Autor: Ricardo Wesley M. Borges
Nasci em uma família evangélica. Filho de pastor, fui criado no que considero uma rica tradição. Desde pequeno, os cultos domésticos diários incutiam em mim a importância da devoção na leitura da Palavra e oração.
Chegou a hora em que entrei na universidade, 17 anos recém-completados, sai de casa pela primeira vez para ir morar na cidade onde faria meu curso, engenharia agronômica, na ESALQ/USP, em Piracicaba. Trotes assustadores, tudo completamente novo, voltei um pouco aturdido pra casa após o dia da matricula, quando li no "Manual do Bicho" um artigo que falava da existência de um grupo que estudava a Bíblia no campus, a Aliança Bíblica Universitária (ABU).
Fiquei feliz em saber que encontraria alguns iguais na faculdade, com quem poderia me identificar e receber apoio. Mas, na verdade, durante todo aquele primeiro ano, não me envolvi muito com aquele grupo de evangélicos e com o que eles procuravam fazer. Não entendia bem aquela devoção e preocupação evangelística deles e me empenhava mais em tirar as notas mais altas, dando testemunho através de minha excelência acadêmica.
Foi preciso que Deus como que tocasse um despertador bem alto no meio da madrugada para que eu pudesse acordar desse sono profundo. Isso aconteceu no começo do meu segundo ano de faculdade. Deus claramente me mostrou que Ele havia me colocado na universidade, que tinha um propósito bem claro para minha permanência ali, e que esse propósito tinha a ver com a expansão do Reino de Deus no mundo estudantil. Servir a Cristo, antes do que obter um diploma, deveria ser o meu primeiro objetivo e assim o foi a partir de então. Deixei de lado a busca frenética de buscar superar os colegas nas notas e trabalhos, que e uma forma pervertida de testemunho cristão, e reorganizei meu tempo e prioridades quanto a estudos, estagio, família e envolvimento na obra de Cristo. No meu caso, não tirava notas tão altas quanto antes, mas as coisas agora se encaixavam com novo sentido e propósito.
Não perdi uma oportunidade de fazer os diferentes cursos de capacitação que a ABU oferecia. Nessa época, meu orientador para iniciação cientifica era um excelente professor japonês budista. Ele (quem diria!) me liberava durante as ferias e ate mesmo me encorajava a participar desses cursos e dos acampamentos evangelísticos. Ele acreditava que a vida não se resumia somente a pesquisa e universidade. Misteriosos caminhos do Senhor.
Esse foi um tempo muito precioso da minha vida. Naquela época pude ser discipulado e discipular, evangelizar e servir meus colegas não-cristãos, assim como participar de projetos que procuravam atender as necessidades da comunidade que se encontrava alem dos muros da universidade.
Quatro anos depois de formado, percebo que aquele foi um tempo em que adquiri certas maneiras de encarar a vida, visões de Deus e do que Ele quer de mim, convicções profundas que se cristalizaram e me guiarão pelo resto da vida. Afirmo sem medo e sem vergonha que, não fosse essa experiência de procurar viver o cristianismo enquanto estudante junto com outros colegas, minha vida na faculdade seria medíocre, e também medíocres e pequenos seriam meus ideais para minha vida futura.
Na minha situação particular, um chamado específico me levou a assumir um ministério em tempo integral com a ABU. Na verdade, essa expressão, "tempo integral", e infeliz. Obreiros em tempo integral devemos ser todos, enquanto estudantes ou profissionais em nossas áreas de atuação, em nossas famílias, em tudo que fazemos servindo ao Senhor e sendo suas testemunhas. Então, para mim o melhor seria dizer que foi um chamado para uma dedicação especifica e exclusiva, no momento. Pode ser o seu caso, no futuro, um chamado ao ministério para toda a vida ou por um período curto de dedicação em algum projeto missionário. Pode ser também um compromisso de dedicar-se como um profissional que não busca o sucesso e o dinheiro em primeiro lugar, mas sim servir a Deus como prioridade e eixo do que faz. Pode ser.
Depende de você, e do que você faz agora que e estudante. O que você faz?
Ricardo Wesley M. Borges é secretário geral da ABUB.
Faça um comentário