Coitadinhos! Uma visão distorcida

Autor: Manoel Marques Filho




Há mais ou menos trinta anos, ao visitar uma clínica de tratamento de doentes mentais para menores, no Rio de Janeiro, deparei com um quadro que dizia: "NÃO TENHA PENA DE SEU FILHO". E falava das conseqüências nefastas que poderiam acontecer se a demonstrássemos.
Em princípio, aquele quadro me chocou, pois via as tristes e precárias condições daqueles menores. Nunca esqueci aquela afirmação. A pena pode nos levar à acomodação e não à compaixão. Precisam de ajuda e não de pena. Vi ali como a não aceitação da "pena" produzia efeitos fantásticos na recuperação dos menores, pois levava os pais a agir com eles com naturalidade, como se fossem quase normais.
Aquelas cenas vieram à minha mente quando a missionária Thais, do Norte da África, falou à igreja no primeiro domingo deste mês. Entre tantas palavras edificadoras, contou que as mulheres de seu campo a chamavam de COITADINHA, porque ainda não tinha encontrado seu futuro marido. Certamente não tem um noivo terreno. Mas está muito longe de ser uma coitadinha. Parece que isso não a incomoda tanto, pois sua fé e esperança estão firmadas no noivo eterno.
Missionários costumam passar por uma tremenda adaptação aos costumes e práticas em seus campos. A dedicação pela obra e o amor aos perdidos, os fazem passar por cima de muitas adversidades. Muitas vezes, renunciam a direitos legítimos em benefício da causa que abraçaram.
Podem até passar por perseguições e morte, mas nunca o nosso sentimento para com eles deve ser de pena. Não precisam de nossa pena, mas sim, de gratidão e ajuda em tudo que estiver ao nosso alcance. De acordo com a palavra de Deus, são bem-aventurados e, por isso, devemos nos alegrar e exultar com eles (Mt 5.11-12). Da mesma forma, não devemos sentir somente pena pelos que sofrem, e sim compaixão.
A parábola do Bom Samaritano nos dá uma idéia disso: certamente o sacerdote e o levita tiveram PENA do homem espancado pelos ladrões, mas passaram ao largo, enquanto o samaritano encheu-se de COMPAIXÃO e o ajudou. Concluindo o texto disse Jesus: vai e faze tu o mesmo, conforme Lucas 10.37. A PENA é temporária, passa e pode deixar as trevas.
A COMPAIXÃO é duradoura, permanece e acende uma luz. A Igreja de Cristo torna-se luz para as nações que precisam de misericórdia e dessa luz. Estão espiritualmente enfermas e precisam de nossa ajuda. Muitos de seus filhos estão explodindo em bolas de fogo como faziam os antigos seguidores do deus Moloque, imolando ainda hoje seus filhos no fogo.
Podemos e devemos ajudá-las. A nossa omissão custará a vida de muitos que partirão sem salvação. Quando não houver mais tempo, tudo terminado, aí sim, poderemos dizer: Que PENA! Tarde demais. Creio que a pena será tanto para nós como para eles. Deus espera muito mais de nós. VAI E FAZE TU O MESMO, é o apelo do Mestre que muito mais fez por nós.


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