Autor: Ricardo Wesley M. Borges
Somos estudantes que participam de grupos que tem como objetivo claro à missão de alcançar outros estudantes para Cristo. Com essa meta definida de ser um grupo voltado para os que são de fora, e é bom que seja assim, experimentamos a tentação que é a de sermos pessoas voltadas exclusivamente para atividades, para um programa definido. E por mais que sejam boas e adequadas as programações e eventos planejados, um grupo não sobrevive se tiver sua existência como um fim em si mesmo, ou se esquecer de sua motivação central e base última: um relacionamento intimo com Deus, conhecê-lo e glorificá-lo.
Quando reconhecemos a importância de uma relação pessoal com Deus que cada integrante do grupo deve cultivar, normalmente surgem as queixas sobre as dificuldades (tempo, lugar, habito, método,…) para se aprofundar essa relação com o Pai. Essas dificuldades são tão comuns assim como e a nossa condição e natureza. "Os movimentos naturais de nossas vidas produzem lama e lodo. O pecado é parte da estrutura interna de nossas vidas” (Foster). Por isso é que precisamos de disciplinas espirituais. Mas vida disciplinada não é o mesmo que escravidão sob leis e regras rígidas. "A disciplina não e algo que torna uma pessoa não natural ou atarraxada. Ela significa que as forcas da vida são forcas aparelhadas, dirigidas e com propósito definido. São dirigidas para os propósitos de Deus. São forcas disciplinadas” (Stanley Jones).
Crescemos e amadurecemos, nos tornando pessoas disciplinadas, na medida em que cresce e amadurece nossa relação com Deus. Quando Jesus chamou os doze, em primeiro lugar chamou-os a si, para que estivessem com ele, antes de fazerem qualquer coisa (Mc. 3:13). As disciplinas espirituais nada mais são do que meios de desfrutarmos dessa relação com Jesus, sintonizando toda a nossa vida e missão a partir desse eixo principal. Na verdade, os meios, as formas e os métodos não são nem de perto a coisa mais importante. Não é o ritual que importa mais, nem determinada prática é mais importante do que o seu fim. O problema e que somos muito apegados às tradições, quaisquer que sejam. Sacralizamos tanto determinadas maneiras de orar, louvar, jejuar, meditar na Palavra que acabamos por classificar outros ritos que nos são estranhos como frios ou quentes demais, barulho ou silêncio em excesso, muito intelecto ou muita emoção, repudiando assim aquilo que e diferente, perigoso ou "herege". E aqui não estamos falando de conteúdos básicos da fé que não devem ser alterados, mas de formas externas e maneiras de expressar nossa espiritualidade. A história da igreja cristã ao longo dos séculos nos mostra uma riqueza imensa de tradições diferentes de espiritualidade da qual devemos aprender. Quem sabe assim evitamos sacralizar nossa própria maneira de se relacionar com Deus, evitando os estereótipos, preconceitos e divisões que tanto entristecem o Espírito de Deus.
Nisto consiste a grande aventura da vida, essa é a essência da vida eterna: "que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo"(Jo. 17:3). Conhecer a Deus nos humilha, por estarmos diante da grandeza de Deus; nos expande a mente, ao entendermos os propósitos de Deus para a nossa vida e para a criação; nos consola e nos dá esperança. Ao mesmo tempo, conhecer a Deus é algo extremamente prático. "Seriamos cruéis conosco mesmos se tentássemos viver neste mundo sem saber nada a respeito do Deus que e dono e Senhor do universo” (Packer). Conhecer a Deus e o alvo maior de nossas vidas. Isso nos dará um propósito, um senso de direção e uma motivação correta para tudo o mais que fizermos em nossas vidas.
Há muitas disciplinas e práticas que nos ajudam nessa caminhada. Cito algumas apenas como exemplos que possam nos encorajar: o estudo da Palavra; a leitura devocional; a leitura panorâmica da Bíblia; o tempo separado para oração compreendendo a adoração pelo que Deus e, ação de graças pelo que faz, confissão pelo que temos feito, pedidos por nós e intercessão pelos outros; a oração que dura todo o dia; meditação; jejum regular, aprendendo com a renuncia e dependência de Deus, também com uma intenção especifica (não como troca de favores) diante de Deus; anotações de suas experiências com Deus, num rico registro de nossa caminhada com Ele, altos e baixos, confissões, orações e louvores escritos; dias de descanso que também podem ser separados para planejamento e reavaliação de vida. Enfim, investir nessas e em outras disciplinas deve ter sempre a meta maior de conhecer a Deus, seu caráter, seu poder, sua vontade, sua verdade, a fim de que possamos viver de acordo com essa verdade. Esse é o alvo e fim das disciplinas cristãs.
Ricardo Wesley M. Borges é secretário geral da ABUB.
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