Um apelo à unidade essencial

Autor: Jonathan Menezes

Crise de comunhão. É o que a igreja, no plano geral, tem vivenciado nos últimos tempos. Comumente ouve-se falar de uma certa “comunhão” nos pleitos e apelos evangélicos, por meio de sermões, canções, campanhas de solidariedade e tantas outras formas sugestivas e recorrentes de se produzir “comunidades”. Na prática, porém, a igreja não consegue ultrapassar os meros ritos religiosos superficiais, e a, tão propagada, comunhão torna-se cada vez mais pobre; para muitos antiquada, um anti-reflexo dos “novos tempos”. Afinal, com tantos apelos que não saem do discurso, e com um convite no mínimo sedutor da sociedade globalizada a que vivamos cada um para si, cultivando apenas desejos e realizações individuais, qual é o sentido de viver junto com outras pessoas hoje? E quais seriam os laços desse ajuntamento?
O modelo da primeira igreja cristã, “primitiva”, ainda pode, e deve, ensinar a igreja do século XXI grandes lições quanto ao sentido da “unidade”, defendida posteriormente pelo Apóstolo Paulo (Ver Efésios 4:3). Os primeiros cristãos sabiam como cultivar os elementos essenciais à verdadeira comunhão, que não partia deles, mas do Espírito de Deus. No final do capítulo 2 de Atos dos Apóstolos (Novo Testamento), observa-se descrita uma igreja que mantinha “tudo em comum”, pelo menos tudo o que era mais essencial. A meu ver, três elementos, característicos daquela igreja, evidenciam tal coesão: (1) manutenção das verdades essenciais do Evangelho de Cristo; (2) bom senso e solidariedade: os primeiros cristãos conviviam em meio a diversidade étnica e social (ricos e pobres), o que raramente se vê nos dias de hoje; (3) os cristãos sofriam e se alegravam juntos pelo evangelho. Conta o relato bíblico, que esta era uma igreja que causava muita simpatia e aceitação por parte do povo da época. Mas por quê? Certamente não era por um enorme e suntuoso templo, pois esta não o tinha; muito menos pela  prosperidade material, que a mesma não ostentava, mas pelo poder do Espírito Santo, que neles operava, e o temor de Deus, que a todos tomava. Sem o temor de Deus, a igreja caminha no escuro: desequilibra-se, tromba nos outros, cai e não transmite a luz da vida.
Após tantas tensões históricas, ainda será possível ver cristãos com uma só visão teológico-doutrinária? Sinceramente, não. Contudo, as coisas que os separa (doutrina, moral, usos e costumes..) jamais deveriam suprimir aquelas que, biblicamente, os une: um só Corpo, Espírito, Batismo, uma só Esperança, Fé, Um só Deus e Pai de Todos (Efésios 4:6). O fim maior da “unidade essencial” da igreja, consiste em validar seu testemunho cristão no mundo. Como observou, certa vez, um teólogo Luterano (que defendia o Luteranismo, porém apelava pela paz), se atentássemos à unidade nas coisas “essenciais”, à liberdade nas “não-essenciais”, e à caridade em todas as coisas, nossas relações certamente estariam na melhor situação possível. E acrescento, a igreja não cairia no descrédito em que, infelizmente, tem caído nos últimos tempos.

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