo numa relação permanente com a criação e, quando ignoramos este fato, falhamos em nossa missão como Filhos do Altíssimo.
A conscientização dos cristãos é de suma importância. Para isso, é necessário ter convicção sobre Deus como Criador e também à importância e o valor da criação. A igreja deve ensinar os cristãos a respeitar o meio ambiente. Ter tal atitude também faz parte do testemunho cristão. Por isso a necessidade de passar adiante esta atitude. Temos que prestar atenção sobre a responsável utilização dos recursos dispensados à nossa existência. Temos que saber utilizá-los de modo criterioso, de modo a refletir sobre as necessidades atuais da humanidade. Mas não somente isto, também com as futuras gerações.
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