Autor: Samuel Fernandes Magalhães Costa
“Você já teve um sonho, Neo, em que você estava tão certo de que era real? E se você fosse incapaz de se acordar desse sonho? Como saberia a diferença entre o mundo do sonho e o real?” (Morfeu questionando Neo, Filme Matrix)
Se vivemos em um mundo que nada mais é do que uma Matrix ilusória, então faço minhas as palavras do poeta João Cabral de Melo Neto, em O Artista Inconfessável: “Fazer o que seja é inútil. Não fazer nada é inútil. Mas entre fazer e não fazer mais vale o inútil do fazer”!
Se vivemos em um mundo inverossímil e somos todos apenas parte de um programa de computador, então desabafo indignado: Triste sorte a nossa, homens desgraçados que somos, para alguma coisa melhor nascemos!
Se a filosofia pós-moderna, o hinduísmo, o budismo e a trilogia Matrix estão corretas em afirmarem que o nosso mundo é irreal, então, meu querido irmão: O niilismo está em alta, Deus morreu, a realidade está em crise e eu também não estou lá muito bem!
A FILOSOFIA PÓS-MODERNA:
Ninguém sabe por certo quando a pós-modernidade começou. Alguns afirmam que sua origem foi no início do século XX, outros dizem que foi na metade do século passado e outros asseguram que foi no início da década de 80.
Mas uma coisa é certa: tem sido afirmado por diversos analistas culturais de que apesar de não sabermos quando esta era começou, estamos de fato vivendo em uma sociedade pós-moderna. Mas, o que é pós-modernidade?
O termo “pós-modernidade” é de ampla definição e foi cunhado pelo famoso historiador britânico Arnold Joseph Toynbee (1889-1975) durante os anos 40s quando escrevia os seus doze volumes intitulados Um Estudo da História. Toynbee era um filósofo católico, porém influenciado pelo hinduísmo.
Segundo Toynbee, a pós-modernidade se caracteriza especialmente pela decadência da cultura ocidental, do cristianismo e tudo o que é absoluto. Sumarizando, no pós-modernismo, morre o cristianismo e sua única verdade absoluta (Jesus Cristo) e tudo passa a ser relativo.
Alguns filósofos franceses também debruçaram-se sobre o tema da pós-modernidade, entre eles, Jean-François Lyotard, Michel Maffesoli e Jean Baudrillard (cujo seu livro Simulacro e Simulação aparece rapidamente no filme Matrix).
Baudrillard afirma que nos tempos pós-modernos ocorrerá o “domínio do simulacro” onde será possível a substituição do mundo real por uma versão simulada tão eficaz quando a realidade. Em outras palavras, a simulação cria um perfeito simulacro de realidade, como um sonho tão vívido que, ao “acordarmos” não conseguimos distinguir entre ilusão e verdade.
A TRILOGIA MATRIX:
A trilogia Matrix está em plena sintonia com a filosofia pós-moderna, com o hinduísmo, com o budismo, entre outras visões de mundo.
A série Matrix é uma fantástica aventura cibernética, recheada de super-efeitos especiais, onde a Terra foi totalmente dominada por máquinas dotadas de inteligência artificial, que passaram a ter domínio sobre a raça humana. E que nós e todo o nosso mundo não passamos de um software, um programa de computador, uma mera ilusão. Resumindo, nessa trilogia, nosso complexo mundo físico com todos seus ecossistemas e nosso sofisticado corpo humano não passam de uma realidade virtual, como um joguinho de computador, semelhante ao The Sims, Sim City ou Age of Empires.
Matrix tem uma forte analogia também com o cristianismo. Existe uma trindade benigna, no filme composta por Trinity (“trindade”, em inglês), Morfeu (“deus dos sonhos” na mitologia grega. Faz o papel de João Batista ao preparar o caminho para o “escolhido” e o de Deus Pai ao assumir a figura paterna de todos que já foram libertos da ilusão) e Neo (do grego “novo”. É o “escolhido” e um substituto para Jesus Cristo).
Na primeira aparição de Neo ficamos logo sabendo qual será a sua função na trilogia. Choi, um cliente de Neo, chega ao quarto de Neo com alguns amigos para pagar e receber uma encomenda de Neo. O Choi agradece a Neo de uma maneira que passa a ser quase uma profecia sobre o futuro de Neo: “Aleluia. Você é meu Salvador, cara. O meu Jesus Cristo pessoal”.
No primeiro filme da série, há mais de dez referências ao Neo como o “eleito” ou o “escolhido”. No primeiro episódio, Neo morreu, ressuscitou e ascendeu aos Céus (isso faz você se lembrar de quem?).
Em Matrix Reloaded, o segundo episódio da série, há uma cena rápida de mais ou menos vinte segundos, quando Neo sai de um elevador na “Cidade de Zion” (“Sião”, em inglês) e é abordado por muitas pessoas de várias faixas etárias, muitas com trajes orientais e trazendo oferendas nas mãos. Trinity diz para Neo: “Eles precisam de você”. Duas mães se aproximam de Neo fazendo alguns pedidos especiais sobre seus filhos. Neo é querido, respeitável e um solucionador de problemas.
Neo move-se com uma rapidez incrível (mais rápido do que o Super-homem ou de qualquer projétil de fogo), salva pessoas prestes a serem mortas, tem uma força incomum, tem capacidade para mover objetos sem tocá-los e, a exemplo de Jesus Cristo, também ressuscitou uma pessoa amada. Pronto: “Neo é o nosso amigo melhor e o nosso salvador”, essa é uma das mensagens sutis que a trilogia passa nas suas entrelinhas.
Porém, a principal mensagem da trilogia é um novo conceito da “verdade”. Nessas películas cinematográficas, a “verdade” é que esse mundo é apenas uma matrix ilusória. Observe um diálogo entre Morfeu e Neo e veja o que é a “verdade”:
Neo: O que é Matrix?
Morfeu: Você que saber o que é Matrix? Matrix está em toda parte […] é o mundo que acredita ser real para que não perceba a verdade.
Neo: Que verdade?
Morfeu: Que você é um escravo, Neo. Como todo mundo, você nasceu em cativeiro. Nasceu em uma prisão que não pode ver, cheirar ou tocar. Uma prisão para a sua mente.
Quando Neo vai consultar o oráculo, ele encontra um menino com trajes budistas que consegue entortar colheres sem tocá-las. Observe no diálogo o que é a “verdade”:
Menino: Não tente dobrar a colher. Não vai ser possível. Em vez disso tente apenas perceber a verdade.
Neo: Que verdade?
Menino: Que a colher não existe.
Neo: A colher não existe?
Menino: Então verá que não é a colher que se dobra, apenas você.
Para a série Matrix, a “verdade” é que tudo é niilismo e ficamos sem saber quem é o Criador e quem é a criatura.
Diálogo entre Neo e Morfeu
O CRISTIANISMO:
Cristo é real (Colossenses 2:17). Não existe faz-de-conta e nem ilusão em Cristo Jesus. Digo mais: a realidade de Cristo é dura, cruenta e exigiu derramamento de sangue na cruz para a remissão dos nossos pecados.
O evangelista João descreveu: Jesus “estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por meio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens” (João 1:2-4).
Pense bem no que está escrito nessa passagem. Jesus não é apenas o Criador de todas as coisas juntamente com Deus Pai, mas especialmente Jesus é VIDA. Pense bem: sem a vida só resta a morte. O período compreendido entre o nascimento e a morte, que chamamos de existência, pertence ao Senhor Jesus Cristo. O fato de vivermos, o prazer de termos sinais vitais, é fruto do maravilhoso Jesus. Desculpe a redundância, mas a existência só existe porque Jesus existiu primeiro. Afirmar que Jesus é uma razão para viver é minimizar o Seu senhorio; é pouco. Verdadeiramente Jesus é a razão para viver. Jesus é o único “show da vida”!
Analisemos outra passagem bíblica sobre a soberania e o senhorio de Jesus Cristo: “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação. Pois nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. E ele é a cabeça do corpo, a igreja; é o princípio, o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. Pois foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus” (Colossenses 1:15-20).
Pense bem no que Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, está dissertando sobre Jesus Cristo: Todas as coisas subsistem por causa de Cristo. Todo o mundo visível e o invisível – ambas as dimensões (a física e a espiritual) existem por causa de Cristo. Os hadrons e quarks subsistem pelo poder d’Ele. Sem Jesus, todas as coisas cairiam aos pedaços. A vida (o nosso próximo batimento cardíaco e a nossa próxima respiração) está nas mãos do Senhor Jesus Cristo. Jesus é o máximo e detém um poder inigualável. Jesus é o verdadeiro “espetáculo do planeta Terra”!
Queridos, sem Jesus, restam a filosofia pós-moderna, o hinduísmo, o budismo e a trilogia Matrix para nos consolar. Consolo esse baseado em uma ilusão.
A CONCLUSÂO:
Irmãos, quando o indivíduo não conhece o original, o real, o genuíno, o verdadeiro, ele vai acreditar no falso como se fosse o verdadeiro.
Imagine as pessoas que tiveram a oportunidade de conhecer pessoalmente Michelangelo, viram-no pintando e esculpindo obras maravilhosas que ficariam para a posteridade. Ou até mesmo, aquelas pessoas que não tiveram a oportunidade de vê-lo pessoalmente, mas estudaram e estudam com afinco seus feitos. Agora suponha que surja alguém lá no Nepal afirmando que possui a verdadeira escultura de “Davi”, de Michelangelo, e que aquela exposta no Museu da Galleria dell’Accademia, em Florence, Itália, seja falsa e não passa de um simulacro.
O que você acha que acontecerá? As pessoas que conhecem bem a escultura verdadeira dificilmente irão acreditar na história do “Davi” do Nepal. Pois, uma fez que o indivíduo conhece o real, ele facilmente reconhece que o outro é o falso e o infiel. Porém, se alguém não conhece a única e verdadeira escultura, ele facilmente será enganado e iludido pela a falsa verdade.
Jesus é assim, a única verdade! Ele disse: “Eu sou a verdade” (João 14:6) e “a verdade que liberta” (João 8:32).
A trilogia Matrix e a filosofia pós-moderna, além de fazerem parceria com religiões orientais, fazem também com o Pilatos.
O registro em João 18:37-38, quando Jesus dialogava com Pilatos, diz: “Tu dizes que sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz”. Nesse exato momento, Jesus é interrompido por Pilatos com uma pergunta que era mais uma tentativa de alfinetar Jesus. É aí que Pilatos torna relativo a única verdade de Jesus com o seu célebre questionamento: “Perguntou-lhe Pilatos: Que é a verdade?”. Na seqüência, dá às costas para Jesus e se dirigi para a multidão. Pilatos passou batido pela vida, sem reconhecer Jesus como a única verdade.
Meus queridos, a medida que afrouxamos a teologia e aceitamos outras verdades além de Jesus Cristo, acabamos caindo no engodo de vãs filosofias humanas. Ficamos à deriva, passamos assim a aceitar e discutir “a minha verdade” e “a sua verdade” e não mais a única verdade que é Jesus Cristo.
Quando o homem não conhece Jesus como a única verdade, passa a criar outras supostas verdades filosóficas para se adequar ao seu ponto de vista.
Dar às costas para a Verdade e ouvir o clamor das massas, dos filósofos e fazedores de opinião da época, é o que os crentes da pós-modernista cidade de Corínto andavam fazendo. Foi em Corínto que Paulo dissertou sobre a excelência da sabedoria divina sobre a humana. A recomendação paulina aos coríntios continua vívida para a nossa atual cultura pós-modernista: “Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (I Coríntios 3:11). Amém!
Extraído de http://www.ipb.org.br/1_3/upload/fullnews.php?id=5
Faça um comentário