Mestres em reconciliação e perdão

Autor: David Kornfield




"Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor. Todos tropeçamos de muitas maneiras. Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar todo o seu corpo…" (Tg 3.1, 2a).

Todos erramos de muitas maneiras, pecamos, pisamos na bola. Líderes, então, ainda mais. Porque sua influência, sua língua e seu poder acabam às vezes sarando e abençoando e outras vezes cortando e ferindo. Para manter nossa liderança de forma saudável, precisamos nos tornar mestres em resolver conflitos, inclusive os que nós mesmos causamos ou neles estamos envolvidos. E um dos maiores segredos para conseguir isso é ser humilde, ensinável e saber como pedir perdão de tal forma que as barreiras caiam e as pontes sejam erguidas.

No ano passado, participei diretamente de múltiplos conflitos: desavenças que estavam prestes a destruir uma equipe de ministério em âmbito nacional – processo de confronto em amor em que alguém teria de sair da equipe ou mudar radicalmente – um ambiente disfuncional no qual a aparente liderança autoritária estava afastando as pessoas; uma equipe com líder esgotado que, sob estresse, tomou decisões independentes de cortar ou mandar embora membros da equipe; e o afastamento de alguém que ficou profundamente magoado e não conseguiu estender o perdão pelo mal que sofreu nem perceber a sua responsabilidade no meio do conflito. Nesses cinco casos, a maioria dos conflitos teve finais abençoados e ainda estou torcendo para que todos os tenham.

Chaves para a reconciliação incluem
1. Comunicação clara face a face entre as pessoas em conflito.
2. Ajuda para ouvir o coração um do outro, estendido por meio de um mediador ou outros membros da equipe.
3. Humildade para pedir perdão e liberar perdão genuíno, não retendo as dores.
4. Compromisso de continuar juntos, pois a missão e visão da equipe são suficientemente importantes para nos dar a garra e compromisso de resolver o conflito.

Comunicação clara envolve eliminar os mal-entendidos. Muitos conflitos são criados em cima de distorções – ouvimos algo que a outra pessoa não falou ou não queria comunicar. As coisas facilmente pioram quando comentários de terceiros são tecidos. Fulano diz “A”; Beltrano ouviu “B” e comunica “C” para Ciclano; Ciclano ouviu “D” e fica enfurecido com Fulano por algo que ele nunca fez ou jamais falou. Sentar juntos e tirar os mal-entendidos é fundamental na reconciliação.

Quanto mais nossas emoções se envolvem, mais facilmente podemos nos sentir feridos ou magoados por alguém. Nesses contextos, pode ser um auxílio grande alguém nos ajudar a ouvir o coração do outro. Um segredo é repetir o que ouvimos o outro falar, antes de colocar nosso retorno. Outro segredo é responder ao coração da pessoa e não cair na armadilha de explicar nossa perspectiva.

Algo que ajuda a outra pessoa realmente sentir-se entendida de coração é agradecermos pelo presente que a pessoa nos deu, a oferta de expressar seus sentimentos. Isto se aplica ainda quando a pessoa está irada conosco. Se percebemos que fizemos mal para a pessoa ou contribuímos para isso, até sem querer, e entendemos de alguma forma a dor da outra pessoa, podemos nos arrepender e pedir perdão de coração. É uma disciplina espiritual, quase sobrenatural, não entrar com nossa perspectiva e sim nos dedicar a ouvir bem a pessoa ferida.

Nossa perspectiva pode surgir num segundo momento, possivelmente em outra reunião, quando os papéis poderão ser trocados: nós, expressando em que nos sentimos feridos, abusados ou mal-entendidos; e a outra pessoa esforçando-se para ouvir e responder a nosso coração. Se as feridas ou dores foram mutuas, normalmente um mediador ajudará bastante.

A humildade permite que abramos nosso coração e mente para nos colocarmos na situação da outra pessoa, sentindo empatia e compaixão. Isso é fundamental para se ser ensinável, tendo essa predisposição quanto a querer crescer e aprender por intermédio de cada situação e cada pessoa que Deus coloca em nossa vida.

A pessoa humilde admite fraquezas, pede ajuda, reconhece que sua perspectiva não é a última palavra e aceita correção. Sem humildade não é possível ser um líder bíblico que serve. A pessoa orgulhosa, por outro lado, não consegue perceber o mal que causa a outros, até explicando para eles o erro na perspectiva deles, levando-os a sentir que não fale a pena falar com ela quando tiverem conflitos. Mantém-se cego, tornando-se uma certa lei para si mesma.

O compromisso de continuar juntos, de perseverar na unidade que Deus nos deu é necessário para se dispor a pagar o custo que o processo de reconciliação pode requerer. Recentemente, passei três dias com oito pessoas resolvendo conflitos. O custo foi alto em todos os sentidos, mas saímos do encontro mais comprometidos do que antes dos conflitos brotaram. A essência do Salmo 133 se encontra na primeira e última linha do Salmo: “Como é bom e agradável quando os irmãos convivem em união!… Ali o Senhor concede a bênção da vida para sempre”. Essa união é como “óleo precioso”, uma unção de cura, graça e poder (Sl 133.2). Muitos elementos de caráter e maturidade e de habilidade relacional se tornam possíveis apenas quando pessoas continuam juntas a longo prazo.

Se queremos ser e desenvolver líderes saudáveis, abracemos as oportunidades para crescer nas quatro qualidades acima. Parafraseando Tiago, consideremos motivo de grande alegria o passarmos por diversos conflitos, pois sabemos que a prova da nossa fé produz perseverança a fim de que sejamos maduros e íntegros, sem nos faltar coisa alguma (Tg 1.2-4).

Fonte: http://www.mapi-sepal.org.br/

Visite www.sermao.com.br


Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*