Inquietações, silêncio, presença

Autor: Jonathan Menezes
“Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração” (Eclesiastes 7.2).

Prefiro o ar inquieto do quarto de uma pessoa solitária, povoada por pensamentos, silêncio e pontos de interrogação, do que o ar ilusivo de um auditório iluminado e cheio de pessoas ouvindo respostas fáceis e fúteis a perguntas para as quais, muitas vezes, não há resposta, pelo menos não assim… infantilmente. As respostas que me apetecem não são aquelas que cabem em uma caixa, mas aquelas que transbordam os odres quando estes não mais servem, não para contê-las, mas para lidar com elas.

Não se “contém” respostas, mas administra-se bem ou mal nossa capacidade de conferir algumas delas, reconhecendo a provisoriedade de nossas formulações. Num mundo carente de respostas, não podemos deixar de formulá-las, não é este o ponto; precisamos, sim, formulá-las com cuidado (para não ser leviano com a dor dos outros), humildade (para reconhecer que não temos jeito pra tudo) e honestidade (pois a melhor resposta pode ser o reconhecimento de que não temos resposta).

Esta semana, enquanto estava ao lado de uma amiga que acabara de perder seu marido, vi-me envolto por essa “incapacidade” – não por não saber o que dizer, mas por saber que qualquer coisa que dissesse teria pouco ou nenhum efeito naquele momento. Num dado instante, uma funcionária entrou no quarto do hospital (onde estávamos) e disse: “Não chore, não fique assim, ele descansou, foi melhor”. Melhor, é mesmo? “Era melhor ter ficado calada”, pensei, e só ter dado um abraço nela, por exemplo. O que a percepção de que “foi melhor” muda a dor de quem perde, de quem fica? Então, fiquei ao lado dela, chorei junto, ouvi suas elaborações de luto. A presença é muito mais significativa que as palavras. Nossa ânsia furtiva por falar, por “dar respostas” nos cega para a beleza e efetividade da simples presença. Talvez Deus não tenha nenhuma palavra específica para “melhorar” minha dor circunstancial, mas, pela fé, eu posso estar certo de que tenho sua presença: misteriosa, silenciosa, incompreensivelmente confortadora…

Perguntas são formuladas no lamento, perguntas que encontram a face fria do silêncio: “Até quando, Senhor? Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até quando ocultarás de mim o rosto? Até quando estarei eu relutando dentro de minha alma, com tristeza no coração cada dia?….” (Salmo 13). Que a resposta possa eu mesmo (e cada um) encontrar, no fundo do ser, soprada pelo Espírito: “No tocante a mim, confio na tua graça”… resposta de um coração choroso, relutante, duvidoso, mas, paradoxalmente, muito confiante. Confiança que não se expressa num otimismo ingênuo, nem em palavras bonitas, mas na certeza quem sabe inquieta, silenciosa, da presença de Deus.

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