A comunidade que me Assusta!

Autor: Rev Armando Ribeiro
Aprendendo a respeitar as individualidades.
Mt 18:20

Sou uma pessoa, sinceramente falando, que enfatiza e valoriza o sentimento comunitário. Ora Jesus é um partícipe comunitário, …. (Pois o Filho do Homem não [veio para] destruir as vidas dos homens, mas para salvá-las.) e foram para outra aldeia. -Lc 9:56), além do que, O Cristo vem como representante de um sentimento que igualmente advém do Pai,…( Pois também o Filho do homem não [veio para] ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos – Mc 10:45). Sendo assim, este pequeno pensamento longe de suscitar críticas a ideologia comunitária vem fortalecê-la, pois, na verdade, o que gostaria de destacar é o fundamento da comunidade, e queiramos ou não, como muitos sabem do jargão dos Três mosqueteiros, só pode existir o “todos por um” quando inicialmente surge o “um por todos”, sendo assim, é notório que trata-se de um questionamento da posição da individualidade no meio da comunidade.
Aprendemos em nossos bancos de Igreja, ou nas cândidas salinhas de nossas Escolas Dominicais a tratar deste assunto como um Padeiro trata do pão: amassa, tritura, põe numa grande pá, joga no forno, deixa tostar e depois passa a outro. Sim vivenciar a individualidade é um problema que, longe de ser enfrentado, vem sendo, ora pela Igreja, ora por suas lideranças, inclua-se aí – nós pastores, negligenciado, e, em alguns casos, demonizado.
Com a idéia, quase xiita do controle da influência do que chamam de Neo-Modernismo, a Igreja tornou-se uma destruidora de individualidades. A conversão ao evangelho, longe dos projetos mais humanistas, e porque não dizer Reformados, passa agora por uma esquisita ordem de mesmices. Para ser um converso o homem precisar ser igual ao costume, demonstrar, experimentar, e, porque não dizer, em alguns casos fantasiar-se de certos hábitos santos. Sendo assim, longe da idéia de Calvino, onde o homem é um indivíduo resgatado, e modificado, sem perder então a sua indivi du(o)alidade, (não pode ser dividido em dois o que é um), o ser torna-se uma fresta comunitária, sem graça, um igual ao outro, parecido com aquele povo da Máquina do Tempo, de C. S. Lewis. Todo mundo bonitinho, lourinho, limpinho e, no fundo mesmo, chatinho e oco.
Já que toquei no nome do Reformador, gostaria de ressaltar uma de suas reflexões: “Algumas vezes, certamente a consciência é estabelecida aos homens, quando o mesmo Paulo relata em Lucas que havia se esforçado para que andassem como boa consciência para com Deus e os homens. (At 24.16)”. Que Calvino celebra nas Institutas, em seu segundo livro, (pg 313) a idéia de transformação do homem é fato, porém, não consegui até hoje entender aqueles que atribuem a esta idéia a perda de individualidade. Deixar o velho homem, como bem falou Jesus, não deve ser encarado como uma troca de nossas individualidades, e sim de atos decorrentes desta, sob a influência do Espírito Divino e sem especulações doutrinárias ou morais! Acertos e erros, levamos todos estes, na conversão.
Sendo assim, quando Jesus é interpelado de forma direta em assuntos ligados ao convívio de pessoas (Mt 18), é clássica a idéia do poder, que só pode existir a partir do convívio! Quem é o maior no Reino dos Céus. Ora bolas, só pode existir o maior se definitivamente este possui sob seus braços os menores! Jesus, ao apontar para crianças, não dissimulou o assunto com comparações diretas, mas com ênfase na natureza individual do homem. O cidadão do Reino possui seus erros e acertos vivendo como uma criança, e não exatamente sendo uma!
Outro passo belo da valorização da individualidade é a idéia do pastor que deixa a comunidade de suas ovelhas para trazer de volta uma que se foi (vers 12). O indivíduo torna-se mais importante que a comunidade, na ótica de Cristo neste exato momento. Isto é extraordinário. Sendo assim todo mundo só pode estar bem se o indivíduo, cada partícula da comuna, cada ser também estiver. Não é a toa que o próprio Calvino tornar-se-á mais que um teólogo francês esquecido em Genebra, pelo contrário, as necessidades, a história, e porque não dizer Deus, fizeram dele um reformador social potente, pois justamente, os Grandes de sua Sociedade só teriam paz na perspectiva do bem estar do ser -humano, do indivíduo. Estado e Igreja estão cada qual sob epitáfios, ideais que se comungam na devoção ao Deus Todo Poderoso e a adoção de medidas benéficas ao homem. Por isto que saúde, educação, saneamento são para Calvino, atos tão santos quanto jejuns, orações e festins religiosos!
Por final, quando Jesus qualifica a temática dual, “quando dois ou três em meu nome”, não está só, como muitos defendem, enfocando o relacionamento em comunidade, pois então ele diria duzentos ou trezentos. Jesus está qualificando a reunião de “boas” individualidades, de seres que concordam em Cristo no valor que cada um tem para o outro, e para si mesmo, que estão dispostos por uma influência sobre-natural de participarem de um relacionamento com Deus sem perderem as suas características pessoais, sem deixarem suas individualidades e identidades característica de suas histórias na vida. Ser, ou melhor, ter a individualidade não o precipita ao egoísmo. O Egoísta, assim o é, só ou acompanhado (mal ou bem)! Na verdade, cabe a cada um de nós, explorarmos todos os nossos mistérios, sentimentos e mais, polemiza-los em nossos corações com reflexões máximas da vida, da simplicidade, do meio fio, para, quem sabe, possamos, um pouco, compreender-nos mais e buscarmos nossas raízes. Não apenas saber que Jesus Salva, mas compreender os motivos que fizeram Deus nos salvar, não sendo só evangélicos, palavra que se esfarelou devido à falta de algo, que normalmente indivíduos bem preparados tem… Personalidade! Bem vindo você a mim, ou eu a você. É o que desejo em Cristo por nós! Como Bonhoeffer, um extraordinário indivíduo, pensou, assim concordo e penso; um bom indivíduo entenderá sempre que a comunidade é graça, e lutará até o fim para sustenta-la sem deformá-la. Deformar sociedades creio eu, é destruir indivíduos antes! Sendo assim lutando contra as comunidades que me assustam, as que não são formadas por indivíduos, mas clones religiosos. Deus te abençoe.

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